Estás bem?

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Em todo o vasto mundo sombrio dos fantasmas e dos demônios, não existe figura tão terrível, figura tão temida e abominada, mas, ao mesmo tempo, paramentada de tal fascínio temeroso como o vampiro, que não é fantasma, nem demônio, mas que, todavia, compartilha das índoles tenebrosas e possui os misteriosos e terríveis atributos de ambos. - Rev. Montague Summers.

Li cuidadosamente mais descrições, procurando algo que não me parecesse estranho, já para não dizer implausivel. Ao que parecia a maioria dos mitos relacionados com vampiros centravam-se em belas mulheres no papel de demônios e em crianças no de vítimas, parecia também tratar-se de construções do espírito criadas para fornecer uma explicação satisfatória para as elevadas taxas de mortalidade de crianças de pouca idade e proporcionar aos homens um a desculpa para a infidelidade.
Existia pouca informação coincidente das histórias de Abel ou com as minhas próprias observações.
Velocidade, força, beleza, pele clara, olhos que mudam de cor e, depois, os critérios de Abel, bebedores de sangue, inimigos do lobisomem, de pele fria e imortais. Havia muito pouco mitos que correspondiam a um só factor que fosse.

Exasperada, desliguei a ficha do computador da fonte de alimentação, não esperando para encerra-lo devidamente. Através da minha irritação, sentia um embaraço avassalador. Tratava-se de uma tolice tão grande. Estava sentada no meu quarto, a realizar uma pesquisa sobre vampiros. O que se passava comigo? Cheguei à conclusão de que a maior parte da culpa cabia a minha moradia em Forks.

Tinha que sair de casa, mas não havia nenhum sítio a onde eu desejasse ir que não implicasse uma viagem de três dias de automóvel. De qualquer modo, calcei as minhas botas, indecisa quanto à direção em que seguiria, e desci as escadas. Vesti um casaco sem ver como estava o tempo e saí porta fora.
O céu estava carregado de nuvens, mas ainda não chovia. Ignorei a minha pick-up e comecei a dirigir-me para Leste, a pé, atravessando o pátio em direção à sempre invasora floresta. Não demorou muito até que eu estivesse suficientemente embrenhada nela, a ponto de a casa e a estrada se tornarem invisíveis, e de o único som ser o ruído da terra húmida sob os meus pés e os súbitos gorjeios dos gaios.
Depois de uma longa caminhada, voltei pra trás. Fazendo o mesmo trajeto mas desta vez pelo lado contrário. Agora, encontrava-me mais calma e serena.

