És incrível

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Todos nos observaram enquanto caminhávamos juntos em direção à nossa bancada do laboratório. Reparei que ele já não posicionava a cadeira de forma a sentar-se tão longe de mim, e sentava-se a meu lado de modo bastante próximo, com os nossos braços quase a tocarem-se.

O professor Jorge entrou, então, de costas na sala, que magnífico sentido de oportunidade ele tinha, puxando uma estrutura de metal sobre rodas que sustentava um televisor e um videogravador ultrapassados e de aspeto pesado. Era dia de filme, quase se vislumbrava em clima de elevação na aula.

O professor Jorge introduziu a cassete no relutante videogravador e diriugiu-se à parede para apagar as luzes.

Então, quando a sala ficou às escuras, tomei de repente profunda consciência de que Justin estava sentado a menos de 20cen de distância de mim. Fiquei aturdida com a inesperada eletricidade que me perpassou, admirada com a possibilidade de me tornar mais sabedora a seu respeito do que já era. Um louco impulso no sentido de estender a mão e tocá-lo, de acariciar o seu rosto perfeito uma única vez na escuridão, quase me esmagou. Cruzei os braços firmamente junto ao peito, com as mãos a fecharem-se, de punhos cerrados. Estava a perder o juízo.

O genérico de abertura iniciou-se, iluminando a sala de forma simbólica. Os meus olhos, de modo próprio, tremularam na direção dele. Sorri timidamente ao aperceber-me de que a sua postura era idêntica a minha, desde os punhos cerrados debaixo dos braços aos olhos á espreitarem-me de lado. Ele retribuiu-me com um sorriso mais largo, com os olhos, de algum modo, a conseguirem mostrar-se ardentes, mesmo na escuridão. Desviei o olhar antes que a minha respiração começasse a ficar ofegante. Era absolutamente ridículo que eu me sentisse tonta.

Aquela hora pareceu muito longa. Não consegui concentrar-me no filme, não sabia sequer de que é que se tratava. Tentei em vão descontrair-me, mas a corrente elétrica que parecia ter origem algures no corpo dele nunca cedeu. De vez em quando, permitia a mim mesma um olhar rápido na sua direção, mas também ele nunca parecia descontrair-se. A avassaladora ânsia de lhe tocar também se recusava a esmorecer e eu, por prevenção, apertei os punhos contra as costelas até os dedos me doerem devido ao esforço.

Soltei um suspiro de alívio quando o professor Jorge voltou a acender as luzes no final da aula e estiquei os braços, fletindo os dedos rígidos. Justin soltou um riso abafado a meu lado.

- Bem, foi interessante - murmurou ele.

A sua voz estava sombria e os olhos cautelosos.

- Hum! - foi tudo o que consegui dizer em resposta.

- Vamos? - perguntou, erguendo-se logo.

Quase soltei um lamento. Estava na hora da aula de educação física. Levantei-me com cuidado, preocupada com a possibilidade do meu equilíbrio ter sido afetado pela nova estranha e intensidade que existia entre nós.

Acompanhou-me à aula seguinte em silêncio e deteve-se junto à porta, virei-me para me despedir. O seu rosto assustou-me. Estava com uma expressão abatida, quase de sofrimento, e tão ferozmente bela que a dor provocada pela vontade de lhe tocar me assomou de forma intensa como antes. A minha despedida ficou presa na garganta.

Levantou a mão, hesitante, com um conflito a assolar os seus olhos e, então, acaraciou rapidamente a maçã do meu rosto em toda a sua extensão com as pontas dos dedos. A sua pele estava gelada como sempre, mas o seu toque queimou.

Deu meia volta sem proferir uma só palavra e afastou-se de mim a passos largos.

Entrei no ginásio, atordoada e com passo vacilante. Deixei-me ir até ao balneário, mudando de roupa num estado semelhante a transe, apenas vagamente consciente de que havia outras pessoas ao meu redor. Só cai inteiramente na realidade quando me entregaram uma raqueta. Está não era pesada, mas parecia estar pouco segura na minha mão. Conseguia ver alguns alunos da turma a olharem-me furtivamente. O treinador Paulo mandou-nos formar equipas de dois elementos.

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