A Fuga de Kate

1 0 0
                                    


O dia amanheceu sem que Seu Atílio tivesse notícias da filha. Para aplacar suas preocupações e as de Dona Sônia, foi até a 10ª Delegacia, onde a moça trabalhava. Mas ninguém tinha notícias. Como investigador de polícia aposentado, começou a caçar informações. Uma conversa com o escrivão de plantão deu-lhe a informação de que Kate havia conversado com um policial da Federal sobre uma missão importante. Vendo que a agenda da filha ainda estava em cima da mesa, achou um número de telefone em destaque, com o nome de Paulo. Ligou para ele e "jogou verde"...

– Escuta, senhor Paulo, eu sou o pai de Kate e exijo saber da minha filha! – exigiu, enfaticamente.

– Eu sei quem o senhor é, Seu Atílio, eu e Kate estudamos juntos. A sua filha está desaparecida desde ontem. Vou ser franco. Ela foi capturada por traficantes da Comunidade Três Coqueiros porque estava nos ajudando com uma grande operação. Mas ficamos sabendo que explosões ocorreram na comunidade e parece que ela escapou. Não sabemos de mais nada.

– E como ela foi capturada? Quem a entregou? – perguntou, em um tom que não deixava esconder o nervosismo.

– Não sabemos ainda, mas estamos investigando as pessoas da polícia que sabiam do esquema.

– Não se esqueça de investigar todo mundo que trabalha no seu escritório. Eu trabalhei mais de trinta anos na polícia e sei que tem gente ruim, mas noventa e nove por cento são honestos. E que negócio é esse de explosão?

– Também não sabemos. Já acionamos a Polícia Técnica, mas sabe como as coisas estão difíceis para a força como um todo.

– Eu vou dar uma ajudinha. Onde fica mesmo essa comunidade?

Seu Atílio foi até a rua e comprou algumas roupas de um mendigo, que aceitou a nota de cinquenta reais sem questionar muito. Deixando seu carro mais de um quilômetro longe, Seu Atílio foi até a comunidade a pé. Era uma grande comunidade, com milhares de moradores. Não foi difícil achar onde as explosões haviam acontecido. Fingindo procurar metal, Seu Atílio começou a investigar e achou restos do que parecia ser uma bomba. Passou meia hora e foi pedir água em um bar, onde Marcinho Vip estava comentando o que acontecera na noite anterior.

– Cara, e aí? – questionou Calado, vendo Vip tomar seu café da manhã de cerveja e fritas. – Você passou a noite em claro?

– Passei. E aí, a molecada viu alguma coisa?

– Os pirralhos viram a tal doutora sair daqui com uma outra moça bem gostosa, toda vestida de preto. Saíram lá para o lado sul. Acho que foram para a zona sul.

– Cara, isso está mais estranho. Primeiro, a gente acha C-4 do exército americano aqui. Agora isso. Parece coisa de espionagem.

Aquilo tudo soou muito estranho para Seu Atílio, que foi àquela saída da comunidade para ver se achava alguma coisa. Chegando lá, viu no chão um saco de pano sujo de barro, perto de um muro cheio de plantas. Havia o símbolo das Forças Armadas dos Estados Unidos. Mais adiante, marcas de pneu de moto. Seu Atílio enviou as fotos das duas pistas para Paulo.

– Seu Atílio, saia daí imediatamente. Eu vou investigar.

Paulo adorava motos e sabia que aquelas não eram marcas de pneus comuns. Lembrando de um amigo de passeios, teve suas desconfianças confirmadas. Eram de uma moto especial, feita para as Forças Armadas dos Estados Unidos, mais largos, mas para uma moto bem fina e potente. O que diabo o governo americano queria com Kate? Teria algo a ver com a entrada de drogas? Enquanto isso, Seu Atílio pegou seu carro e não pensou duas vezes: foi até a embaixada devolver um certo saco de pano perdido...

Os Sóis de LarOnde histórias criam vida. Descubra agora