Fixei o olhar na ondulação encrespada depois de ele ter respondido, não sabendo ao certo o que o meu rosto expressava.
- Estás com pele de galinha - riu-se com satisfação.
- És um bom contador de histórias - elogiei-o, olhando ainda fixamente para as ondas.
- Mas é uma coisa de loucos, não é? Não admira que o meu pai não queira que nós falemos disto a ninguém.
Ainda não conseguia controlar suficientemente a minha expressão facial para olhar pra ele.
- Não te preocupes, eu não te denuncio.
- Suponho que apenas violei o tratado - riu-se.
- Este segredo irá comigo para o túmulo - prometi e, em seguida, senti um calafrio.
- Agora a sério, não comentes nada com o Ricardo, o teu pai. Ele ficou bastante enfurecido quando soube que alguns de nós não iam ao hospital desde que o Dr. Jeremy começou a trabalhar lá.
- Não comentarei, claro que não.
- Então, pensas que nós somos uma súcia de indígenas supersticiosos ou quê? - perguntou ele num tom jocoso, mas com um laivo de preocupação.
Eu ainda não desviara o olhar do mar.
Assim, voltei-me e sorri-lhe com a maior normalidade possível.
- Não, mas penso que tens muito jeito pra contar histórias assustadoras. Ainda estou com pele de galinha, vês?
Mostrei o meu braço.
- Porreiro! - disse ele, sorrindo.
Então, o ruído das rochas da praia a baterem umas nas outras alterou-nos para o facto de que alguém se aproximava. As nossas cabeças viraram-se rapidamente, ao mesmo tempo, e avistamos, então, Nick e Cristiana a acerca de 50m de distância, caminhando na nossa direção.
- Aí estás tu, Sell - exclamou Nick aliviado, agitando o braço sobre a sua cabeça.
- É o teu namorado? - perguntou Abel, alertado pelo laivo de ciúme patente na voz de Nick.
Fiquei admirada por tal ser tão óbvio.
- Não, de modo algum - sussurrei.
Estava tremendamente grata a Abel e anciosa por agradar-lhe o mais possível. Pisquei-lhe o olho, voltando-me cuidadosamente de costas para Nick para o fazer. Ele sorriu, elevado pelo meu inepto galanteio.
- Então, quando eu tirar a carta de condução... - principiou.
- Devias ir visitar-me a Forks. Podíamos passar algum tempo juntos um dia destes.
Senti-me culpada ao proferir tais palavras, tendo consciência que apenas estava a usar Abel, mas simpatizei, de facto, com ele. Era uma pessoa de quem era fácil ficar amigo.
Nick já tinha chegado junto de nós, encontrando-se Cristiana alguns passos atrás. Eu conseguia ver os olhos dele a examinarem Abel e mostrando satisfação patente a sua óbvia tenra idade.
- Onde tens estado? - perguntou, ainda que a resposta estivesse mesmo diante dele.
- Abel estava apenas a contar-me algumas histórias nativas - mencionei - Foi realmente interessante.
Lancei um sorriso caloroso a Abel e ele retdibui-mo com um sorriso rasgado.
- Bem - Nick deteve-se, reavaliando cuidadosamente a situação ao observar a camaradagem que existia entre nós - Estamos arrumar as coisas, parece que vai chover em breve.
Todos olhamos para o céu carregado. De facto, parecia mesmo que a chuva estava prestes a cair.
- Muito bem - concordei, levantando-me de um salto - Eu vou já.
- Foi bom ver-te novamente - disse Abel, tendo eu percebido que ele estava a provocar Nick um pouco.
- Foi, de facto, muito bom. Da próxima vez que o meu pai vier visitar o Billy, eu também virei - prometi.
O seu sorriso rasgou-se-lhe no rosto.
- Isso seria porreiro.
- E obrigada - acrescentei com um ar sério.
Coloquei o capuz enquanto caminhávamos pesadamente sobre as rochas em direção ao pequeno parque de estacionamento. Começavam a cair algumas gotas, deixando manchas negras nas pedras em que se pousavam. Quando chegamos junto ao carro de Nick, os outros já estavam a colocar tudo novamente dentro do carro. Entrei para o banco de trás, ao lado de Ana e Marcos, comunicando que já tivera a oportunidade para viajar no lugar de pendura.
Ana limitava-se a olhar, pelo vidro, para a tempestade que se avolumava e Lauren contorcia-se no lugar central para chamar a atenção do Marcos, pelo que eu podia ver simplesmente recostar a cabeça no banco, fechar os olhos e esforçar-me arduamente por não pensar.Disse ao meu pai que tinha muitos trabalhos de casa pra fazer e que não queria comer nada. Na televisão, estava a ser transmitido um jogo de basquetebol a propósito do qual ele estava entusiasmado, ainda que, evidentemente, eu não fazia a menor ideia do que tinha de especial, não se tendo ele, portanto, apercebido de nada invulgar no meu rosto ou no meu tom de voz.
