A excursão do professor Aristides já estava em um avião com destino a São Paulo, perto do final da tarde daquele mesmo dia. O embarque em Lima havia sido bastante tranquilo, contrastando com a dificuldade que foi embarcar na pequena aeronave que os levaria até a capital para que pudessem pegar, enfim, um voo com destino ao Brasil. Entretanto, próximo a São Paulo, depararam-se com uma tempestade de grandes proporções. O piloto era inexperiente e, descuidadamente, esqueceu de abastecer a aeronave com uma folga de combustível, não tornando possível o sobrevoo por muito tempo. Assim, o jeito seria tentar a aterrissagem em meio à intensa chuva. Ed, que nunca gostara de viajar de avião, começou a chorar quando o comandante disse que seria necessária a tentativa de pouso, desejando sorte a todos. Ninguém ficou alheio ao fato e um clima de tensão, para não dizer de desespero, invadiu a cabine.
– Mike, faz alguma coisa! – falou Ed em um tom mais alto, de nervosismo. – Você sabe que pode!
– Ed, não é tão simples, eu realmente não sei o que fazer. Vamos torcer pra tudo dar certo.
Quando o avião arremetia para fazer o pouso, a força do vento quebrou seu para-raios. Várias descargas elétricas o atingiram e uma delas pegou uma das turbinas em cheio. A aeronave começou a perder potência e a arremeter. Uma queda em espiral era iminente quando um brilho surgiu dentro da cabine. As oscilações de pressão fizeram os passageiros desmaiarem, menos Mike. Seu corpo começou a brilhar, primeiro no desenho em forma de W em seu peito, depois o corpo inteiro. Mike saiu de sua poltrona e levantou os braços. Então, abaixo do avião, moléculas de água agruparam-se e depois se expandiram violentamente na forma de vapor, pressionando-o de baixo para cima. Assim estabilizaram a aeronave, primeiro diminuindo a sua velocidade até parar e, depois, colocando-a suavemente no solo. Mesmo assim, ela partiu ao meio.
Nesse meio tempo, Mike sentiu novamente sua mente girar. Foi quando pôde notar que um vácuo o sugava. Em uma velocidade estonteante, observou passar por montanhas, rios, lagos, até tudo ficar escuro. Duas horas depois, Mike se encontrava novamente no interior do laboratório alienígena. Acordou meio confuso, afinal, sua última lembrança era a de estar em São Paulo e agora estava novamente no laboratório. Estaria sonhando naquele momento? Foi quando viu, de pé, bem à sua frente e muito vivo, a figura do alienígena que havia evaporado. Entretanto, sua face não demonstrava ódio, pelo contrário, demonstrava afeto. Seu rosto parecia com o de um ser humano normal, com nariz e boca, assim como seu corpo, mas era maior, com mais de dois metros de altura e grandes olhos negros, e sua pele era toda azul. De repente, Mike percebeu certa transparência naquele corpo.
– Meu Deus, um holograma!
– Mike – começou a falar o alienígena, com uma voz calma e mansa –, muito obrigado pelo seu ato de caridade. Você não sabe o que fez, mas foi, para mim, um grande gesto humanitário.
– Como assim? O que está acontecendo comigo? O que aconteceu em São Paulo? Eu estava realmente naquele vôo? – gritou Mike.
– Sim, venha, vamos ao console do computador central. Precisamos estabilizar aquilo que você chama de transferência de dados. Enquanto isso, responderei a todas as suas perguntas.
Dirigiram-se para a frente do painel de controle. Lá, Mike observou que os controles se movimentavam e brilhavam como em uma tela sensível ao toque, enorme e com muitos comandos. Uma forma de mão surgiu na pedra. O alienígena pediu que Mike a tocasse e, de repente, o rapaz foi encapsulado, mas ainda consciente. Eletrodos se deslocaram até sua cabeça e Mike saiu de seu corpo na forma de um holograma.
– O que está acontecendo comigo? – questionou com certo desespero.
– Calma, Mike. Preciso estabilizar o seu corpo e a sua mente. Você recebeu uma enorme quantidade de informações e sua mente precisa ser recalibrada. Mas para podermos conversar melhor, orientei o computador a fazer uma imagem holográfica sua.
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Os Sóis de Lar
Science FictionO que acontece se o seu reflexo no espelho não for uma ilusão, mas realidade? Kam é um alienígena humano que vive com seu povo em exílio no planeta Lar, dominado por invasores, os luciferianos. Acidentalmente ele volta dois mil anos no passado e lá...