Os braços de Emma se agitaram enlouquecidamente em direção ao céu, incapaz de reprimir a euforia que tomara toma de si ao ler o bilhete enviado pela senhorita Durbshire. Eram as melhores notícias que uma boa amiga gostaria de receber. Enquanto comemorava de modo nada gracioso e elegante, perguntou-se onde estaria seu marido. Era imprescindível que estivesse com ele a fim de observá-lo reagir às boas novas. E queria ser ela mesma a contar. Oh, não, recordou-se que George pretendia ir a casa dos seus pais naquela tarde, se ele saísse antes que ela o encontrasse, certamente perderia o privilégio de ser quem o deixaria a par ndos acontecimentos recentes sobre Thomas e Nathalia, e seria jogada fora a oportunidade de exaltar o sucesso do seu plano.
Isso ela não podia permitir.
Saindo apressada pela casa, Emma foi diretamente ao escritório do marido. Seu sorriso tomava quase seu rosto inteiro enquanto ia em direção a ele. Céus, ela estava imensamente feliz. Encontrara o próprio amor e felicidade, e agora Nathalia alcançara o mesmo. Emocionada considerou que por toda a vida as duas seriam, além de amigas, irmãs.
— Tenho algo para lhe contar! — anunciou ela, eufórica.
George, que a observava com ternura desde que a viu atravessar a porta, demorou-se em analisar os olhos da esposa com atenção. Havia um brilho quase mágico refletido em suas íris. Não precisou muito para compreender que a felicidade da esposa estava diretamente relacionada com a novidade que ele acabara de tomar conhecimento por meio de uma missiva enviado por seu irmão. Thomas não era um homem que julgasse necessário valer-se de uma imensidão de palavras quando a mesma mensagem podia ser transmitida em duas, ou três, simples frases. E foi com muita simplicidade, refletiu George – e genuíno encantamento – que Thomas havia lhe escrito que Nathalia havia aceitado seu pedido de casamento. Mais valioso que um discurso emocionado, era sem dúvidas, a falta de discurso em virtude da intensidade de tamanha emoção. George admirava homens de poucas palavras. Estava convicto que seu irmão faria sua estimada amiga feliz.
— Tenho algo para lhe contar! — repetiu Emma diante do silêncio. Ela ainda parecia eufórica.
Sem movimentos bruscos, George arrastou a missiva que estava sobre a mesa, até que estivera fora de vista. Amassou o papel sobre os dedos e o guardou no bolso do seu paletó. Mais tarde, o lançaria na lareira, para que Emma nunca viesse a saber que Thomas havia lhe escrito aquela missiva.
— S-s-sou todos ouvi-vi-vidos, minha qu-querida.
Exultante, Emma lhe contou sobre o bilhete que recebera de Nathalia. George fingiu habilmente surpresa. Em seguida, abraçou a esposa, alegre pelo acontecido, o que não era em nada fingimento.
— No fim, nossa interferência mostrou-se proveitosa. — comentou ela, aninhada nos braços do marido.
— C-c-c-convidar Si-sir Nicholas f-f-foi um-muito inteli-li-ligente de sua parte.
Emma não iria discordar.
— Os homens são previsíveis nesse aspecto. Basta que um demonstre interesse para aflorar o interesse dos demais. Thomas ocultava seu afeto, mas eu sabia que ele não faria isso na frente de Sir Nicholas, um libertino notório.
George tocou os seus lábios na orelha da esposa, satisfeito a sentir a pele dela arrepiar.
— Est-t-ta é a últi-ti-ti-tima vez qu-que convi-vi-vidamos um not-t-t-tório libertino pa-para tomar cha-chá em nossa c-c-casa. — ele decretou.
— Não vejo mal nenhum nisso. — disse Emma, dando de ombros, e sorriu. — Será que Sir Nicholas foi capaz de despertar não somente o ciúmes de Thomas, mas também o seu, George?
