29. TMZ: As férias de Nia Kaled.

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A porta do banheiro se abriu, vapor subindo pelo chão enquanto Joel saia. O cabelo estava molhado, caindo em cachos nos olhos enquanto ele arrumava a blusa de mangas compridas no corpo. Soltei um suspiro ao vê-lo, esperando que meu coração desse pulo, como sempre fazia quando eu olhava para ele. Mas nada aconteceu.

— Já achou seu cartão? — perguntei, esfregando minhas mãos uma na outra. Ele havia perdido o cartão de acesso ao quarto e ainda não tinha achado, estávamos preocupados de que algum estranho achasse.

— Não. Vou avisar ao hotel que perdi, e pedi para trocarem o cadastro.

— É melhor...

Joel foi até a janela do quarto e a fechou, em seguida se virando para mim. Nós não tínhamos tocado no assunto de termos transado, e nenhum dos dois parecia a fim de fazer isso. Mas não era esse o motivo por eu ter vindo vê-lo.

— Nia, o que foi? — perguntou, atravessando o quarto. Ele puxou a poltrona que tinha ao lado da cama e a colocou em minha frente, se sentando.

Respirei fundo, desviando os olhos das minhas unhas e levantando o rosto, olhando para Joel.

— A gente precisa conversar.

— Sim, precisamos... — Ele pegou minhas mãos, passando os dedos pelos meus, acariciando minha pele. — Uma parte minha quer que você diga o mesmo que eu vou dizer, e a outra que seja algo completamente diferente.

— Me deixa começar, por favor — pedi, fechando os olhos. Eu sabia que não teria coragem de dizer o que precisava se ele dissesse algo que pudesse me influenciar antes. Abri os olhos e o encarei. — Eu ainda me lembro de quando nos conhecemos, e fomos para uma balada em New York. De estarmos bêbados falando sobre como a vida por mais sufocante que seja, continua sendo bela, e sendo a única vida que vamos viver. Também me lembro de você desabotoando a camiseta, e se eu tivesse um pouco mais bêbada, teria lhe beijado aquele dia mesmo, naquela balada. Mas hoje eu sei que foi melhor eu não ter feito isso, porque a coisa mais provável a acontecer seria nós termos ficado uma noite e nunca mais nos falarmos. Se fosse assim, eu nunca teria tido sua amizade.

Fiz uma pausa, pensando nas palavras certas. Fechei os olhos, sentindo o cheiro dele me rodear e seus dedos sobre os meus. Me inclinei para a frente, minha testa encostando na dele, e continuei:

— Porque entre tudo o que aconteceu, a coisa pela a qual eu mais sou grata e mais tenho medo de perder, é a sua amizade.

— Eu poderia dizer que queria que você soubesse o quanto essas palavras me machucam, mas você já sabe. — Soltando minhas mãos, ele se levantou, dando alguns passos e ficando de costas para mim.

— Joel...

— Não te culpo, sabia? — Se virou para mim. — Por ter escolhido Chris. Levantei-me e fui até ele. — Eu nunca poderia aceitar ser feliz ao seu lado à custa da tristeza dele.

Eu nunca poderia aceitar ser feliz ao seu lado à custa da tristeza dele.

Uma parte minha quer que você diga o mesmo que eu vou dizer, e a outra que seja algo completamente diferente.

Então nós estávamos dizendo a mesma coisa...

Parei em sua frente e ele se inclinou, novamente encostando nossas testas. Seus dedos subiram para minha bochecha, enquanto eu fechava os olhos sentindo sua caricia.

— Tem tantas coisas que eu queria te dizer... Coisas que você já deve ter pensado tantas vezes, assim como, que talvez seja melhor deixarmos apenas em pensamento.

Ficamos em silêncio, apesar de eu saber que a mente dele, assim como a minha, estava longe de estar quieta. Era esse um dos motivos de eu amar Joel: ele me entendia sem que eu precisasse dizer algo. Seus pensamentos eram os mesmos que eu meu, e dizer o que pensávamos apenas nos machucaria. De fato, era mais fácil deixar tudo em pensamento.

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