Enterros e vinganças

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O dia amanheceu com muita tristeza em Martis. Era o momento de despedida dos mortos. Cada família de soldado, em um ponto um pouco mais afastado da cidade, daria adeus a seu ente querido. Centenas de pessoas perderam um pai, um filho, um amigo. Kam estava com Miri e Kate ao seu lado, com seus pais e os pais de Miri logo atrás. Miri e Kate se revezavam para segurar o bebê de Anvoc. Kam decidiu cremar o amigo em um dos lugares que Anvoc mais gostava: o alto de uma planície que beirava um lago, logo na saída da cidade. Era um lugar verde, cheio de flores do campo, árvores frutíferas, como macieiras e jabuticabeiras. O dia amanhecia vermelho quando o grupo se reuniu em silêncio diante do corpo do alienígena que repousava sobre um amontoado de lenha disposto em forma circular. Por alguns minutos, fizeram silêncio. Kate pediu a palavra.

– Amigos, quando esteve na Terra, Jesus nos ensinou uma oração para momentos como esse. É uma forma de pedir a Deus que leve a alma de alguém que perdemos para perto dele. Acho que Kam a conhece das memórias de Mike. Vocês poderiam repetir comigo?

Um pai-nosso foi rezado naquele momento. Era uma oração bonita, que todos ouviam pela primeira vez. Mas foi Miri que se emocionou, deixando lágrimas escorrerem de seus olhos. Kate a consolou, pegando o bebê de Anvoc em seu colo. Coube a Kam a parte mais difícil, acender o fogo que, em minutos, tomou todo o corpo do falecido.

Enquanto isso, Harrison acordou na Casa de Cuidados se sentindo muito melhor. Ia se levantar quando foi impedido por Adina.

– Calma, moço, você ainda precisa descansar mais um pouquinho. Não estou gostando de seu ferimento.

– Com você aqui até dá vontade de ficar, mas eu preciso agir. Ouvi o que aconteceu no Palácio da Defesa de vocês, eles...

– Eles estão precisando que você fique bom! – interrompeu-o.

– Eu já estou bom! – afirmou, olhando nos olhos de Adina.

– Quem decide isso, aqui, sou eu!

– Você está me segurando aqui de propósito? – perguntou, debochando.

– Eu? Por que estaria segurando-o, principalmente em um momento que precisamos de leitos?

– Porque você gosta de me ver?

– Ora, não seja pretensioso! – afirmou, sacudindo a cabeça negativamente.

Anne chegou repentinamente e pegou somente o final da discussão. Teve de fazer muito esforço para não rir.

– O que foi, Deborah? – perguntou Adina. – E onde está Lavi? Ah, deixa para lá, tenho de cuidar de outras pessoas. A gente conversa depois.

Anne fez uma careta, achando desnecessário avisá-la sobre a sua verdadeira identidade. Mas aproximando-se de Harrison, não perdeu a piada.

– Você não perdoa ninguém mesmo, não é, Harrison? – e riu. – Primeiro, foi a Kate. Agora, essa moça... como é mesmo o nome dela?

– É Adina! E eu não estaria aqui se... ai! – gemeu ao erguer-se.

– Isso está bem feio! – afirmou Anne, examinando por cima o ferimento do colega. – Acho que ela está certa.

– E Kate, como está?

– Aquela está bem enrolada. Agora, ela e Miri são irmãs, acredita? Até outro dia só faltava se pegarem no tapa pelo loiro gostosão. A impressão que dá é que ele quer ficar com as duas se elas deixarem – respondeu.

– Algum chamado de Sheppard?

– Não. Kam deixou o rádio comigo, mas até agora, nada. Se bem que Vip está aqui, então as coisas devem estar calmas na Terra.

Os Sóis de LarOnde histórias criam vida. Descubra agora