Capítulo 46

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Torre de Vigilância, era o lugar onde os novos recrutas eram enviados para treinar, antes de irem para alguma batalha, nas guerras que o rei travava

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Torre de Vigilância, era o lugar onde os novos recrutas eram enviados para treinar, antes de irem para alguma batalha, nas guerras que o rei travava. O lugar ficava numa posição estratégica, onde se conseguia vigiar toda a fronteira do reino de Dakar, com o deserto do esquecimento.

Conta-se, que o rei quis expandir seu território para as terras bárbaras, mas enfrentar os povos bárbaros, mais os desafios naturais que aquelas terras impunham, o levou a um grande fracasso, o que o levou a desistir da empreitada.

Fomos colocados em fila no pátio central da Torre, um menino que provavelmente era mais novo do que eu, estava ao meu lado se tremendo que nem vara verde, enquanto que um idiota na ponta, estava se achando por ter sido recrutado e por seu pai ter alguma patente no exército.

Os guardas estavam cumprindo suas tarefas e nos ignoravam, alguns estavam nas torres e muralhas vigiando, outros limpavam o lugar, alimentavam os animais, um pelotão estava correndo e fazendo exercícios.

Os guardas que nos trouxeram, foram dispensados por um homem em torno de quarenta anos, ele estava usando uma armadura prateada simples, com o emblema do reino de Dakar.

O homem tinha um bom porte, mas seus ombros já estavam curvos dos anos do ofício, seus cabelos grisalhos, revelavam que ele tinha bastante experiência, mas o que mais me chamou a atenção, foi seu bigode gigante.

- Vocês estão em Torre de Vigilância agora, esqueçam tudo que aprenderam sobre batalhas ou que escutaram sobre as guerras, aqui vocês vão aprender que todos os mitos são verídicos, vão aprender a temer a própria sombra para sobreviverem.

O homem falava alto e com confiança, sua voz grossa ressoava pelo pátio, vi alguns recrutas tremerem e outros ficarem eufóricos com o discurso. O homem continuava a falar sobre como seria a nossa rotina, disse que íamos ajudar, e que seríamos divididos em grupos de funções.

Um guarda começou a anotar as informações dos recrutas, o nosso nome, de onde vínhamos e qual era a nossa função em nossa vila. O homem parou na minha frente, repetiu as perguntas em um tom monótono, e nem se deu ao trabalho de tirar seus olhos do papel que estava escrevendo.

- Griel, venho de Polinys e eu era caçador.

O homem passou por mim e continuou com o próximo, Reina que escolheu o nome, eu a cidade e Raoni a função, afinal poucas funções poderiam ser justificadas por carregarem armas.

Fiquei no grupo que era responsável por lustrar e guardar os armamentos e armaduras, e para minha infelicidade Enner, o recruta que se achava o experiente, por ter o seu pai como capitão de uma das tropas, estava comigo.

Meu grupo não poderia ser mais singular, era eu, Enner e o pequeno Diel, o menino que se tremia mais que vara verde. Eu estava rindo da ironia que era o nosso conjunto.

- Muito bem recrutas, vocês já têm os seus afazeres, agora coloquem suas coisas no alojamento e sigam o guarda responsável por mostrar onde vão realizar suas tarefas.

Fomos colocados num quarto gigantesco, onde camas feitas de palha estavam espalhadas, tinha somente duas janelas para ventilar o cômodo, que iria abrigar quinze pessoas.

O cheiro de mofo era perceptível e provavelmente iria ficar pior durante minha estadia aqui, já conseguia imaginar o cheiro de homens suados e sem banho naquele lugar fechado, fiz uma careta com esse pensamento.

O resto do dia foi longo, lustrar armas e lavar armaduras que fediam mais que bosta de vaca, e ainda ter que aturar Enner se gabar e ficar dando ordens para mim e Diel, sem ajudar em nada não foi fácil.

Meu sangue fervia para dar uma lição naquele garoto, mas precisava ficar imperceptível e não chamar atenção de mais. Meu objetivo era sair dali e ir para Dakar o mais rápido possível.

O trabalho pesado me fez cair no sono rapidamente, agradeci por isso, pois a cama de palha era dura e pinicava horrores, além do cheiro de homens que não tomaram banho antes de irem dormir.

Fomos acordados com uma corneta tocando, percebi vários homens pularem da cama assustados, outros xingarem alto o barulho, mas para mim foi como reviver uma agridoce lembrança, então senti um sorriso de saudades se formar em meu rosto.

Estávamos no pátio fazendo os exercícios matinais, corridas, flexões e abdominais, observava os homens ao meu redor para seguir no nível deles. Alguns conseguiam acompanhar sem ficarem com dez palmos de língua para fora, mas estavam longe de ficar em forma.

Optei por ficar mediana, pois quem estava mais atrasado sofria na mão dos treinadores, já que os guardas que nos orientavam, ficavam gritando nos ouvidos de quem estava para trás na corrida, colocavam o pé nas costas na hora das flexões, e atormentavam os coitados de todas as formas que conseguiam.

Não me destaquei em nenhum exercício, ao contrário de Enner, que tinha um ótimo preparo, e ficava se achando por estar mais avançado do que o resto dos recrutas.

Na parte da tarde, fomos treinar com as armas, nosso mestre de armas começou o treinamento com as espadas, o que não foi nenhuma surpresa para mim, já que os homens de Dakar se achavam deuses, por estarem carregando um pedaço de metal afiado.

Diel ficou como minha dupla de treino, o menino suava com o peso da espada, mau conseguia levanta-la, quanto mais maneja-la da forma correta. Sua postura estava totalmente errada, ele não formava uma boa base e os guardas também não faziam questão de ensinar.

Ele começou deferindo golpes, que me defendi facilmente e mal sentia a força do seu ataque, quando o guarda que nos olhava de perto saiu, me aproximei do garoto e abaixei a minha voz, para que só ele escutasse o que eu iria falar.

- Diel, assim você não vai conseguir matar uma mosca.

O garoto tremeu mais uma vez, deve ter pensado que eu estava implicando com ele como os outros faziam.

- Eu não estou te sacaneando moleque, presta atenção no que eu vou te falar, se você quiser ter uma chance de viver, tem que aprender a usar uma arma e eu posso te ajudar, você quer?

Um outro guarda se aproximou de nós, Diel atacou mais uma vez e ele fez um sinal de afirmação com a cabeça. Quando voltamos a ficar fora dos olhos dos guardas, voltei a instruí-lo.

- Primeiro sua base esta errada, afaste esses pés, você é destro correto?

- Sim.

- Coloque sua perna direita para frente, isso, agora flexione um pouco seus joelhos, muito bom, me ataque.

Seu golpe foi mais certeiro e com um pouco mais de força, ele também notou, pois arregalou os olhos. O menino franzino, de cabelos e olhos marrons e com sardas no rosto, pela primeira vez não tremeu ao segurar uma espada.

- Muito bem, agora você vai repetir esse golpe, mas com mais força, além disso você vai precisar se empenhar em ganhar músculos.

- Sim senhor. – Um sorriso estampava o seu rosto.

O garoto absorvia tudo que eu falava, ele estava ávido por cada conselho que eu lhe dava, percebeu que eu poderia lhe ajudar a sobreviver naquele inferno, e então eu tinha a sua total atenção.

- Me mostre seu melhor Diel....

Rosa Negra - A Ordem da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora