Capítulo 7

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George fez uma breve prece mental para que a garota não estivesse novamente sob os efeitos da embriaguez. Se sentiria diretamente culpado caso lady Stonne possuísse agora o hábito de beber em eventos.
Compreendendo que correr e fugir eram opções pouco dignas, restou-lhe uma única alternativa. Ele se virou e tentou decifrar de qual direção a voz estava vindo. Sua busca, porém, não demorou muito tempo. Emma facilitou as coisas, deixando o abrigo das sombras e surgindo hesitante no corredor, adornada com um vestido tão brilhante que o próprio sol se sentiria ofuscado em sua presença.

– O qu-que fa-faz aqu-qui? – George indagou, tentando conter sua irritação. Ele sabia que se não conseguisse controlar suas emoções as palavras simplesmente ficariam retidas em sua mente, incapazes de sair pelos seus lábios.

– Eu o vi vindo nessa direção. – Emma parou ao lado dele – O que o senhor faz aqui?

Com lady Stonne, refletiu George exasperado, era impossível manter o controle. Ele a fitou por um instante, tempo suficiente para que ela lhe dissesse caso houvesse algo errado. No entanto, não havia nada em sua postura ou expressão que desse indícios que a moça estava em perigo. Aquele encontro era, além de nitidamente perigoso para a reputação de ambos, desnecessário. Ele começou a se afastar, distanciando-se sem lhe dirigir a palavra. Talvez, se o silêncio dele fosse bem pronunciado, lady Stonne entendesse o quão inapropriado era cercá-lo em um corredor deserto e mal iluminado.

– Sr. Bridgerton?

Ele apressou os passos.

– Sr. Bridgerton?

Não houve resposta.

– Tudo bem. – a frase saiu em um sussurro. – Peço desculpas.

Droga.

George sentiu a vulnerabilidade na voz dela no mais profundo do seu ser. Era algo que não podia impedir. Havia nele uma irritante inclinação a importar-se sobremaneira com os sentimentos dos outros.

Dois segundos depois, ele retrocedera e estava outra vez ao lado dela.

– Vo-você n-não devia est-tar aqu-qui. Se f-formos pe-pegos, s-seremos em-empurrad-dos até o al-altar!

Não havia nenhum exagero na afirmação dele. Ser encontrada na companhia de alguém do sexo oposto naquelas circunstâncias a arruinaria em um piscar de olhos. E, claro, a atitude mais honrada por parte do cavalheiro seria propor-lhe casamento, para que o seu sobrenome devolvesse a ela a respeitabilidade perdida. Espera um pouco, Emma exclamou em pensamento, como ela não tinha pensado nisso antes?! Todas as vezes que se colocara em uma situação comprometedora agira por um impulso incontrolável, não fora uma ação deliberada. Contudo, agora que George levantara a questão, as engrenagens do cérebro dela começaram a mover-se rapidamente.

– O Sr. está certo, é claro. – ela fez uma pausa – Eu apenas gostaria de trocar algumas palavras com você.

– Va-va-vamos volt-tar ao salão. – decretou ele – Eu a co-convid-o pa-ra d-dançar e vo-c-cê me diz o-o qu-que deseja.

Emma sorriu com a sugestão. Era como se cada frase que George dissesse, ainda que marcada pela gagueira e ligeiramente arrastada, fosse a coisa certa a se ouvir.

Assentiu, satisfeita.

– V-vá na frent-t-te. E-eu irei e-em seguid-da para n-não le-levant-tar rum-mores.

Como prometido, alguns momentos mais tarde, Emma estava com a mão de George Bridgerton apoiada com leveza na base de sua coluna. Aos olhares curiosos, aquela cena aparentava ser inofensiva, apenas dois jovens dançando em uma distância respeitável. Ainda bem que ninguém era capaz de perscrutar os pensamentos, caso contrário, Emma estaria em apuros! Não que ela fosse dizer em voz alta, mas a sensação de estar nos braços de George deixou-lhe entorpecida de prazer, ao ponto de querer que a dança durasse, pelo menos, uns bons quinzes anos.

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