A minha mãe, mais uma vez não se encontrava em casa o que mentalmente me fez questionar, se realmente ela ainda vivia aqui.
Assim que cheguei ao meu quarto, tranquei a porta.
Remexi na secretária até encontrar os meus velhos auscultadores e liguei-os ao meu pequeno leitor de CD.
Peguei num CD aleatório. Tratava-se de uma das minhas bandas favoritas.
Inseri-o no leitor e estendi-me na cama. Carreguei na tecla "play" e aumentei o volume até me ferir os tímpanos. Fechei os olhos, mas a luz continuava a infiltrar-se, tendo eu, por conseguinte, colocado uma almofada sobre a metade superior do rosto.
Concentrei-me com muito cuidado na música, tentando compreender a letra. Resultou. As batidas impossiblitaram-me de pensar, o que constituía o objetivo do exercício.
Ouvi o CD uma e outra vez, até conseguir cantar todas as músicas, antes de, por fim, adormecer.A luz do meu quarto ainda estava acesa e eu estava sentada na cama, completamente vestida e com os sapatos calcados.
Olhei desorientada, para o relógio que se encontrava sobre a minha cômoda. Eram 05:30 da madrugada.
Gemi, deixei-me cair de costas e virei-me, pousando a cara e descalçando as botas apenas com os pés. No entanto, estava demasiado desconfortável para conseguir dormir. Voltei a virar-me e desabotei as calças de ganga, despindo-as desajeitadamente ao tentar manter-me na posição horizontal. Conseguia sentir a trança do meu cabelo, uma incomoda saliência que se estendia ao longo da parte de trás do meu crânio. Virei-me de lado e arranquei o elástico, passando rapidamente os dedos pela trança.
Voltei a pousar a almofada sobre os meus olhos.
Como é evidente, nada disso adiantou. O meu subsconciente mostrava-me imagens que eu tentava desesperadamente evitar. Mas agora, teria de enfrenta-las.
Sentei-me, e a minha cabeça girou num instante, enquanto o sangue fluía no sentido descendente. Em primeiro lugar, o mais importante, pensei comigo mesma, disposta a adiar ao máximo o assunto. Peguei na bolsa que continha os meus produtos de higiene pessoal.
O duche, porém, não durou de modo algum o tempo que eu esperava que durasse. Mesmo levando algum tempo a secar o cabelo, depressa esgotei as tarefas a realizar na casa de banho.
Embrulhada numa toalha, voltei pro meu quarto. Não sabia se o meu pai ou a minha mãe estavam a dormir ou se já teriam saído. Fui espreitar à janela e o carro de ambos desapareceram. O meu pai deveria ter ido pescar, a minha mãe... bem a minha mãe, nem tão pouco saberia se tinha passado a noite em casa. De algo modo, preferi nem pensar sobre o assunto.
Vesti o meu fato de treino confortável e, em seguida, fiz a cama. Não podia adiar mais aquele assunto.
Dirigi-me à secretária e liguei o meu velho computador.
Detestava aceder à internet ali. O meu modem estava tristemente ultrapassado e o meu serviço gratuito tinha uma qualidade abaixa da média, só a ligação demorou tanto tempo que resolvi buscar uma taça de cereais enquanto esperava.
Comi lentamente, mastigando cada colherada com cuidado.
Quando terminei, lavei a taça e a colher, limpei-as e arrumei-as.
Os meus pés arrastavam-se enquanto eu subia as escadas.
Com um suspiro, voltei-me pro meu computador. Evidentemente, o ecrã estava pejado de janelas de publicidade. Sentei-me na minha rígida cadeira articulada e comecei a fechar todas as pequenas janelas. Acabei por conseguir aceder ao meu motor de busca preferido. Fechei mais algumas janelas de publicidade e, em seguida, digitei uma palavra.
Vampiro.
Como é óbvio, a pesquisa demorou um tempo longo. Quando os resultados surgiram, havia muito para esquadrinhar.
Então, encontrei um sítio promissor - Vampiros de A a Z. Esperei pacientemente que carregasse, clicando rapidamente para fechar cada janela de publicidade que surgia no ecrã. Por fim, a imagem ficou completa. Fundo branco simples com texto preto. Fui saudada por duas citações na página inicial:Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Luz E Escuridão
Romance"Nunca refletia longamente sobre a forma como morreria, ainda que, ao longo dos meses anteriores, tivesse tido de sobra para tal, mas mesmo que o tivesse feito, jamais teria imaginado que seria assim. Olhei fixamente para o lado oposto da longa sal...