Cris conduzia mais depressa do que o chefe, e, por isso, chegamos a Por Angels por volta das 16h da tarde. Já passava algum tempo desde a última vez que sai à noite só com raparigas.
Ouvimos lamuriosas músicas Rock enquanto a Cristiana tagarelava acerca dos rapazes com quem nos dávamos. O jantar de Cristiana e Nick correu muito bem e ela esperava que, até sábado à noite, já tivessem evoluído para a fase do primeiro beijo. Sorri para dentro, satisfeita. A Ana estava mais ou menos feliz por ir ao baile, mas não estava realmente interessada em Shwan. Cristiana tentou levá-la a confessar qual era o rapaz que fazia o seu gênero, mas eu interrompi-as com uma pergunta sobre vestidos, de modo a poupa-la. Ana olhou agradecida na minha direção.
Port Angels era uma bela armadilha para turistas, mas Cristiana e Ana conheciam-na bem, não tencionando, portanto, perder tempo. Cris dirigiu-se imediatamente para a única loja da cidade, que ficava a algumas ruas de distância da zona da baía digna de olhar dos visitantes.
Tanto Cristiana como Ana pareceram surpreendidas e quase incrédulas quando lhes disse que nunca teria ido a um baile.
- Nunca foste sequer com um namorado ou algo de gênero? - perguntou Cris de forma duvidosa al entrarmos pela porta da frente da loja.
- A sério - tentei convencê-la, não querendo confessar as minhas dificuldades relacionadas a dança - Nunca tive um namorado nem nada parecido. Raramente saio.
- Porque não? - perguntou Cristiana.
- Ninguém me convidava - respondi com sinceridade.
Ela parecia cética.
- Aqui, há quem te convide para sair - relembrou-me ela - E tu recusas.
Encontravamo-nos agora na secção juvenil.
- Bem, exceto o Marcos - corregiu a Ana tranquilamente.
- Desculpa? O que disseste? - perguntei com voz arquejante.
- O Marcos contou a toda gente que vai acompanhar-te ao baile - informou-me Cristiana com um olhar desconfiado.
- Contou o quê?!
A minha voz soava como se eu estivesse a sufocar.
- Disse-te que não era verdade - segredou Ana para Cristiana.
Fiquei calada, estando ainda perdida num sentimento de escândalo que começava a transformar-se em irritação. Tínhamos, porém, encontrado as prateleiras dos vestidos e tínhamos agora trabalho a fazer.
- É por isso que Lauren não gosta de ti - comentou Cristiana, soltando risinhos, enquanto nós remexiamos as roupas.
Rangi os dentes.
- Achas que, se eu atropelasse com a minha pick-up, ele deixava de se sentir culpado pelo acidente? Que talvez desistisse de me compensar e desse o assunto por encerrado?
- Talvez - disse Cristiana, soltando um riso abafado - Se for esse o motivo por que ele está a agir dessa forma.
A variedade de vestidos não era muito grande, mas cada uma delas encontrou qualquer coisa para experimentar. Sentei-me numa cadeira baixa mesmo no interior do gabinete de prova, junto do espelho de três faces, tentando controlar a raiva.
Depois de dar uma opinião a ambas sobre os vestidos, dirigimo-nos a seção dos sapatos e acessórios.
Enquanto elas experimentavam artigos sucessivamente, eu limitava-me apenas a olhar e a dar a minha opinião, não estando na disposição para fazer compras pra mim, embora precisasse, de facto, de sapatos novos.
O entusiasmo relativamente à saída com as raparigas estava a desvanecer-se na sequência do meu aborrecimento com Marcos, deixando espaço para que a melancolia voltasse a instalar-se.
- Ana? - principiei, hesitante, enquanto ela experimentava um par de sapatos de salto alto cor de rosa.
- Sim? - respondeu ela enquanto esticava a perna, torcendo o tornozelo, de modo a poder ter um melhor ângulo de visão do sapato.
- Gosto desses.
- Acho que vou comprá-los, apesar de não condizirem com mais nada além do vestido - refletiu ela.
- Oh, compra, estão em saldo - incentivei-a.
Ela sorriu, voltando a colocar a tampa numa caixa que continha sapatos num tom de branco.
Tentei novamente.
- Hum... Ana...
Ela ergueu o olhar com curiosidade.
- É normal que os Bieber... - mantive os olhos pregados nos sapatos - Estejam muitas vezes ausentes da escola?
Falhei miseravelmente na minha tentativa de demonstrar desprendimento.
- É. Quando o tempo está agradável, eles partem muitas vezes em viagem, com a mochila às costas... até o médico. São todos grandes adeptos do ar livre - revelou-me ela tranquilamente, examinando também os seus sapatos.
Não fez uma única pergunta, ao contrário do que acontecia com Cristiana, que teria debitado centenas delas. Começava realmente a gostar de Ana.
- Ah!
Não insisti no assunto, pois Cristiana voltou para nos mostrar as jóias de imitação a diamante.
Tencionavamos ir jantar a um pequeno restaurante italiano situado na marginal, mas a compra do vestido não demorou tanto tempo de como estávamos à espera. Cris e Ana iam levar as suas compras para o carro e, depois, caminhar até à baía.
Disse-lhes que me encontrava com elas no restaurante dentro de uma hora, queria procurar uma livraria. Ambas estavam dispostas a fazer-me companhia, mas preferi que fossem divertir-se. Não faziam ideia do quanto podia ficar excitada perto de livros.
Partiram em direção ao carro, conversando alegremente, e eu encaminhei-me no sentido em que Cris me tinha indicado.
Não tive qualquer dificuldade a encontrar a livraria, mas está não era a que eu procurava. Não cheguei sequer a entrar. Devia haver uma livraria normal na cidade que não tivesse uma mulher com ar agorrante como poderia ver através do vidro.

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