Capítulo 23

2.9K 422 683
                                    

Nos dois dias seguintes, eu basicamente fiquei em meu quarto, cumprindo à risca a ordem de Kuana, não estava querendo receber outro sermão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Nos dois dias seguintes, eu basicamente fiquei em meu quarto, cumprindo à risca a ordem de Kuana, não estava querendo receber outro sermão. Todos os dias, na hora do almoço, os irmãos vinham comer comigo me fazendo companhia.

Depois da noite no templo, Raoni mudou da água para o vinho, ele parecia ser uma pessoa mais leve, estava fazendo piada com a irmã e até sorrindo as vezes.

Aquele cara que era emburrado, me olhava atravessado e mal trocava duas palavras sem me alfinetar, tinha sumido, bom, não posso dizer que não estava gostando dessa mudança.

No dia seguinte, finalmente, poderia voltar as minhas atividades normais, estava ansiosa para o treino, precisava conversar com ele sobre o que aconteceu, ou melhor, sobre o que foi interrompido.

Eu ainda não tive um tempo sozinha com Kuana, e estava bem receosa desse momento. Já estava imaginando a enxurrada de perguntas que viriam, e bem, ela disse que viria me visitar sozinha hoje na parte da tarde, então a qualquer momento a porta do meu quarto pode se abrir dando inicio ao interrogatório.

Eu estava andando de um lado para o outro, não conseguia ficar parada, precisava fazer qualquer coisa, qualquer coisa que gastasse energia. Se tem uma coisa que me deixa louca, é ficar presa sem poder fazer completamente nada.

A porta se abriu, e como prometido, minha amiga entrou no meu quarto indo se sentar na mesa que ali tinha, ela trazia uma bandeja com um bule de chá e duas xícaras.

Me juntei a ela na mesa para tomar o chá de rosa do deserto, dentro da xícara, se encontrava uma pequena flor rosa, com pétalas finas e delicadas.

Kuana despejou a água quente nas xícaras para que pudéssemos tomar o chá, sei que é meio estranho tomar uma bebida quente num lugar como o deserto, mas o chá tinha um gosto tão refrescante e meio doce que não tinha como recusar.

- Como está seu pé?

- Praticamente curado, não preciso mais usar as faixas, os cortes já fecharam e só alguns ainda estão cicatrizando.

- Sua recuperação é realmente rápida Lia. Amanhã já vai poder voltar a sua rotina normal.

- Eu não vejo a hora, não aguento mais ficar nesse quarto, preciso sair, ver pessoas.

- Imagino que queira ver uma pessoa em especial não?

- Kuana eu...- comecei a gaguejar e ficar corada, o que ela queria que eu falasse, afinal era o irmão dela, não sei se ela teria algum problema com isso.

- Você está pensando de mais para responder.

- Me desculpe Kuana, não aconteceu nada eu juro, eu não quis te ofender

- Opa! Espera, me ofender? Do que diabos você está falando?

- Do que você viu ontem, ou melhor pensa.

- Bom, vou te contar o que eu vi ontem. - eu engoli em seco, e ela falava com uma animação que estava fora do normal - Eu vi você e meu irmão juntos lá no templo, e provavelmente se eu não tivesse chegado, vocês teriam se beijado certo?

Eu só sentia o meu rosto esquentar. Não tinha o que responder, afinal de contas ela estava certa, provavelmente teria acontecido exatamente isso.

- Lia – ela ria agora- sinceramente, você acha que eu tenho alguma coisa contra isso? Por favor, eu quero mais é que vocês parem de brigar, e vou dizer mais, eu adoraria te ter como cunhada.

Eu arregalei meu olho com o que ela estava falando, pelo menos sabia que ela não estava chateada comigo.

- Seu irmão é muito estranho sabia.

- Sim eu sei, e é muito mulherengo também, acredite, já tivemos muitos problemas quando Raoni era adolescente. Só quando ele entrou para o exército, que ele finalmente deu uma acalmada.

- Isso não é animador sabia.

- Eu não estou mandando você casar com ele, mas não vejo nenhum mal vocês hum... se divertirem enquanto você está aqui. – Ela olhava para mim com um sorriso maldoso.

- KUANA!

- Que foi? Eu não falei nada que você já não tenha pensado, e olha, pode ser impressão minha, mas ele está bem digamos, intrigado com você, e eu nunca vi ele assim por mulher nenhuma.

- Eu não sei Kuana, seu irmão é lindo, e bom ele foi um amor comigo no dia da lua azul, mas bem, ele já tem muita experiência pelo que você me falou e eu, bom eu...

- Lia, ele não vai te forçar a fazer nada que você não queira, e como assim não tem experiência? Você é linda, deveria ter alguém de onde você vinha não.

- Não tinha, eu cheguei a namorar um menino de uma cidade vizinha que passou um tempo em Polinys, pois a mãe estava tendo um final de gravidez complicado. O pai dele tinha escutada falar que minha mãe poderia ajuda-la, e levou a esposa para nosso vilarejo, mas logo ele foi embora, e bem, mal nos beijávamos e eu era nova, tinha apenas catorze anos.

- Idade não quer dizer nada, e bom, aqui no deserto não temos muitos estereótipos, não somos julgados por quem ficamos, dormimos ou casamos. A família real é a única exceção, temos que produzir herdeiros, uma mulher para me substituir e um homem para governar, mas se eu quiser me casar com uma mulher e apenas me deitar com um homem, somente para procriar, isso seria normal aqui.

- Com certeza vocês são bem diferentes de onde eu vim.

- Nós somos melhores – falou minha amiga rindo.

- E você Kuana tem alguém?

- Agora não, - seu olhar ficou distante - eu já tive, mas a perdi em uma das missões que meu povo fez de reconhecimento do seu reino.

- Sinto muito, como se chamava?

- Alex.

- Tem muito tempo isso?

- Já faz mais de um ano, desde então não tenho ficado com mais ninguém, pelo menos não a sério.

- Entendi.

- Lia, segue teu coração, ninguém vai te julgar aqui, e acredite, você já é querida por muitos daqui. Se tiver vontade fique com meu irmão, afinal ele é bom para os olhos.

- Falar sobre seu irmão com você não é um dos meus assuntos favoritos – disse entre risos.

A tarde passou e ficamos conversando sobre alguns pacientes, sobre o que Kuana fez naqueles dias, como podíamos melhorar o meu treinamento, e o melhor de tudo foi que pratiquei mais o idioma deles.

- Antes que eu me vá tenho uma notícia para você, Raoni pediu para eu te falar que amanhã você treinará com o exército, então pode acordar mais tarde, o treino começa as sete.

Suspirei um pouco alto de mais, eu queria conversar com ele sozinha, e o treinamento era o único momento que estava só eu e ele.

- Não fique decepcionada, daqui a três dias é a comemoração do descobrimento da Matmata, a cidade toda vai entrar em festa, e vamos ter muita dança e festividades, nesse dia meu irmão suspende os treinos, tenho certeza que vai conseguir falar com ele.

Kuana me deu um beijo na testa e saiu.

Rosa Negra - A Ordem da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora