Capítulo 12
Almoçamos enquanto Alfred me contava, pasmem, porque vindo de Angola, ele tinha um nome americano! E a história mesclava um monte de sentimentos que eu não tinha condição de entender perfeitamente.
Aparentemente seu pai bêbado que batia tinha ido embora e deixado sua mãe, suas irmãs e ele. Sua mãe tinha se tornado meretriz para ganhar um pouco de pão enquanto buscava aprender alguma outra profissão, como veio a desenvolver posteriormente como parteira. E nessa ela conheceu um moço que a mãe dele não sabe de onde era, mas que falava inglês e que tinha gostado dela. O nome dele: Alfred. Al tinha dez anos nessa época e tinha um nome angolano Kasova, por ter nascido depois de mais de três irmãs, ou seja, do sexo oposto e, aparentemente, esse tipo de coisa para designar nomes era muito sério por lá e as pessoas tinham muitos significados diante dos nomes que elas ganhavam. Assim sendo, esse era o nome de Alfred quando sua mãe decidiu dar-lhe o nome de Alfred em homenagem ao homem, outra coisa muito comum, já que se acredita que dando o nome de um padrinho para o filho, a possibilidade de o filho vir a se assemelhar ao padrinho é grande. E a mãe dele preferia muito mais que Al se tornasse parecido com o tal de Alfred do que com o mal exemplo do pai dele.
Ela visitou o homem com as filhas e ele as deu comida e roupa e um pouco de dinheiro. Estava grato em ter uma homenagem ao seu nome, mas teria que voltar, pois só estava ali de passagem em viagem de negócios. A mãe dele fora grata porque com o dinheiro que ele a deixara eles conseguiram parar de pagar aluguel com o que a mãe dele fazia e eles foram morar num lugar pobre, mas que deu oportunidade de a mãe dele ficar como parteira a partir de então. Por isso, Alfred também sempre teve orgulho do nome que tinha que designava uma pessoa que tinha sido realmente boa para a família dele, ainda que provavelmente não tivesse noção disso e tivesse, possivelmente dado dinheiro por caridade para a mãe dele. Mas ele não ligava.
Depois dessa longa conversa sobre significado dos nomes e como isso era importante para algumas tribos, nos levantamos e Alfred antes foi comigo encontrar o tal amigo dele que era da polícia e que falaria um pouco sobre o ocorrido no outro dia.
Omar era um homem na casa dos quarenta anos e que tinha uma barba já com alguns fios grisalhos a aparecer. Os olhos pareciam duas bilhas que transpareciam uma paz incomum de ver em muitos lugares. Ele cumprimentou Alfred e logo disse:
— Ontem você me deu um trabalho, hein amigo? Mas por Alá, tudo deu certo e eles logo serão sentenciados quanto a alguma pena. — Disse Omar e Al concordou balançando a cabeça. Parecia pensativo sobre o que Omar tinha dito e logo perguntou:
— Será que eu não poderia pedir outro favor para o senhor também? — Perguntou, o que fez Omar franzir o cenho e concordar meneando a cabeça num gesto afirmativo.
— você poderia me emprestar por hoje a chave do depósito que você tem contigo? Vou treinar os guardas hoje mais tarde. — E Omar abriu um longo sorriso remexendo no bolso e tirando a chave dali de dentro.
— Mas é claro! Ah, e essa é a sua noiva, Senhor? — Alfred pareceu se dar conta de minha presença ali já que eu estava mexendo no celular muito alheia a conversa daqueles dois homens. Tive que guardar o celular enquanto sorria cumprimentando o homem apenas com um menear de cabeça.
— Sim, Sim. É ela sim. — Disse Alfred um pouco incomodado. — Vou deixa-la na Mansão agora também, que Fer precisa descansar, não é mesmo? — Alfinetou Alfred e eu franzi o cenho sem entender porque ele tinha que dar explicações para aquele cara sobre nós, mas apenas concordei sem esboçar muita reação.
— Sim. — Respondi num fio de voz.
— Certo. Eu vou indo que ainda tenho que trabalhar. Mande lembranças ao Sheikh Seth. — Disse Omar e Alfred concordou.
— Mando sim. — Quando o homem se afastou e eu e Alfred adentramos no carro novamente não pude deixar de arquear uma sobrancelha e perguntar:
— Por que você mentiu assim descaradamente para o cara? Que mal havia de falar que você ia me treinar? — Perguntei perplexa sobre a atitude de Alfred. Ele rapidamente passou a me explicar:
— Ele não entenderia, Fer. Certamente acharia que é tudo mentira. Na verdade, nem é certo eu andar por aqui sem que minha noiva esteja devidamente acompanhada, entende? Mas eles fazem vistas grossas nisso quando é estrangeiro e em ambiente público. Mas num ambiente fechado tal como o depósito dele? Ele acharia tudo, até que iríamos transformar o seu depósito num espaço de rebento de pecado do que num simples treino corporal. — Dei de ombros. Eu ainda não estava de todo acostumada – e acho que nunca estaria – com essa visão completamente preconceituosa que havia por ali entre um homem e uma mulher ficarem sozinhos. Sempre havia olhos recriminadores. Mas tudo bem, cada lugar com suas regras. Se eu teria que dançar conforme a música, lá ia eu fazer isso, não é mesmo?
Cada lugar tinha suas regras. Isso só fazia com que eu sentisse ainda mais falta do Brasil, da minha linda terra, com suas regras menos absurdas e com a sensação de que ali eu poderia ser eu mesma, de que ali eu tinha o espaço para ser eu mesma. Mas isso ficava para outro momento. Agora era hora de treinar. Era hora de ser uma pessoa pronta para a adrenalina que o trabalho de Alfred aparentemente podia ser capaz de me proporcionar. O treino de tiros já tinha sido o máximo, estava ansiosa agora para o treino de luta corporal e defesa.
— Vamos então, Senhor mentiroso. — Disse e não precisei falar duas vezes. Alfred ligou o carro e logo estávamos indo em direção ao depósito.
*~*~*
Capítulo pequeno, mas só para caracterizar meu pedido de desculpas por não ter postado ontem...
A noite solto o próximo daqui e de Ajude -me se puder!
Bjinhoos
Diana.
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Entre Dois Mundos
RomanceSPIN - OFF DE O SHEIKH & EU! FERNANDA E ALFRED! Fernanda sempre fez o que quis. E nunca se preocupou com o que os outros pensavam dela. Ficava com quem quisesse, xingava quem pudesse, dizia o que bem entendesse. Alfred nunca gostou de demonstrações...