Capítulo 6

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As duas semanas seguintes arrastaram-se enquanto Emma era levada a bailes, teatro, passeios no parque. O mundo todo parecia uma grande vitrine de exposição. Ela, aparentemente, era o artigo mais valioso. Em uma mesma tarde o duque de Grandfield recebera três ofertas pela mão de sua filha. Emma agora poderia escolher entre ser a marquesa de Filcown, a viscondessa de Ledevy ou a condessa kentwood. E o número de pretendentes tendia a aumentar mais a cada novo evento, a despeito da falta de encorajamento que ela habitualmente dispensava aos homens.

Mantendo uma postura distante e levemente altiva, ela esforçava-se para afugentar os cavalheiros que se punham em seu caminho. Não que ela tivesse um bom motivo para agir de tal maneira. Na verdade, era o oposto. Emma necessitava desesperadamente de um marido. Seu pai era tudo o que lhe restava no mundo. Tudo o que ela conhecia como família começa e terminava no velho duque. E a iminência da morte dele lhe afligia, como se fosse capaz de ouvir o badalar do relógio do tempo, que não interrompe seu curso, nem tarda seus desígnios.

Quando Emma pensava em seu pai, todas as noites, sentado em um sofá do seu escritório, esperando-a com ansiedade, a fim de saber se finalmente havia se encantando por alguém, se havia um homem no mundo digno de assumir a função do duque como seu protetor, a jovem se arrependia profundamente.

Ela precisava cumprir com seu dever. Era o mínimo que seu pai merecia para que pudesse partir serenamente ao descanso eterno.

Com seu senso de propósito renovado, a jovem adentrou o salão de baile da suntuosa propriedade de duque de Duckbran numa bela quarta-feira. Havia se espalhado um infame mexerico de que Emma ainda não aceitara nenhuma das ofertas de casamento que haviam sido feitas porque sabiamente estava à espera de uma oportunidade melhor. Com seu dote e beleza, as pessoas supunham que seu alvo era pescar o maior partido da temporada, Lorde Thompson, o jovem e rico duque de Duckbran.
Emma enfureceu-se ao saber dos comentários a seu respeito. Ela não era uma minhoca içada por um anzol!

No entanto, não demorou muito para que a jovem voltasse à razão e ponderasse sobre a realidade dos fatos. Talvez Duckbran fosse a escolha mais adequada. Ele sempre fora gentil com ela e dava a impressão de não estar desesperado por seu dote como a maioria dos cavalheiros que se aproximavam. Ele também possuía uma aparência agradável. Emma poderia observá-lo por horas e ainda o acharia bonito. Segundo sua tia, ele era um homem responsável com suas finanças e não nutria vícios abomináveis.

Ela vestia o melhor vestido que possuía. Um modelo com um decote baixo, contudo, ainda preservava certo senso de recato nele; adornado por uma saia bufante e habilmente trabalhado com bordados de fios de ouro. Aquele vestido custara uma verdadeira fortuna, mas seu pai não se importara em presenteá-la com tudo o que o seu dinheiro pudesse comprar.

Foi pelo amor e devoção que sentia pelo pai que ela começou a desfilar pelo baile toda sorrisos e meneios coquetes de cabeça. Aceitou os convites de dança que mais lhe pareceram vantajosos e em poucos minutos seu cartão estava inteiramente preenchido. "Seja uma minhoca, Emma", ela repetia para si mesma, tentando não franzir o cenho em desagrado, "Jogue a isca", "Seja uma maldita minhoca sedutora e fisgue um marido".

Quando o duque de Duckbran a conduziu para o centro do salão, onde uma valsa estava prestes a ser iniciada, o sorriso de Emma já estava causando dores nos músculos de sua face. Mesmo assim, ela permaneceu sorrindo. Até que George Bridgerton surgiu em seu campo de visão e ela não pôde mais sustentar aquele ar encantador (e altamente forçoso). Ele estava recostando em um canto, tão inerte que a pilastra em que se encostava e ele pareciam feitos da mesma matéria.  O rosto dele estava ligeiramente oculto pelas sombras, mas o ínfimo deslumbre foi capaz de fazer seu coração soltar dentro do peito. Não, fez com que seu coração desse sua primeira batida naquela noite.
Era, claro, uma ironia do destino que o único homem que não a cortejava era exatamente o que a fazia suspirar involuntariamente pelos cantos.
—A senhorita está deslumbrante esta noite. —Thompson elogiou.
—Obrigada. —a resposta foi curta e desprovida de qualquer flerte.
—É sempre uma honra ser agraciado com uma beleza de tamanha magnitude.
—Que gentil...
— Digo apenas o que é uma verdade incontestável.
— Hmmm...
— Tenho pensado muito na senhorita ultimamente. —com muita sutileza o duque diminuiu a distância entre eles.
— O senhor é amigo do Sr. Bridgerton? —a pergunta saiu abruptamente da boca de Emma.
Thompson pigarreou, desconfortável.
— Perdão?
— O Sr. Bridgerton. Vocês são amigos?
— A qual deles a senhorita se refere?
Pela expressão dele, Emma logo se deu conta que devia ter ficado quieta. Pensando em uma desculpa rápida, ela desconversou:
—É que eu soube que o Sr. George Bridgerton é um famoso escritor, assim como os pais, e fiquei curiosa. Eu sou aficionada... em literatura.
— Ah sim. — a voz dele soou plácida  —Bem, digamos que George não é muito sociável. Nós já jogamos algumas vezes juntos no White's, no entanto, ele possui uma natureza, pelo que se pode perceber, reservada e introspectiva.
Emma refreou o desejo de fazer mais perguntas. Havia milhares de questionamentos em sua mente, mas trazê-los à tona seria temerário.  Mas como se aproximar de um homem que aparentava sustentar um campo de força ao seu redor, pronto para protegê-lo de intrusos?
Emma queria romper aquela barreira de segurança.

***
George ouviu passos. O corredor estava deserto, aparentemente, mesmo assim um crack-crack podia se ouvir ao fundo. Ele parou e som parou com ele. Então tornou a andar e novamente ouviu aquele ruído sútil
contra o piso de madeira. A sua lógica o impediu de gritar "Quem está aí?" ao vazio. Obviamente quem quer que fosse, não desejava ter sua identidade revelada. Ele apressou os passos. Nessa hora, George começou a ouvir um barulho estranho, como se alguém estivesse tentando imitar o canto de um pássaro. Um pássaro asfixiado, na verdade.  Ou uma criatura originada do cruzamento de um pássaro e uma galinha.
George tentou, mas foi incapaz de se manter impassível diante daquele som cômico.
— Sr. Bridgerton... — uma mistura de assobio e idioma inglês chamou seu nome.
Ele tentou descobrir de onde o som viera, mas estava escuro e o corredor possuía muitas portas e vasos gigantescos de planta.
— Sr. Bridgerton, sou eu, Emma Stonne.
George estancou no lugar, o corpo todo enrijeceu de imediato. Mas que inferno!

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