Capítulo 119

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|Narração Agatha|

Olhei em minha volta e vi um ferro bem do meu lado. Eles estavam de costas pra mim, cutuquei o pé de Paloma e ela me olhou de canto. Coloquei o dedo na boca e fiz uma menção de silêncio, me levantei com cuidado, peguei o ferro e acertei em sua cabeça fazendo ele cair no chão e desmaiar.
A pancada não faria ele morrer, mas daria para nós duas fugirmos tranquilas. Eu estava com dificuldade pra andar por conta da dor, mas não me importei, segurei na mão de Paloma e ela me olhava boquiaberta.
— Vamos pra casa! — falei sorrindo e ela sorriu de volta.
Olhei na porta e Fred estava distraído com a camionete, ele não nos veria. Corremos para trás do porão que dava no meio da mato, e nos enfiamos no meio dele sem pestanejar. Estávamos sem celular, sem nossas bolsas, sem nada. Apenas corríamos, como se não houvesse amanhã. Eu já não aguentava de tanta dor e fome, eu só queria chegar em casa e esquecer disso pra sempre. Nossas mãos estavam entrelaçadas e corríamos uma do lado da outra, até que Paloma tropeçou e caiu com tudo sobre o mato, não me aguentei e comecei a rir.
— Para de rir! — se fez de brava.
— Vamos logo antes que o Fred venha atrás de nós duas. — falei firme e ela me deu sua mão e continuamos a correr.
Perdi as contas de quanto tempos corremos, eu só sei que não tinha mais forças pra nada. Me deitei sobre o mato e olhei para o céu cheio de nuvens, eu jamais pensei que iria passar por isso.
Coloquei as mãos na cabeça e me permiti a chorar, como eu disse, eu não era de chorar, mas a dor era tão grande e o cansaço também, então me desabei.
Paloma sentou do meu lado e começou a acariciar meus cabelos, deitei a cabeça em suas pernas e chorei tudo, exatamente tudo. Boa parte foi bom, eu tirei tudo pra fora e me senti melhor. Já estávamos longe daquele porão, eles não nos encontrariam, assim eu espero.
— Olha amiga... — apontou para uma fumaça no céu, era uma espécie de fumaça de chaminé.
— Será que tem uma casa ali? — perguntei esperançosa.
Nos levantamos e fomos em direção a fumaça, logo obtemos a visão de uma rua e do outro lado uma lanchonete, sorri sem acreditar e abracei Paloma dando muitos pulinhos. Atravessamos a rua entramos na lanchonete, não haviam muitas pessoas por ali, mas o homem que estava no balcão nos olhos assustado.
— O que você desejam? — perguntou com o semblante confuso.
— Você não tem alguma telefone que possa nos emprestar? Estamos perdidas. — falei e ele pareceu acreditar no que eu falei, e não era mentira, estávamos perdidas e fugindo de dois bandidos.
— Claro, temos um logo ali. — apontou para o telefone e eu suspirei aliviada.
— Muito obrigada! — puxei Loma pela mão e fomos até o telefone.
— Ok... E vamos ligar pra quem? — perguntou baixinho me olhando.
— Não faço ideia... — mordi o canto da boca.
Ficamos um bom tempo em silêncio pensando em uma pessoa que viria nos buscar aqui, mas pra falar a verdade eu nem sabia onde estávamos.
— Eu já sei... — Loma começou a dedilhar os números e eu estranhei.
— Vai ligar pra quem? — arqueei uma sobrancelha.
— Para o Guto, o único número que eu sei. — deu de ombros e eu arregalei os olhos.
— Não, por favor não... — implorei e ela pareceu não dar muita importância.
— Alô? Guto? — forçou uma voz de choro. — Sim, é a Loma... Eu e Agatha estamos em perigo. — torceu o nariz e vi que seus olhos estavam marejados, ela não estava fingindo. — Precisamos de ajuda. — disse logo em seguida. — Estamos em Las Vegas, na entrada da cidade. — cafungou. — É uma longa história, mas fomos sequestradas, só precisamos que você venha nos buscar antes que os bandidos nos ache aqui. — me olhou. — Estamos em uma lanchonete. Por favor... — começou a chorar. — Ta bem. Muito obrigada! — desligou o telefone e me olhou cabisbaixa.
— E então? — respirei fundo.
— Ele está vindo! — me abraçou e eu suspirei aliviada. — Só vai demorar um pouco porque dá umas 4 horas daqui até San Diego. — torceu os lábios.
— O importante é que ele está vindo, podemos ficar aqui. — sorri e nos sentamos em uma mesa.
Não deu muito tempo e o homem do balcão se aproximou de nós duas com uma caderninho em mãos.
— Conseguiram fazer a ligação? — perguntou nos olhando.
— Sim, já estão vindo nos buscar! — disse Paloma.
— Vocês vão querer o que? Para se sentar nas mesas precisam pedir algo, se não vou tem que pedir que você se retirem! — disse grosso e eu suspirei.
— Olha senhor, não queremos nada porque estamos sem dinheiro. Fomos sequestradas e nos trouxeram pra cá, perdemos todas as nossas coisas e mal conseguimos uma ajuda, então se o senhor puder deixar a gente ficar aqui, eu agradeço muito. Fomos agredidas e estamos a horas sem comer, só estamos esperando a nossa ajuda! — falei firme fitando minhas mãos e o homem do meu lado suspirou.
— Tudo bem... Podem ficar aí. — passou a mão no cabelo e saiu nos deixando sozinhas.
— Vai dar tudo certo. — disse Loma levando suas mãos até a minha. — A dor na barriga já passou?
— Um pouco... — falei simplesmente encostando minha cabeça na parede. Eu só quero que esse pesadelo acabe.

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