A biblioteca

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Amanhecia em Lar e Mike acordou em sua barraca e notou que Miri não estava mais lá. Ainda com sono, viu a moça sentada na praia com as pernas cruzadas, vendo o sol nascer, deixando transparecer uma profunda tristeza. Miri olhava para o vazio, como se procurasse algo no nascer dos sóis de Lar. Mike se aproximou e apoiou suas mãos nos ombros da moça, que correspondera ao toque, inclinando a cabeça por sobre uma delas. Olhando o rapaz, perguntou, chorando:

– Por que você está me traindo?

– O quê? – perguntou o rapaz, espantado.

Mike acordou com um pulo, assustando Miri, que dormia ao seu lado. Havia sonhado que Miri era Kate. O desejo de estar com a namorada, somado ao fato de andar com uma mulher idêntica a ela, era, para ele, uma tortura. Será que, de alguma maneira, Kam não estaria na Terra e na mesma situação que ele? Lá fora, o dia amanhecia de fato, e Miri, aborrecida por ter sido acordada com gritos, não quis saber de muita conversa.

– Vamos comer alguma coisa e andar firme. Assim, quando for o horário de nos alimentarmos de novo, já teremos chegado na floresta proibida.

– E por que ela tem esse nome? – perguntou Mike, servindo-se de pão e água.

– Por um motivo bem simples: quem entra lá não volta. É perigosa, portanto, proibida.

– Ah... Bem, aqui estamos, comendo pão e água. Como eu queria alguma coisa diferente...

Mike pôs-se a olhar para o cantil e, no gole seguinte, quase engasgou com a bebida. A água tinha se transformado em...

– Vinho! Mas como eu...?

– O que foi, Mike? O que tem a água?

– Beba!

Miri bebeu um, dois, três goles. Olhou para Mike com cara de interrogação. Que bebida deliciosa era aquela? Como a água que bebiam teria se transformado naquilo?

– É deliciosa, Mike! Como se chama isso?

– Vinho. No meu planeta, chamamos de vinho.

– É deliciosa! – repetiu a moça, já meio cambaleante. – E, olha, me deixou meio tontinha como a água de fogo do meu pai! – afirmou, rindo.

– Miri, foco! Precisamos andar muito hoje! – afirmou o rapaz, fitando-a nos olhos.

– Sim, é verdade! – respondeu Miri, aos soluços.

Assim que Mike virou as costas, Miri serviu-se de mais um pouco do vinho, trançando as pernas em seguida. Desse modo, Mike teve de arrumar as coisas sozinho e montá-la em seu cavalo. Além de segurá-la, precisou aguentar a bebedeira da moça por umas boas horas.

– Mike, Kam, sabe do que mais gosto em você?

– O que, Miri?

– Morder sua orelha! – afirmou a moça, abocanhando seu lóbulo direito.

– Ai!!! – gritou o rapaz. – Isso machuca!!!

– Mas é gostoso...

– Você deveria aprender a beber.

– E isso se ensina? É só abrir a boca e engolir – respondeu, zonza.

Kate despertou de um sonho. Nele, estava em uma imensa praia, em um lugar com dois sóis sobrepostos e uma lua entre eles, formando um imenso W no céu. Estava vestida como uma bárbara guerreira de algum filme de ficção científica, e Mike estava lá. E o fato de tê-lo visto com outra mulher, cujo rosto não conseguia identificar, a perturbava. Será que o namorado estava com outra mulher nessa viagem? Por que não havia retornado ainda? O prazo que o alienígena tinha dado já expirara. Queria muito voltar àquele lugar onde tinha estado quando se despediram, em Patcha. Foi aí que teve uma ideia: iria perguntar para Ed onde era aquele lugar. Kate ligou para a Polícia Federal, informando que se atrasaria um pouco para resolver um problema particular, e saiu em direção à Cidade Universitária. Com certeza, o rapaz estaria na Faculdade de História. Mas chegando lá...

Os Sóis de LarOnde histórias criam vida. Descubra agora