Seguindo pistas, ano 2013 depois de Cristo

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Mike estava feliz por mais um dia na Cordilheira dos Andes. Olhava o céu que amanhecia com uma cor azul-amarelo, resplandecendo os raios de sol que já insistiam em cortar o horizonte de onde se poderia ver. Sabia que deveria levantar rápido, porque uma árdua rotina de trabalhos o aguardava naquela terra e também porque os roncos de seu colega Ed simplesmente o deixaram maluco a noite inteira. Quando planejaram a divisão das barracas, jamais imaginara que teria de aguentar um verdadeiro trovador como Ed quando roncava. E o pior é que os mosquitos e o calor colaboraram para que ele se levantasse mais como um zumbi do que como um ser humano. Ao sair de sua barraca, teve ao menos o consolo de poder aspirar o doce aroma do café sendo preparado pelo cozinheiro da excursão, o chef Ted. Suas receitas normalmente causavam furor intestinal, o que fazia com que muitos apelassem para barras de cereal e sanduíches, mas ao menos o café da manhã nunca foi motivo de queixa entre a equipe da excursão. Sabia que deveria ter forças para explorar o sítio arqueológico de Patcha, descoberto havia poucas semanas em meio às ruínas incas no Peru. Era uma conquista pessoal do rapaz que, como já havia indicado em sua tese de doutorado, sabia que naquela região havia alguma coisa. Sempre sentiu vontade de pesquisar lá. Havia muito para se explorar, mas autorizações governamentais, burocracia e a quase sempre ausência de verbas dificultavam bastante o trabalho. Mas o professor Aristides, a quem via como um guia, sempre o estimulou a suplantar essas dificuldades. Não tardou até que o dia começasse a clarear e Mike pudesse ter a oportunidade de ter contato com a primeira refeição da manhã.

– Ei Mike, dormiu bem? – disse chef Ted, sorrindo. – Você está realmente com uma cara de acabado.... – ironizou.

– Se eu dormi? Dormi como um anjo caído! – respondera Mike ironicamente, sabendo que anjos caídos são demônios.

– Algum problema aí, galera? – questionou Ed, que acabara de se levantar, satisfeito por uma noite bem-dormida, à custa da noite de Mike. – Ei Mike, qual é o seu problema? Teve insônia esta noite de novo?

Mike balançou as mãos no ar, com vontade de responder o que efetivamente lhe viera à cabeça. Naquele instante surgiu Luzia, a única mulher no acampamento, que poderia ser a namorada de qualquer um, não fosse o único detalhe dela ser lésbica. Ninguém sabia exatamente se era verdade, comentava-se que ela tinha por hábito olhar Ed às escondidas quando tomava banho de cachoeira, talvez essa posição fosse uma espécie de autodefesa, mas o fato é que essa postura impedia a aproximação de possíveis pretendentes. Sua única paixão era a mesma de todos que estavam lá: a arqueologia. E sabiam todos que aquela terra tinha muitos segredos escondidos, muita coisa que valia a pena ser explorada. Afinal, como enormes blocos de granito poderiam ser deslocados e sobrepostos a exemplo das pirâmides do Egito? Como, há milhares de anos antes de Cristo, pôde existir uma comunidade que já estudava matemática e astronomia em moldes similares aos da modernidade? Sem contar que possuíam um sistema de governo e hábitos que seriam considerados modernos mesmo nos dias de hoje.

Em meio ao café da manhã, o professor Aristides tomou a palavra perante o grupo, demonstrando certo aborrecimento:

– Gente, hoje vai ser um dia bem duro de explorações. Mike e Ed, quero que vocês desçam o rio em busca de alguma coisa, alguma ruína, algum artefato. Eu e Luzia iremos explorar algumas cavernas perto das pirâmides. Chef Ted, como de costume, fica aqui tomando conta de nosso acampamento e fazendo os preparativos para o almoço. Quero que todos estejam de volta às 14 horas com novidades. Pessoal, ontem falei com o reitor da USP, como sabem, a nossa mantenedora, e a menos que divulguemos alguma coisa, nosso orçamento poderá ser cortado.

– Mas professor, meu pai fez uma boa doação para que pudéssemos vir para cá! – afirmou Mike. – O senhor sabe que meu doutorado é em cima do povo inca.

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