Cheguei em casa depois de uma tremenda chuva que se alastrou rapidamente pelas ruas frias e iluminadas de Londres.
Eu, obviamente, fiquei intrigada pelo acontecimento anterior no pub. Aquele ocorrido não fora um assalto, eu saberia se fosse. A questão era que a segunda e a terceira pessoa sabiam em quem atirar.
Minhas conclusões resultaram, sem nenhuma dúvida, de que o acontecimento fora um atentado à vida do barman, vulgo Vitão.
Eu tinha passado o dia todo e uma metade da noite longe do meu minúsculo apartamento. Eu precisava de um banho, minhas roupas estavam imundas e molhadas por causa da chuva.
Removi minhas botinas antes de adentrar profundamente no meu cubículo em que eu chamava de lar, e coloquei-as em uma caixa de papelão que ficava embaixo da pequena escrivania que eu tinha há muito tempo.
Segui em direção ao meu quarto e comecei a me despir. Minhas roupas molhadas davam uma sensação de irritabilidade e agonia contra a minha pele, eu odiava sujeira e desorganização.
O banheiro ficava do lado do meu quarto, então tirei toda a minha roupa e segui para um banho frio e impiedoso de chuveiro.
Eu me vestir com um blusão e resolvi passar o restante da noite assistindo alguma série. Talvez Friends seria uma boa escolha.
Liguei a televisão e coloquei na Netflix quando um barulho alto de alguma música começou a estourar por todo o apartamento.
A perturbação da minha paz era algo inaceitável por mim. Logo no momento em que eu precisava descansar e parar um pouco de pensar sobre as desgraças que formavam a minha vida, alguém tem que ser miserável ao ponto de me irritar.
Me levantei do sofá e fui tirar satisfações diretas até a pessoa que estava fazendo todo o barulho.
Bati na porta e o retorno que eu obtive foi um ruído de alguma banda que eu não conhecia.
Isso me irritava profundamente.
Girei a maçaneta e a porta se abriu, revelando um lugar escuro, mas com muita gente dançando e bebendo.
Adentrei no apartamento, avistando pessoas sem nexo, algumas embriagadas e rindo a toa. Eu desejei demasiadamente que minha embriaguez não fosse parecida como dessas pessoas irritantes.
Sim. Eu estava definitivamente de bom humor, e minha cota de bondade tinha se esgotado por hoje. Eu precisava acabar com a porcaria da festa.
Tentei visualizar alguém com um pouco de responsabilidade estampada no rosto, mas a única coisa que eu pude perceber foi a embriaguez alheia. Então eu teria que perguntar quem era o anfitrião.
Fui em direção a um rapaz que estava de óculos escuros e sentado no sofá. Me sentei lá também e tentei formular uma conversa imaginária comigo mesma, contudo a falta de criatividade se alastrava por minha alma e eu precisava sair logo dali, tinham começado a fumar perto de mim, e eu definitivamente odiava cigarros.
Olhei para o rapaz e dei uma risada forçada e sem graça:
- Olá? Quem é a anfitriã desta festa mesmo, hein?
Ele logo me respondeu com uma voz rouca e sensível:
- Aquela ruiva alí - falou apontando para uma garota perto do balcão que estava conversando e rindo com outras pessoas.
Me levantei do sofá e comecei a seguir em direção da ruiva, mas, de alguma forma, um sujeito alto derrubou alguma bebida em mim. Empurrei ele e andei até a menina que agora estava me encarando seria.
- Ah, não acredito. A patricinha de Beverly Hills é minha vizinha agora - falei enquanto olhava fixamente para Caroline - Isso só pode ser castigo divino.
Ela revirou os olhos e deu um leve sorriso delicado e se virou para umas pessoas que estavam conversando com ela antes e falou alguma coisa.
Voltou-se a me olhar fixamente com seus olhos escuros e suaves.
- Você pode me seguir? - falou enquanto caminhava.
A gente caminhou até a sacada do seu apartamento e depois ela fechou a porta para abafar o barulho.
- Acho que você é mais assustadora com aquelas suas roupas pretas e não com esse pijama com umas bolinhas rosas.
Olhei para as minhas vestes e segurei o meu riso.
Eu tinha saído com o meu blusão e um chinelo até a casa dela para reclamar e nem percebi a roupa que eu estava usando. Que descuido da minha parte
- Olha, eu só queria que você parasse com esse barulho todo, por obséquio.
- É natal e você está reclamando do barulho da festa? - ela revirou mais uma vez seus olhos - eu falei com o síndico e ele disse que eu poderia fazer uma festa.
- Mas você está perturbando minha paz. Não quero tomar providências serias em relação a isso.
Ela se encostou no muro da sacada e sorriu.
- Você vai fazer o quê? Pegar sua arminha de brinquedo e atirar em mim?
- Estou tentada a fazer isso - indaguei mais ríspida.
- Por que você não fica na festa também? - ela começou a abrir a porta.
- Eu preciso descansar.
- Para começar a sua matança amanhã? - ela abriu a porta - você não gosta de mim, mas provavelmente gosta de bebidas. E aqui tem uma diversidade...
Ela saiu da sacada e me deixou olhando para o grande nada que ficou com sua saída.
Segui seu conselho, afinal, no fundo eu queria me distrair do que aconteceu mais cedo no pub.
Peguei uma garrafa de whisky e comecei a minha festa interior e atrasada.
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Ghosts (DAYROL)
Hayran KurguCONCLUÍDA É comum fazer coleções de moedas, carros, tampinhas de garrafas... Entretanto, Dayane Nunes tem um hábito de colecionar assassinatos. Tentando suportar a dor de tirar a vida das pessoas, Nunes enfrenta os fantasmas das suas vítimas por mei...