Kate

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O dia amanhecera bastante alvoroçado na 10ª Delegacia de São Paulo. A delegada Kate foi executar uma ordem de prisão contra um morador da Três Coqueiros pelo não pagamento de pensão alimentícia, uma das poucas coisas que realmente dão cadeia no Brasil. Nada mais tranquilo, não fosse pelo fato de que o preso seria um dos membros do bando de Marcinho Vip. Não era uma coisa normal a delegada acompanhar o cumprimento desse tipo de ordem, deixando a cargo dos policiais, mas resolveu abrir uma exceção. Iria aproveitar a oportunidade para se aproximar de Vip. O comboio se aproximou da comunidade logo cedo, pois a ideia era pegar o criminoso dormindo. A casa que viram era de alvenaria e, embora bastante simples, alguns detalhes como a porta com madeira entalhada chamavam a atenção.

– Senhor Caio de Arantes, por favor, abra a porta, é a polícia! – gritou Kate, batendo firme, quase esmurrando a porta.

Uma voz feminina no interior da casa respondera, afirmando que iriam atender. Em menos de um minuto, surgiu uma moça morena, visivelmente uma menor de idade, de camisola, com o cabelo bagunçado, como se estivesse acabando de acordar.

– Qual o seu nome? – questionara Kate, firmemente.

– Daiene, quem quer saber? – respondeu, sonolenta.

– É a polícia! – respondera Kate, exibindo o distintivo. – Viemos cumprir uma ordem de prisão contra Caio de Arantes em função do não pagamento de pensão alimentícia. Onde ele está?

Nisso, um barulho grande pôde ser ouvido no telhado ao lado. Imediatamente, a delegada deu a ordem para que todos seguissem o meliante e correu para uma das viaturas para segui-lo. Caio estava em um ponto entre telhados e deu um pulo. Kate resolveu segui-lo a pé, subindo uma escada até um dos telhados. Ao avistar Caio, mesmo ao longe, sacou seu revólver e gritou:

– Caio de Arantes, é a polícia. Pare, senão atiro em você!

O rapaz duvidou de Kate, que fez o primeiro disparo, quase atingindo o pé dele. Imediatamente Caio parou, virou-se e veio andando em direção a ela, com as mãos na cabeça. Pelo rádio, Kate chamou ajuda de policiais para tirá-lo dali algemado. Em menos de uma hora, já estavam na delegacia, onde um advogado e Vip os aguardava.

– Delegada Kate, eu suponho – disse o advogado. – Estou aqui como advogado do senhor Caio de Arantes para conversar com ele sobre sua prisão. Posso ir?

– Ele ainda está sendo fichado, mas depois o senhor pode conversar. Enquanto isso, sugiro que aguarde aí na recepção.

– Doutora delegada, tudo bem? – falou Vip. – Como a senhora está?

– Bem Vip, muito bem. E, ao que tudo indica, parece que prendi um amigo seu – respondera, convidando Vip para ir ao seu escritório.

– Doutora, foi esquecimento da cabeça dele. Olha, eu até estou aqui com o dinheiro para depositar na conta da ex-mulher dele, não dava para deixar isso de lado, não? Eu deposito e fim de papo!

– As coisas não funcionam assim, senhor Márcio. Se quiser, o senhor pode depositar, entregar o comprovante para o advogado do senhor Caio que entrará com pedido junto ao juiz para o relaxamento da prisão. Por enquanto, ele ficará preso.

– A doutora é dureza, hein? Se fosse homem e jogador de futebol, seria zagueiro!

– Pois fique o senhor sabendo que jogo futebol e sou uma excelente atacante!

– A senhora joga bola? – questionou Vip, boquiaberto.

– Sim, no clube da PM, nos finais de semana. Eu consegui a duras penas jogar com outros homens. Adoro futebol.

Os Sóis de LarOnde histórias criam vida. Descubra agora