O casamento das mães

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Na Terra, Donald estava dentro de um avião militar, aproveitando a sua carona para o Brasil. Era muita informação para absorver. Seus contratos com o governo americano seriam todos renegociados agora. A matéria-prima que fornecia do Brasil para lá nunca seria tão importante. Afinal, era o primeiro retorno consistente que o filho trazia para a família. Tudo por causa daquele desejo de ser arqueólogo, profissão que no mundo inteiro não rende lá grande coisa, quiçá no Brasil, onde a educação, a cultura e a história são objetos relegados a segundo plano, a tal ponto de terem que construir uma ficção para tornar o seu passado um pouco mais nobre. E o pior de tudo é que os brasileiros que realmente foram nobres nunca tiveram seu valor reconhecido, somente anos depois de sua morte, em alguns casos. Esse fato o irritava. De repente, o comandante do avião anunciou que iriam chegar no aeroporto de Viracopos em poucos instantes. Era o momento de deixar o copo de uísque de lado e ver como andavam as coisas em casa.

– Kate, você tem certeza sobre esse seu plano? – perguntou Anne, ressabiada. – Você não acha um pouco arriscado demais envolver a sua família?

– Eu vou contar com a ajuda de meu pai. E, acredite, ele sabe se defender.

O avião pousou mais ou menos nove horas da manhã, horário de Brasília, depois de ter decolado às nove horas da noite, da base de Nevada. Na aeronave, havia um agrupamento de dez agentes da NSA, entre eles Harrison, Anne e Kate. Keane ficou na base, monitorando todas as ações que seriam tomadas em território brasileiro, junto com o General Sheppard, que estava com seu telefone o tempo todo ligado e on-line com os demais chefes das Forças Armadas Americanas. Confiaram o destino do mundo a um ousado plano de uma ex-policial brasileira, formada há poucos anos. Acharam o risco alto demais, mas Sheppard nunca errou quando optou por um plano. Tudo envolvia uma estratégia de longo prazo. E manter Kate ali era, definitivamente, o melhor trunfo para atrair Mike. E como a presença da moça era voluntária, melhor; trabalhando como agente, melhor ainda. Algumas horas depois, Kate estava na mesma pracinha em que estivera com Mike dias antes, onde deram o primeiro beijo, definitivamente, inesquecível.

– Pai, como o senhor está?

– Estou bem, minha filha. Preocupado com você. Há dias que não tínhamos notícias suas – respondeu Seu Atílio. – Até outro dia, você ia começar em uma delegacia, agora você está me falando que nem mais no Brasil você trabalha, diz que é uma agente secreta, o que eu posso dizer? Tem algo a ver com aquele seu namorado?

– Mais ou menos, pai. Mas você viu o que aconteceu no Rio de Janeiro?

– É claro que vi. O que era aquele louco?

– Pai, preste atenção no que o senhor vai fazer.

Todos se colocaram em posição, atiradores de elite, agentes da NSA, todos em torno de uma praça da zona norte de São Paulo. Kate pegou o rádio por satélite e chamou Vip.

– Marcinho, responda.

Kate não ouviu nada. Olhou para os lados, para cima, e nada. Esperou por cinco minutos e fez uma nova tentativa.

– Vip, responda, por favor, é Kate.

Kate novamente olhou para os lados e nada. Teria sido um blefe do traficante? Mas se fosse, qual seria o motivo? Alguma vingança insana? De Vip, poderia esperar qualquer coisa. Ia tentar pela terceira vez quando uma voz a chamou atrás de si.

– Doutora, como a senhora está bonita! – afirmou Vip, vendo que Kate trajava um collant preto e botas de salto alto, uniforme padrão da NSA. – Essa roupinha apertada de agente me deixa maluco! – afirmou, em tom de deboche.

Os Sóis de LarOnde histórias criam vida. Descubra agora