Os Sóis de Lar

Ano zero na Terra, o renascer de Yehoshua

Kam despertou para mais um dia de trabalho na cidade de Jarzalé. Seu corpo estava cansado, mesmo após uma noite bem-dormida, afinal, o Mestre havia exigido muito dele na noite anterior, nos trabalhos de laboratório. Olhou para o teto dourado de seu quarto e a lembrança de sua namorada desde a infância fazia com que se sentisse mal. Não havia um único dia que não pensasse nela. Mas escolheu dar-lhe um futuro, sabia que suas pesquisas poderiam salvar a humanidade do povo de Lar. O rapaz levantou-se e olhou pela janela, observando a população da cidade andar de um lado para o outro, sem se dar conta de como seria o futuro.

– Senhor, café da manhã? – perguntou uma imagem holográfica sua, seu alter-ego.

– Sim, obrigado, computador. Notícias do Mestre? – perguntou, vendo que diversos alimentos, como sucos, pães e leite, eram materializados sobre sua mesa.

– O Mestre está ocupado no momento, em uma conferência com a União dos Planetas.

– Ainda é sobre aquele último planeta que terraformamos? Ele sabe que não pode intervir nos assuntos daquela gente.

– Ao que tudo indica, ele quer mudar isso – respondeu o computador.

O rapaz inspirava fundo. Afinal, o trabalho que ele havia desenvolvido em conjunto com o Mestre estava, finalmente, concluído. O seu equipamento de aprimoramento encefálico estava pronto no laboratório central. Agora poderia ter as mesmas habilidades que seu Mestre, que estranhamente sempre as teve de forma natural. Ele era realmente alguém especial. Kam lembrou como foi hostilizado quando chegou à cidade e como o Mestre o acolheu e o protegeu. Mas o que mais impressionava era o fato de que ele sabia tudo sobre sua vida. Kam olhou novamente para fora e mais uma vez procurou alguém parecido com sua amada, mas nada. Repentinamente alguém tocou seu ombro. Era o Mestre.

– Mestre, sabe, apesar dos anos que estou aqui, acho que nunca vou me acostumar com suas entradas silenciosas – riu.

– Talvez você nunca se acostume mesmo! – afirmou o Mestre, também rindo. – Mas o que me traz aqui é a necessidade de termos uma conversa séria sobre um certo planeta – disse, servindo-se do café da manhã junto com Kam.

– Mestre, ainda a questão daquele planeta azul que convencionamos chamar de Terra? – perguntou, preocupado.

– Sim – inspirou. – E preciso contar-lhe algumas coisas importantes, alguns segredos. E fazer um pedido muito especial para algo que vou fazer.

– O que foi, Mestre?

– Há muito tempo venho tentando resolver o problema da humanidade na Terra, fazer com que eles tenham um destino certo. Secretamente surgi diante de alguns deles como luz, destruí cidades cheias de podridão, cheguei quase a desistir, mas fui tocado pelos corações de pessoas muito puras. Mesmo assim ainda estão em descaminho.

– Tipicamente humano, não? Aqui em Lar as coisas não são tão diferentes – observou Kam, com uma leve ironia.

– Sim, eu sei. E acredite, a situação vai piorar muito porque alguns larianos fizeram uma coisa horrível que descobri há pouco tempo. Mas prometi a mim mesmo que não vou intervir. Principalmente depois da mensagem que recebi de meu pai hoje à noite em meu sonho.

– O que o senhor sonhou tem a ver com essa coisa horrível que os larianos fizeram? Algo a ver com a guerra que teremos no futuro?

– Não. Meu pai disse a mim em sonho que devo me fazer luz, ir até a Terra, renascer como um deles e ser morto, não sem antes ter deixado a mensagem. Esse é o desejo de meu pai. Esse é o meu destino. Assim os terrestres ganharão milênios de relativa paz. Mas a tal coisa horrível a qual me referi, sim, tem a ver com a guerra dos luciferianos com os larianos.

– Mas, Mestre, você vai nos deixar?

– Sim meu filho, em breve. Mas e quanto à sua pesquisa? – desconversou.

– Pronta. Hoje vou testar em mim mesmo, mas já está funcionando. O dispositivo principal está no laboratório, mas também montei um protótipo em uma espaçonave.

– Que bom, meu filho, porque tenho um pedido muito especial para lhe fazer.

– O quê? – indagou Kam, curioso.