A notícia do milagre de Santana foi dada em todos os jornais e telejornais da manhã com destaque.
– Kate Vasconcelos Miranda, de vinte e oito anos, jovem delegada do 10º Distrito Policial de São Paulo, salvou a jovem A.C.M., de cinco anos, de um acidente fatal. O caminhão perdeu o controle, bateu em um poste... Mas esperem! – afirmou o jornalista, ao vivo. – Algo está errado. Estamos na rua onde tudo aconteceu e não há nenhum poste quebrado. E vendo o caminhão, parece que ele bateu em um poste, sim, mas mais fino. E além disso, como ele virou de cabeça para baixo? – perguntava-se o repórter perplexo.
A pergunta desafiava as autoridades. Naquele momento, Kate estava deitada em uma cama de hospital. A sua pressão subiu muito após o acidente e ela foi levada às pressas para o pronto-socorro. Como quase todos estavam com esposas e filhos, e o Seu Atílio estava muito nervoso com o ocorrido, Mike pegou a moça em seus braços e disparou com o Camaro, deixando Ed a pé, levando junto o pai da moça. Chegaram rapidamente a um hospital no centro da cidade. Kate ainda estava desmaiada e seu pai mostrava sinais de que estava com tontura. Ambos foram tratados. Como os médicos acharam melhor acomodar o Seu Atílio em uma cama para tratar do nervosismo, a primeira imagem que Kate viu quando abriu os olhos foi a de Mike olhando para ela com ternura.
– Ei... Como você está? – perguntou carinhosamente.
– Oi... Ai, com uma dor de cabeça... Onde estou? E a festa? E a menina?
– Está tudo bem. Você está em um hospital, sua pressão subiu muito. A festa acabou bem, o acidente aconteceu já no final da festa e a menina está ótima.
– O que aconteceu? – questionou, sentando-se na cama.
– Você salvou a menina. Um caminhão em alta velocidade ia pegar vocês duas, mas você conseguiu tirar a menina a tempo, o caminhão perdeu o controle, bateu em um poste e depois capotou.
– Mas... e o sujeito azul?
– Que sujeito azul? – perguntou com um falso fingimento.
– Eu vi, eu lembro... Um sujeito azul brilhante apareceu do nada e ficou na frente de nós duas. Daí ele levantou o caminhão com as mãos, como se fosse um brinquedo, e o jogou longe! – afirmou, levantando-se repentinamente. – Eu lembro... ai! – reclamou de uma leve pontada na cabeça.
– Deite-se Kate, você sonhou com tudo isso. Sujeito azul brilhante – desdenhou. – E como ele era além de... azul?
– Ele não tinha rosto, era tudo liso – respondeu, deitando-se novamente na cama.
– Essa história não tem pé nem cabeça...
– Quem me trouxe aqui? Foi você?
– É, seu pai estava passando mal ontem à noite e eu me ofereci.
– Meu pai? Meu Deus, como ele está? – perguntou a moça, ansiosa.
– Ele está ótimo! Foi tratado também pelos doutores porque ficou muito nervoso. Mas agora já está bem.
– Mike, muito obrigada! – disse-lhe, recostando-se novamente na cama.
– Vou sair para comer alguma coisa. Já passa do meio-dia, estou faminto!
Mike saiu do quarto de Kate desconfiado, pois pensava que ela não se lembraria de nada. E o pior é que o lado esquerdo do seu corpo doía imensamente. Em vez de ir para uma lanchonete de imediato, foi para o banheiro tirar a blusa e observou que seu braço, suas costelas, tudo estava roxo. A pancada havia sido violenta, mas a dor agora já era menor que a da noite anterior. Sem que Seu Atílio percebesse, ele conduziu o Camaro com as mãos, apenas fingindo dirigir. O problema seria a repercussão. Havia assistido ao jornal pela manhã e todos se perguntavam o que realmente tinha acontecido. Temeu que aquilo pudesse acarretar alguma histeria religiosa. O jeito era dar um tempo e ver no que iria dar. Havia diversos repórteres na saída do hospital, mas ninguém estava esperando por ele. Isso lhe deu condições para finalmente comer alguma coisa.
Na comunidade Três Coqueiros, Vip assistira ao jornal com o mesmo estranhamento da população. Mas no seu caso havia uma diferença. Conhecia a doutora delegada. Sentia-se atraído, de fato. E agora estava sinceramente preocupado. Será que se saísse do crime teria alguma chance? Será que ela era mesmo lésbica? Deveria visitá-la no hospital? Mas aquilo estava cheio de jornalistas e, conhecido como era no meio da bandidagem, se algum jornalista policial o visse ali com flores para a delegada não ficaria bem. Precisava levantar o endereço da doutora. Lembrou-se de alguns policiais em um distrito vizinho que estavam na sua folha de pagamento. Seria fácil pegar o endereço. Decidido! Assim que retornasse para sua casa, Kate teria visita!
