A linguagem do coração

Capítulo 2

A senhorita Durbshire também tinha a seu favor o fato de ser uma excelente dançarina. Eles dançaram em um silêncio confortável, reverenciando o som da melodia, envolvidos pelos acordes ritmados. George conduzia graciosamente a fiel amiga pelo salão, aproveitando as últimas notas da música quando ouviu a jovem em seus braços suspirar profundamente.

– Oh, seu pai fica tão belo vestido com uma casaca formal...

A poucos metros dali, entretido em sua dança, estava a causa do suspiro exagerado dela. Colin Bridgerton ria abertamente de algo que Penelope lhe sussurrou junto ao ouvido enquanto a conduzia pelo salão. Os olhos fascinados de Nathalia Durbshire se focaram em Colin, sem desviar-se dele, em completo deslumbre.

Era uma lástima que o desvio da concentração da jovem fosse cobrar seu preço.

Não houve sequer tempo para George alertá-la do iminente desastre que se desenhava ao sentir que ela se desiquilibrara.

– Na-na-na... – George tentou falar, mas a cada letra parecia pesar chumbo sob sua língua.

Tudo aconteceu muito rápido. Em um segundo ela estava em seus braços, e no seguinte ele a observou cair desastrosamente sobre outro casal que valsava pelo salão. De imediato, os músicos pararam de tocar, transformando o ar festivo em um silêncio lúgubre e desconcertante. A atenção dos outros convidados agora recaía sobre a terrível cena.

Praguejando mentalmente, George logo inclinou-se para ajudar a amiga a se colocar de pé. Ele a levantou com destreza, como se ela não pesasse muitos mais que uma pena de ganso. Foi então, somente então, que ele notou o amontoado de tecido azul que até um segundo antes estava escondido embaixo de metros de seda cor lavanda do vestido da senhorita Nathalia.

Assim que a vítima se viu livre do peso que a derrubou, moveu-se ligeiramente, olhando à sua volta, provavelmente atordoada tentando descobrir o que lhe atingira. Cristo, essa não. Era a filha do duque Grandfield que estava espatifada como uma fruta podre no meio do salão de sua família. George já podia escutar os murmúrios que começavam a ganhar vida por todo salão.

Alguém passou apressado por George. E mais essa agora. Peter Thompson, o duque de Duckbran, ajoelhou-se ao lado da garota, com o olhar preocupado.

– Você se sente bem, lady Stonne? – perguntou.

Àquela altura, um grande círculo de curiosos já se aglomerara em torno deles. George lançou um olhar rápido na direção de Nathalia enquanto lady Stonne assegurava ao parceiro de dança que nada grave havia lhe acontecido. Sua amiga estava com as maçãs do rosto rubras e os olhos baixos, fitando o chão, envergonhada. 
George olhou novamente para a garota no chão.

– Per-per-mita-me ajudá-la, Su-sua Gra-aça. – ele ofereceu com dificuldade. Estava irritado, o que fazia com que perdesse o pouco controle que tinha sobre a fala.

O duque não o olhou quando respondeu. Seus olhos ainda estavam fixos em Lady Stonne.

– Não será necessário, Bridgerton. Eu consigo ajudá-la sozinho.

O nobre provou seu argumento erguendo a jovem do chão em seguida. Sem perder tempo, Emma Stonne deslizou as mãos sobre a saia do vestido, numa tentativa inútil de livrar o tecido fino das rusgas que se formaram. Em seguida, passou as mãos pelo cabelo, prendendo alguns fios que cobriam o rosto atrás das orelhas. Corrigiu a postura e ergueu o queixo, quase totalmente recuperada.

Os olhos dos dois se cruzaram por um breve momento e George ficou surpreso ao constatar que não havia naquela íris de um profundo tom de azul raiva ou consternação. Ele esperava vê-la desmanchar-se em lágrimas, transformando o ocorrido em um épico drama teatral feminino. Seu vestido caro estava todo desmantelado, o penteado que devia ter sido considerado uma obra prima mais cedo naquela noite desfez-se por inteiro. A garota continuava bonita, era um fato indiscutível para George, mas sua perfeição fora maculada, e não eram muitas as jovens que podiam suportar tal provação.