23| Sendo forte... Ou não.

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Capítulo 23

Enquanto eu tomava uma xícara de café preto com uma banana, ouvia as mulheres falando sobre as novidades para Al. Ele sorria e parecia conhecer as personagens das quais as mulheres falavam. Fiquei quieta no meu canto. O sono tinha decidido vir justo àquela hora da manhã, quando eu já não queria e nem podia mais ter o luxo de dormir. 

Al beijou-me a testa de maneira carinhosa e eu fechei os olhos sorvendo seu toque. A verdade é que eu queria bem mais do que aquilo, mas era sensata também o bastante para saber que não podia. Voltei meu olhar para o café preto e Al aproveitou para falar:

— Vou no centro pagar algumas dívidas e volto mais tarde. — Ele abaixou a voz quase num sussurro imperceptível, ao lado das mulheres que falavam entre elas, apenas para que eu escutasse: — Consegue ficar um tempinho com elas? Por que se você quiser...

— Eu consigo. — Cortei-o. Eu sabia o que Al ia dizer. Que eu poderia ir com ele, que não haveria problema, mas, no fundo dos olhos dele, eu percebia que ele queria que eu conseguisse lidar bem com a família dele. E eu também queria. Queria que me enxergassem mais do que uma ameaça, mas alguém que, como elas, também tinha um sentimento muito grande por Al. E por isso eu o cortei. Por que ele não precisava falar mais nada, eu tentaria.

— ótimo. — O tímido sorriso dele me fez acariciar o seu rosto antes que ele partisse e me deixasse ali. As mulheres esperaram ainda algum tempo para vir falar comigo. Ondina colocou uma panela no fogo com água para esquentar e uma maleta na mesa que eu não fazia ideia para que servia. As meninas, por sua vez, começaram a costurar, provavelmente roupas para jovens senhoras daquelas região. Eu me sentia bem deslocada olhando-as e olhando minhas mãos. A única coisa que eu sabia era tirar fotos, estava bem longe de saber costurar. Na verdade, estava já longe de saber cozinhar, quem dirá costurar.

— Como que é o nome da sua família? — Perguntou-me Zola. Das irmãs, parecia ser a menos ofensiva na hora de falar.

— Menezes. — Respondi sorrindo. As outras continuaram de rosto fechado, mas Zola sorriu para mim também.

— E eles não se importaram de você vir para cá? — Perguntou-me Carol boquiaberta, como se fosse o babado do último século.

— Na verdade, minha mãe não sabe que estou aqui na Angola. — Verdade. Minha mãe provavelmente não deveria nem saber em qual região de Omã eu estava. Provavelmente enfurnada naquele quarto definhando. Senti um frio na espinha. Ao menos deixei comida no congelador. Morrer de fome, eu sei que minha mãe não morreria. Eu me certifiquei disso.

— Como não? você não fala com sua mãe? — Perguntou Elena.

— Ela soube que fui para Omã, para o casamento da minha amiga, Agnes, que casou com o chefe de Al. — Respondi. — E acho que só. Sou independente, não preciso que as pessoas saibam para onde estou indo. — Devo ter parecido muito idiota falando, como se fosse um ser superior por ser independente, porque Bianca revirou os olhos tomando a palavra:

— você sabe como que aqui as coisas são resolvidas quando a esposa não obedece o marido, não é mesmo? — Ela jogou o assunto no ar, como se fosse algo que eu devesse saber. Arqueei a sobrancelha.

— Deveria? — Bianca riu e as meninas ficaram em silêncio, cada uma olhando para o pano que costurava. Aquele silêncio me dizia que não era algo bom. E Bianca fez questão de afirmar:

— Aqui nessa região que moramos a mulher leva porrada se não obedece o homem. — Disse dando de ombros. Não soube o que dizer, então olhei para Ondina que colocava uns instrumentos estranhos na água fervente. Engoli em seco. Esperava que a mãe dele não tivesse aproveitado que ele tinha saído para me torturar.

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