Mike passou o dia no hospital até que pudesse levar Kate e Seu Atílio para casa. Chegando lá, Alice os aguardava junto com a mãe, Dona Sônia. Mesmo sem necessidade, Mike fez questão de pegar Kate no colo e levá-la para a cama. Ainda sentindo os efeitos dos remédios, Kate preferiu ficar sentada no sofá.
– Mike, muito obrigada, você foi um anjo! – agradecera D. Sônia. – Você está obrigatoriamente convidado para voltar aqui em casa no sábado para uma pizza. Nós nem o conhecemos direito e olha quanto favor você já nos fez!
– Não foi nada, Dona Sônia. Fico feliz em ajudar. Agora preciso ir. Kate, Alice, até sábado, então. Seu Atílio tem os meus telefones.
Nesse momento, Kate fez um esforço para se levantar, pois queria dar um beijo em Mike. Quando seus rostos se tocaram, o tempo parou. Mike viu novamente imagens desconexas fundirem-se em sua mente, mas dessa vez mais rápido. Perdeu levemente o equilíbrio, mas o suficiente para fazer com que Kate se apoiasse em seu braço esquerdo para não cair. Nesse momento, Mike reclamou de dor, o que causou espanto na mente investigadora de Kate. Enquanto seus pais levavam o rapaz até o portão, Alice levou sua prima para o quarto e começaram a conversar.
– Kate, que loucura! Meu Deus, quanta coisa aconteceu! Agora, confessa para mim, vai! – exclamara. – Você está caída pelo Mike!
– O quê? Ah, que nada, ele foi um ótimo amigo! – desconversou.
– Kate, eu vi sua mão tremer feito vara verde quando olhou para ele! Não tente me enganar! – exclamou, quase gritando.
– Ei, fala baixo! – afirmou, pondo a mão na boca da prima. – Tá bem, o homem é um deus grego, gente... Você viu que ele tem dois metros e é tudo proporcional? Ele é grande em tudo!
– Será que ele é grande...naquilo? – questionou, sorrindo maliciosamente.
– Ah, sei lá! – sorriu Kate, desdenhosamente.
– Sábado ele estará aqui! Tan-tan-tan-taaaannn!
– Meu Deus... Dei muito na vista?
– Não para seus amigos, mas eu e a Dona Sônia sacamos tudinho. Aposto que ela está falando tudo para o seu pai agora.
– Meu Deus... Ah, mas agora, e quanto àquele favor? Já pensou? Vai quebrar o galho para mim? – perguntou, desconversando.
– Kate, não é arriscado?
– Não, e vai ser amanhã de manhã. Eu pego você na casa do tio umas 9 horas. Você só tem que bancar a minha namorada, talvez a gente se dê um "selinho", sei lá. É um pedido que a Polícia Federal fez para mim, tentar se infiltrar. Ao menos ser parceira. Mas não quero bandido dando em cima de mim! Vai ser só amanhã, vai, por favor... – pedira, fazendo biquinho.
– Tá bem, eu vou. Mas que isso fique só entre nós duas. Ah, e vai ter um preço!
– Qual? Eu já não paguei ontem no salão de beleza?
– Não o suficiente! Amanhã de tarde vou aprontar você para o Mike, ah se vou! Aposto que você vai ficar horrível depois do jogo.
– Meu Deus, você falando assim, me sinto um sanduíche.
Já era noite quando Bia e Anne chegaram ao hotel. Em suas malas, traziam equipamentos de comunicação avançados, armamento, munição, um pequeno drone com câmera para reconhecimento aéreo, entre outros "brinquedos", como medidores de ondas de radiação. Além disso, traziam cápsulas contendo um forte sonífero. Era noite e amanhã seria final de semana, mas com seus equipamentos teriam condições de analisar o caminhão que ainda era objeto de notícias nos telejornais. Também planejavam rastrear e identificar a delegada Kate, que esteve no centro dos acontecimentos.
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Os Sóis de Lar
Ciencia FicciónO que acontece se o seu reflexo no espelho não for uma ilusão, mas realidade? Kam é um alienígena humano que vive com seu povo em exílio no planeta Lar, dominado por invasores, os luciferianos. Acidentalmente ele volta dois mil anos no passado e lá...