7| A dor que se espalha.

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Então gente... Esse capítulo é mais grandinho, com direito a muitas emoções, então, por favor, se acalmem! É muito emotivo esse capítulo, tanto pelo lado bom como pelo lado ruim.

Boa leitura e até lá embaixo que tenho algumas novidades para compartilhar =D



Capítulo 7

O quarto do hotel nunca parecera tão triste para mim. Eu tentava em vão guardar toda aquela dor no meu coração... Mas a pergunta que não calava era: Porque? Por que eu insistia em guardar essa dor? Por que eu insistia em continuar achando que nada disso doía em mim? Havia sim algo me corroendo por dentro.

Senti como se uma barragem tivesse sido aberta dentro de mim, como se todas as dores decidissem que aquele era o momento de se soltarem. E se soltaram. Saíam em profundas ondas de água que agora escapavam pelos meus olhos.

Eu tinha saudade do meu pai. Eu tinha saudade do homem que se fora me deixando sozinha no mundo com uma mãe depressiva. E minha mãe nunca foi como a mãe de Agnes foi, nunca conseguiu como a mesma suprir toda a necessidade que eu tinha como filha. Nesse sentido, Agnes tinha mais sorte do que eu.

Conheci Agnes pequena, éramos amigas de muito tempo. Mas quando papai morreu, eu não deixei que ela soubesse que isso me afetava muito. Ela já tinha as preocupações dela com o pai dela. E isso a afetava, portanto, eu não podia deixar que meus problemas a afetassem. Ela até tentou. Eu até contei um pouco da dor para ela, mas sentindo que falar da dor mais me faria sofrer, decidi naquela época mesma guardar isso tudo dentro de mim.

E deu certo. Não pensar na morte de papai me fez aguentar isso melhor. Eu passei a sorrir, passei a ser e agir da maneira que quisesse. Foi vivendo e aprendendo que fui fazendo minha vida. Não havia com quem contar para me dizer se estava sendo certo o que eu faria.

Martha, a mãe de Agnes, até tentou suprir a necessidade que eu tinha de uma mãe e muito bem ela fez isso. Ainda assim, a dor estava ali da morte de papai. A dor que ele ter me abandonado me causava. Era meu herói que morria! Era o homem que eu tinha de espelho.

As lágrimas já sorviam a minha visão e eu cai de joelhos no chão. Doía muito o aperto no meu peito. Por que doía tanto chorar? Por que ninguém tinha me dito que doía tanto assim?

Além de papai ter morrido, tinha deixado uma filha que nada tinha a acrescentar ao mundo. Mal ou bem papai tinha contribuído. Papai fora policial. E eu? O que vinha fazendo com minha existência até o momento de tal?

Certamente, pegando um monte de homens e achando que a dor poderia ser aos poucos esquecida. Mas doía. E Alfred tinha feito questão de me fazer relembrá-las. Por que a forma como ele brigava e falava comigo parecia tanto com a forma como papai falava? Eu não sabia dizer.

Levantei-me do chão me aproximando de um espelho de corpo inteiro que havia próximo da porta do quarto. Ali eu conseguia me observar por inteiro e poder sorver um pouco da imagem que se formava. Não era das melhores. Os olhos borrados de maquiagem de quem acabara de chorar, a dor que parecia aumentar cada vez mais em mim, a sensação de que eu era uma inútil.

Mas eu não era?

O que eu estava fazendo até então se não era agindo como minha mãe vinha agindo? Só que da minha pseudo- maneira? Ela vivia enfurnada no quarto, fugindo da dor que havia dentro dela de ter perdido papai e eu? Eu escondia essa dor na tentativa frustrada de apagar o sentimento que me percorria com festas, boates, homens? Não era o que eu vinha fazendo? Me escondendo tal como minha mãe? Eu não era melhor do que ela nisso. Eu também tinha minha parcela de culpa na bosta que eu tinha me tornado.

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora