Tentando entender

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O sacerdote dos luciferianos estava furioso com a quebra em sua segurança. Como puderam deixar escapar um prisioneiro por entre os dedos? Mal seu líder supremo havia retornado e já tinha de explicar o primeiro fracasso. O primeiro dentre vários que tinha de justificar. Por que não o localizaram antes? Tiveram mais de dois mil anos para isso. A sua linhagem não deixou líderes, cabendo aos descendentes do sacerdote a tarefa de liderar seu povo. Como agravante, seu filho também havia sumido. Será que o líder falhou no processo de inabilitar o portador? Foi uma ação de enorme risco. Caso tivesse falhado, um poder tão forte que seria capaz de varrê-los novamente surgiria. Ao fechar os olhos, ouviu a voz de seu Líder.

– Sacerdote, quero que traga o rapaz. Ele precisa ser morto o mais urgente possível – ordenou, impassível.

– Majestade... – respondeu com medo. – Ele escapou.

– Incompetentes! – gritou. – Como isso pôde acontecer? Espere, venha, deixe-me tocá-lo. Preciso entender depressa os problemas deste lugar.

O sacerdote e o rei dos luciferianos deram-se as mãos. O rei olhou fundo nos olhos do sacerdote, como se visse uma tela. Ambos tiveram a mesma visão: observaram Anvoc libertando Mike e o levando consigo para a terra dos rebeldes. Isso fez com que Aluah desse um grito de raiva e pavor, que estremeceu as bases do Palácio da Catedral, onde a liderança do povo luciferiano era exercida há gerações. Ao sacerdote coube baixar a cabeça em desolação pelo filho traidor.

Mike acordou naquela manhã e estava confuso com tudo o que vira e ouvira no dia anterior. Quem eram aquelas pessoas? Onde estava? Como Miri e Abram se pareciam tanto com Kate e seu pai? Eram tantas perguntas...

– É estranho você não se lembrar, mas somos larianos, rapaz – respondeu Abram. – E você está na cidade de Martis.

– Vocês são humanos? Como eu?

– Sim, é claro.

– Então estou em outro planeta com humanos como eu? Como pode isso? Achávamos que éramos os únicos humanos do universo! – exclamou, surpreso.

– Sabe, rapaz, segundo nossa história, fomos um povo muito diferente no passado. Podíamos viajar pelas estrelas e fazer coisas incríveis com a nossa ciência. Segundo relatos, chegamos a formar outros planetas com seres humanos como nós. Acredito que o seu seja um deles.

– Como isso é possível?

– Isso eu posso responder, Mike! – afirmou Anvoc, já se conformando com o fato de que Mike não era quem pensava, ao menos naquele momento. – Três sondas foram enviadas para planetas distantes, mas que tinham condições de serem habitados. Uma para acabar com alguns animais e plantas que inviabilizariam o desenvolvimento de sua espécie; outra para que alimentos fossem devidamente semeados; e, por fim, a que continha suas informações genéticas.

– Quer dizer que quem nos criou foram vocês? Na Terra, isso seria considerado sacrilégio! – afirmou, em tom de deboche.

– E quem criou o nosso povo foi quem chamamos de Deus Criador. Ele jogou sua semente aqui para nos criar. – disse Abram. – E somos tão humanos como você.

– Essa é a lenda! – exclamou Miri. – E, de fato, nossos antepassados se tornaram quase tão evoluídos como nosso Deus. Era possível, para eles, criar coisas com a mente, ir para lugares distantes, viajar pelas estrelas...

– Tudo era possível com a nossa ciência!

– Mas o que aconteceu? – questionou Mike. – Vocês não me parecem tão avançados hoje.

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