22| Não seja bem-vinda.

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Boa leitura ;)


Capítulo 22


— Al! — Ouvi uma mulher falar vindo correndo na direção dele. Era uma das irmãs dele. A pele negra parecia um véu sedoso e brilhante. Usava um vestido de um laranja bem forte e agarrou-se no irmão abraçando-o pelo pescoço. Provavelmente ela era muito apegada ao irmão.

— Zola! — Ele disse sorrindo. Eu gostava de ver como Al sorria quando ele decidia o fazer. A menina começou a falar em português, para meu alívio.

— Por que não avisou que viria? Teríamos ido ao mercado comprar um pouco de carne. — Al parecia sem jeito. Pareceu se lembrar que eu estava ao seu lado ao mesmo tempo que todas as outras mulheres vinham. Senti pela primeira vez a pele das minhas bochechas corarem. Mas não de vergonha e sim de medo. Medo de como me julgariam.

— Quem é ela? — Perguntou uma outra irmã. Essa era tão parecida quanto a outra, só que mais altiva e com um vestido azul caneta que dava um contraste muito bonito com a pele dela.

— Vim pedir a permissão de Mama para ficar com Fernanda. — Ele disse segurando a minha mão e me puxando para mais próximo dele. Me senti como Agnes, sem conseguir deixar de tropeçar nos meus próprios pés. Eu não sabia como agir diante das mulheres.

— Al, meu filho. — Disse a mãe dele, Ondina, e seu sorriso confortante e seus braços que o abraçavam com doçura conseguiram tirar um pouco do medo que eu sentia de todas aquelas mulheres me fuzilando com o olhar.

— Esta é Fernanda. — Ele continuou, me apresentando. Fiz um aceno com a mão, mas o que recebi foram olhares confusos e recriminadores das mulheres que pareciam ainda mais brabas comigo.

— Seja bem vinda, menina. — Disse Ondina. Ela era bem mais baixa do que eu e tive que baixar o olhar para receber um leve crispar de lábios da mulher e um aceno de cabeça. Não havia preconceito, mas também não havia aceitação. A mãe dele se mantinha em território neutro.

Ainda assim eu preferia o território neutro do que os olhares das irmãs dele.

— Por que você trouxe uma branca? — Perguntou uma das irmãs sem esconder como estava desapontada. Voltei minha atenção para Al, sem saber como agir, e ele franziu o cenho, sério novamente e respondeu sem se intimidar:

— Por que é dela que gosto, Keiko. — Ele respondeu. Pelo que eu me lembrava dos nomes, ela era a irmã mais velha.

— Humpf. — Foi a resposta que ela deu.

Al me apresentou para cada uma das meninas e então entramos no terreno com a mãe dele me apresentando a casa. Eles realmente eram bem simples e ainda tinham uns costumes que eu certamente sofreria por tal. Por exemplo, como havia três casas dividindo o mesmo terreno, as três casas também dividiam um mesmo banheiro que ficava no terreno. Engoli em seco e não consegui parar de pensar se eu esquecesse uma maldita peça de roupa como seria eu andando naquele clima chuvoso, de toalha, até a casa para buscar a roupa. Ou então como seria querer fazer xixi de madrugada e desistir por estar escuro e chovendo. A ideia não era agradável.

A casa era pequena também. A maior parte da casa era a cozinha, com uma mesa grande e bancos de madeira onde se faziam as refeições. Um fogão de lenha completava o ambiente e uma geladeira que zumbia alto. Além disso, havia três quartos. Um maior onde todas as mulheres ficavam juntas, outro para a mãe e o quarto de Al. Eu queria muito ir dividir o quarto com Al, afinal, a gente já tinha avançado além das preliminares, dividir um quarto era fichinha, mas a mãe dele foi categórica:

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