Capítulo 17
Estou com o pulso enfaixado, algumas partes do meu braço e da minha perna estão vermelhas, mas não tenho queimaduras de terceiro grau ou algo parecido. No entanto, ainda que estivesse, a dor maior que havia era de não ter uma resposta que fosse para saber se Al estava bem enquanto eu terminava de comer todas as minhas unhas em busca de alguma coisa que pudesse aliviar o meu espírito.
Não sei quanto tempo passa para falar a verdade, mas me oferecem algo para comer o que eu faço a contragosto. Em algum momento eu pego no sono e o dia continua passando. Enfim, depois do que parecem longos séculos de espera, finalmente um médico vem na minha direção e eu me levanto afobada do sofá monocromático, sem graça e duro no qual estou esperando há tempos algumas notícias.
— Como ele está? — Pergunto antes que o médico fale e ele parece arrumar a voz para falar:
— Não falo muito bem inglês senhorita, mas em poucas palavras sei dizer que ele está estável e fora de perigo. Mais tarde a senhorita vai poder visitá-lo. — E eu concordo com a cabeça ainda tonta com todas as notícias que há pouco recebera.
O médico sai da minha vista enquanto eu continuo atordoada e sentada naquele sofá desconfortável. A sensação de alívio parece tomar conta de cada célula do meu corpo quando percebo que Al está fora de perigo e que finalmente eu posso respirar. Meu coração se acelera no peito enquanto eu olho para o teto do hospital e só sei de uma maneira muito tímida agradecer a Deus por ter salvo Al de algo pior.
Quando recebo a chance de visitar Al sou avisada de que ele pode estar um pouco drogado por conta dos analgésicos e também por conta da dor que ele provavelmente sentiria em virtude da recuperação de pele das áreas mais afetadas. Concordo ainda tonta e adentro a sala onde Al estar com mil pensamentos na minha cabeça, mas todos eles parecem sumir quando vejo Al deitado e aparentemente bem.
Me aproximo vagarosamente dele. Os olhos dele ainda estão fechados e os meus estão cheios de lágrimas. Em algum momento nessa viagem me senti mais perto dele, mas não consigo dizer exatamente quando. Parece que nos conhecemos a mais do que simples e poucas semanas e talvez em virtude do perigo pelo qual passamos, eu me sinto como se o conhecesse há tanto tempo que nem saberia dizer quando, como se sempre tivéssemos sido sempre grandes amigos.
Suspiro enquanto observo a sua fisionomia. Parte da sobrancelha foi queimada, mas ele continua lindo mesmo assim. Está enrolado em gazes e outras coisas e em algumas partes há manchas das queimaduras. Não consigo olhar muito tempo para aquilo. Não gosto de hospitais e coisas onde vejo pessoas sofrendo. Quando decido que vou me levantar e ir embora agora que consigo ver que Al está bem, me assusto ao sentir a mão de Al tocando as minhas e volto com os olhos arregalados a minha atenção para o seu rosto.
Ele parece ainda muito grogue enquanto me olha, seu olhar parecendo ir e voltar, como se ele estivesse decidindo se continuaria no mundo dos sonhos ou encararia a realidade a sua frente. Engulo em seco enquanto espero que ele tome sua decisão e ele logo o faz buscando um pouco de ar e falando:
— Avise... Seth. — E eu entendo o que ele quer dizer com isso assentindo várias vezes de maneira enfática no segundo que Al decide que o mundo dos sonhos é muito mais convidativo e fecha os olhos novamente me deixando sozinha a encarar o mundo muito real.
Saio do quarto dele transtornada. Mesmo sabendo que ele não corre perigo, ainda estou preocupada com ele. Não consigo entender o meu sentimento, nem porque estou tão preocupada que Al se cure e fique bem. Eu acho que já nem sei direito quem eu sou. Já perdi a noção de me compreender.
Disco os números o mais rápido que posso com minhas mãos trêmulas. O telefone toca várias vezes antes que Seth decida atender e o seu humor não parece dos melhores quando ele fala:
— O que foi, Al? — E eu fico muda, porque não sei como falar que Al se machucou, além de como explicarei o fato de que estava com ele nessa história toda. Na verdade, não sei nem se Seth vai querer uma explicação de como tudo isso aconteceu antes de fazer algo por Al. Eu não sei de nada e isso parece durar longos segundos para desagrado de Seth que faz a mesma pergunta novamente:
— Al, dá para falar alguma coisa? — E eu decido afastar os monstros dos meus pensamentos, ao menos por enquanto, enquanto encontro forças sabe se lá onde para comunicar:
— É a Fer. O Al está deitado, ele está no hospital. — E Seth fica longos segundos sem sequer me responder, parecendo maquinar alguma coisa na cabeça. Longos segundos que passo olhando a minha unha e esperando que alguma coisa aconteça. Talvez Seth esteja tão sem ação como eu.
— Ele está bem? Esquece, me diga onde vocês estão. Eu vou aí agora mesmo. — Assinto para o vento, pois sei que Seth não é capaz de ver eu fazendo isso.
— Ele está bem. É uma longa viagem, Seth, mas tudo bem. — E para minha surpresa ouço Seth falar uma coisa que nunca pensei que sairia da sua boca, mas que me pega desprevenida enquanto começo a enxergar Seth com outros olhos:
— Não tem problema. A gente viaja a distância que for pelos nossos amigos. — E eu então digo-lhe o endereço de onde estamos ainda refletindo sobre as palavras de Seth enquanto avalio a minha própria situação.
Eu viajei milhas de distância pela minha amiga. Realmente, amigos viajam milhas de distância para ajudar outro amigo. E é isso, afinal, parte de uma verdadeira amizade.
Não consigo deixar de sorrir enquanto desligo o telefone e olho para o relógio. É um longo caminho, mas muito pequeno quando somos o abrigo final do nosso amigo leal.
*~*~*
Que capítulo fofo! Quem gostou de conhecer esse lado do Seth? \o/
Seth achando que o Al estava atrapalhando os amassos dele com Ag... Mas as coisas eram bem piores que um simples atrapalhar hahahha...
Como esse capítulo é pequenininho, vou soltar mais um hoje =)
Bjinhoos
Diana.
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Entre Dois Mundos
RomanceSPIN - OFF DE O SHEIKH & EU! FERNANDA E ALFRED! Fernanda sempre fez o que quis. E nunca se preocupou com o que os outros pensavam dela. Ficava com quem quisesse, xingava quem pudesse, dizia o que bem entendesse. Alfred nunca gostou de demonstrações...