Era algo além do ciúmes, mas ele jamais lhe confidenciaria isso. A verdade era que a presença desenvolta de Nicholas Stuart o incomodava ainda que sem ser esta a intenção do cavalheiro. Ele dominava suas palavras, podia usá-las a seu bel-prazer e empregava-as com destreza. Por isso, Nicholas estava sempre cercado de seus pares e no centro de toda conversação divertida que ocorria durante os bailes e demais eventos. George era o oposto, e ter Nicholas ali em sua sala o fizera lembrar do fato.
— E-e-eu gost-to quan-do-do som-mos apenas eu e v-v-você. — disse George por fim. — Perm-m-mite qu-que eu ignore a etiqu-queta e prove o gost-t-to dos biscoitos di-di-direto dos s-s-seus lábios.
Com um leve rubor lhe cobrindo as faces, Emma sorriu para ele, sua cabeça lhe enchendo de ideias. Ainda era cedo, mas nada a impedia de pedir a uma criada que preparasse um bandeja de chá com biscoitos. Muitos biscoitos. Ela era a senhora da casa, afinal. Não seria nada anormal que sentisse fome repentinamente.
Foi então que, enquanto sua mente evocava a imagem de toda sortes de biscoitos, um mal-estar súbito lhe atingiu, causando-lhe náusea, como se seu estômago reprovasse a ideia. Emma pensou que se parasse de pensar em biscoitos, aquela sensação debilitante logo passaria, no entanto, logo em seguida, sua indisposição física agravou-se de tal maneira que ela mal teve tempo de desvencilhasse dos braços de George e corresse até a janela, vertendo para fora todo o conteúdo do seu estômago.
Uma hora depois, George ainda estava preocupado com Emma. Era irrelevante o números de vezes que havia garantido a ele que já sentia-se melhor, tentando dissuadi-lo de chamar um médico para examiná-la. Não lhe daria ouvidos nesse assunto. Acaso, era Emma o seu bem mais precioso, e devia zelar por sua saúde e comodidade acima de qualquer coisa. Tendo isso em mente, ele chamou o velho médico da família, que tomou todas as cautelas de praxe para descobrir o que havia desencadeado a súbita indisposição.
Enquanto o doutor a examinara, o próprio George havia ido até a cozinha averiguar a cozinheira sobre algo que possa ter causado mal a sua esposa. Um novo tempero, um alimento mal conservado...
— Eu j-juro, meu senhor, q-que jamais lhes servi um prato que não estivesse em perfeita condições de ser consumido. Eu me d-dedico muito...
George suspirou, frustrado.
— E-e-e-e-eu acredi-di-dito, Sra. Potter. — interrompeu-a. — N-não preten-n-ndi diz-z-zer o contrár-r-rio. Est-t-tou apenas preoc-cupada.
A robusta cozinheira assentiu, sustentando o olhar esbulhado de quem temia pelo emprego e boas referência. Vendo que sua presença ali só estava causando medo naquela senhora, ele se retirou e esperou impaciente em seu escritório enquanto o médico terminava de examinar sua esposa. Queria ter ficado ao lado de Emma, mas sua presença ali estava claramente deixando-a mais nervosa.
Cristo, o que deu nele? Ele estava beirando ao descontrole o que surpreendeu a si mesmo. Precisava que Emma estivesse bem. Precisava que ela se recuperasse logo.
**
— É-é-é-é mu-mu-muito g-g-grave, doutor? Inquiriu George, não dando ao mesmo tempo do homem a sua frente se sentar.
— Não se preocupe, George. Sua esposa está bem.
Um grande alívio inundou George naquele instante.
— É claro que a condição dela exigirá certos cuidados, mas nada que devamos nos preocupar. Na verdade, é motivo para se alegrar, meu rapaz. Sua esposa lhe agraciou com um possível herdeiro. Rezemos para ser um menino.
George achou que sua cabeça fosse explodir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A linguagem do coração
Historical FictionAlerta: Se você ainda não leu O segredo de Colin Bridgerton da Julia Quinn, ou o segundo epílogo que a autora escreveu, esta história pode conter spoilers. Emma Stonne vive cercada de admiradores desde sua primeira aparição na sociedade. A combinaçã...