Não seria necessário tudo isto

54 4 0
                                    

- "Deve ser o Nick McCann. Bom rapaz, boa família. O pai dele é proprietário da loja de material desportivo logo à entrada da cidade. Ganha a vida de modo bastante folgado com todos os turistas que passam aqui."
- "Conheces a família Bieber?" - Perguntei de modo hesitante.
- "A família do Jeremy Bieber?! Com certeza. Jeremy é um grande homem."
- "O filho dele não parece bater muito bem da cabeça, tem fama de uma coisa e age esquesitamente comigo de outra."
O meu pai nesse momento surpreendeu-me ao parecer zangado.
- "Não devias ligar assim tanto aos boatos e aos rótulos que fazem. Ficas sabendo que o pai dele é um grande homem e eu tenho-o em grande consideração."
Foi o discurso mais estranho que mais ouviria, o meu pai devia sentir-se ferosamente afetado pelo quer que fosse que as pessoas comentavam.
Caímos novamente no silêncio ao terminamos a pizza. Ele levantou o prato em que continha a mesa enquanto eu me preparava para lava-lo.
Voltou para diante da televisão e, depois de eu ter acabado de lavar o prato, dirigi-me de má vontade ao andar superior para me dedicar aos meus trabalhos de casa de matemática.
Finalmente, tive uma noite calma. Adormeci depressa, sentindo-me exausta.
Durante o resto da semana, não se deram grandes acontecimentos. Habituei-me à rotina das aulas. Quando chegou sexta-feira, eu já era capaz de reconhecer, se não mesmo chamar pelo nome, quase todos os alunos da escola. Na aula de ginástica, todos os membros da minha equipa aprenderam a mão me passar a bola e a colocar -se rapidamente à minha frente se a equipa adversária tentasse tirar proveito da minha fraqueza. Eu de bom grado, não me atravessava no caminho deles.
Justin Bieber não voltou à escola.
Todos os dias, eu permanecia ansiosamente atenta até os restantes amigos do Bieber entrarem na cantina sem ele. Então, podia sossegar e participar na conversa que se desenrolava durante a hora de almoço. Estava ansiosa sobretudo sobre uma viagem ao parque marítimo que teria lugar dentro de duas semanas e Nick estava a organizar. Fui convidada e acelera a ir, mais por delicadeza do que por vontade.
Quando chegou sexta-feira, eu já me sentia perfeitamente à vontade ao entrar na aula, sem sequer me preocupar com os lugares livres ou ocupados e assim não estando preocupada com a presença de Justin. Tanto quanto sabia, desistira da escola. Tentei não pensar nele, mas não conseguia eliminar de vez a grande hipótese de ele não vir por ser eu ser a responsável disso, por mais ridículo que fosse.
O meu fim de semana, mais uma vez, passado sem a minha mãe. A mesma fez uma viagem de trabalho (negocios) que demorava cerca de 2 semanas. Então só me restava o meu querido pai, que sinceramente me questiono como, com tanta ausência já não desistiu.
Procedi então às limpezas da casa, adientei os trabalhados da escola e escrevi mensagens de texto à minha mãe.
A chuva manteve-se fraca durante o fim-de-semana, silenciosa e, por conseguinte, eu consegui dormir bem.
As pessoas cumprimentaram-me ao sair do autocarro, na segunda-feira de manhã. Não sabia o nome de todas, mas retribuia o aceno e sorria a toda a gente. Nesta manhã, estava mais frio, mas, felizmente não chovia. Na aula de inglês, Nick sentou-se ao meu lado. Foi-nos dado um teste surpresa. Que por sorte, era extremamente fácil.
Na verdade, eu sentia-me bastante à vontade do que pensara. Mais à vontade do que alguma vez esperara sentir-me nesta nova turma.
Quando saímos da aula, o ar estava repleto de farrapos brancos que giravam num torvelinho. Conseguia ouvir as pessoas gritarem de forma empolgada umas para as outras. O vento açoitava-me a face e o nariz.
- "Ena!" - Exaclamou Nick - "Está a nevar."
Olhei para os pequenos pompons de algodão que estavam a acumular-se ao longo do passeio e a rodopiar erraticamente diante do meu rosto.
- "Que horror! Neve. Lá se vai o meu bom dia."
Ele pareceu surpreendido.
- "Não gostas de neve?"
- "Não. Significa que está demasiado frio para chover. É óbvio. Além disso, pensei que devia cair flocos, tu sabes, cada um é único e tudo isso. Estes assemelham-se apenas às extremidades dos cotonetes."
- "Nunca assistisse à queda de neve?" - Perguntou ele incredulamente.
- "Claro que já assisti - Defendo-me.
Nick riu-se. Então uma bola grande e mole de neve gotejante atingiu-o na nuca. Ambos nos voltamos para ver de onde vinha. Eu desconfiei de Shawn, que se afastava, de costas voltadas para nós, caminhando em direção errada para a aula seguinte. Nick, pelos vistos, tinha a mesma opinião. Inclinou-se e começou a formar um monte com aquela macia polpa branca.
- "Encontramo-nos ao almoço, está bem?"
Continuei a andar enquanto falava:
- "Quando as pessoas começam a arremessar substâncias húmidas, abrigo-me."
Ele limitou-se a acenar com a cabeça, tendo os olhos pousados na figura em retirada de Shwan.
Ao longo da manhã, todos taragarelaram empolgadamente a respeito da neve. Eu mantive-me calada.
Caminhei de modo vigilante até à cantina, na companhia de Cristiana. Bolas polpa macia voavam por toda a parte. Eu mantive uma capa nas minhas mãos, pronta para usá-la como escudo de protecção se tal fosse necessário. Cristiana achou-me hilariante, mas algo na expressão do meu rosto impedia de ser ela própria a lançar-me uma bola de neve.
Nick alcançou-nos quando entramos, rindo, com gelo a derreter-se no cabelo. Ele e Cristiana conversavam animadamente acerca da luta na neve quando entramos na fila para comprar comida. Olhei para a mesa do canto por uma questão de hábito e, em seguida, fiquei paralisada no local onde me encontrava. Estavam cinco pessoas sentadas à mesa.
Cristiana puxou-me pelo braço.
- "Sim? Selena? O que desejas?"
Baixei o olhar, tinha as orelhas a ferver. Não tinha qualquer motivo para me sentir inibida, relembrei a mim mesma. Não fizera nada de errado.
- "O que se passa com a Sell?" - Perguntou Nick a Cristiana.
- "Nada" - Respondi eu - "Hoje, vou tomar apenas um refrigerante."
Voltei para o final da fila.
- "Não tens fome?" - Perguntou Cristiana.
- "Na verdade, sinto-me um pouco enjoada." - Declarei, com os olhos ainda pregados no chão.
Esperei que eles recebessem a comida e, posteriormente, segui-os até uma mesa, com os olhos pousados nos meus pés.
Sorvi o meu refrigerante lentamente, com o estômago às voltas. Nick perguntou duas vezes, com desnecessária preocupação, como é que eu me sentia. Disse-lhe que se tratava de algo sem importância, mas interroga-me se deveria fazer uma encenação, escapar até à enfermaria e ali permanecer durante a hora seguinte.

Continua...

Luz E Escuridão Onde histórias criam vida. Descubra agora