A descoberta

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O professor Aristides amanheceu sem pregar o olho à noite. Estava extremamente preocupado. Mike e Ed não tinham aparecido e sabia que ao menos Ed não iria desrespeitar uma ordem direta dele. Tentou diversas vezes o celular por satélite, mas desta vez nem ao menos tocava, indicando que o aparelho havia sido, de alguma maneira, danificado. Por outro lado, Luzia saíra cedo para ajudar a equipe a fazer nova tentativa de recuperar o artefato, o que daria tempo para o café do chef Ted. Quando os dois retornassem, a menos que aparecessem com a descoberta do século, iriam tomar a maior bronca que poderia dar a um aluno. Mike era muito inteligente, mas descuidado e negligente. Ed não era tão brilhante, mas era disciplinado e meticuloso. Daí o porquê de ter trazido os dois: ambos se completavam em seus talentos, além, é claro, da boa doação do pai de Mike. O professor nunca entendera a fixação do rapaz por aquela região, mas estava feliz por poder estar ali. Após ter tomado dois goles de café, ouviu Luzia chegando, desesperada.

– Doutor! Eles sumiram, doutor, venha ver!

O professor Aristides engasgara, já pensando que se tratava de algum problema com Ed e Mike. A notícia nada tinha a ver com os dois, mas era também muito ruim. Os artefatos do fundo do rio simplesmente sumiram. Nada mais de brilho. Chegaram a cavar mais de um metro no local onde estava demarcada sua localização e nada. Aquilo era um mistério, porque uma pedra não podia simplesmente criar vida e sair andando.

Em São Paulo, naquele mesmo momento, uma delegada estava entrando com seu carro particular dentro da comunidade Três Coqueiros e, sem muita dificuldade, encontrou Vip tomando cerveja dentro de um boteco.

– Senhor Márcio, poderíamos conversar? – questionou Kate.

Surpreso, Vip observou a mulher entrar em seu domínio. Sabia que ela era valentona, mas uma delegada entrar na boca sem escolta é no mínimo loucura. Quase engasgou com a cerveja que já estava quente em seu copo.

– Doutora delegada, nossa! Que honra receber a senhora na nossa comunidade. Gente, essa é a doutora Kate, a nova delegada da 10ª, vamos dizer oi!

O bar tinha mais ou menos dez pessoas, alguns trabalhadores tomando café, mas ao menos seis estavam na mesa com Marcinho Vip tomando cerveja. Kate não se resignou com a escolta do traficante e, educadamente, disse:

– Vamos conversar em particular, por favor? – pediu-lhe seriamente.

– Sim, doutora – respondeu Vip, ante a zombaria de seus colegas, que já estavam pensando que se tratava de uma conversa com segundas intenções.

Ao ir em direção a uma mesa mais reservada, Kate o encarou com um olhar firme:

– Márcio, ontem fui seguida por você! Aquele carro mesmo que está lá fora!

– Eu, doutora? – falou Márcio com uma falsa resignação. – Não fui eu não, doutora, foi outra pessoa!

– A placa, Márcio! – respondeu a delegada, mostrando a foto no celular.

– Ah doutora, ontem emprestei o carro para uns amigos que iam num shopping center comprar umas roupas! Eu fiquei em casa, estava ocupado com uns negócios.

– Márcio, vou ser bem direta. Eu não sei com que tipo de policial você está acostumado a lidar. Mas pela sua cara, delegados não costumam vir aqui, a não ser para pegar propina. Não é o meu caso. Estou aqui para avisar. Se eu for seguida mais uma vez, não vou pensar duas vezes antes de usar minha arma. Entendido?

A delegada saiu da mesa com um sobressalto. Vip, calado, não pôde deixar de observar que aquela mulher era extremamente linda, usava um vestido social em tom pastel, salto alto e estava bem-maquiada, seus cabelos esvoaçavam com o vento da manhã. Simplesmente não conseguiu responder. Agora estava começando a ficar preocupado, porque não queria bancar o otário para seus amigos. Mas não queria fazer nada contra a doutora, ao menos por enquanto. A intenção do dia anterior era só dar um susto nela, foi burrice ir com seu carro, mas com a cabeça cheia de droga, às vezes as ideias não funcionam.

Os Sóis de LarOnde histórias criam vida. Descubra agora