Capítulo 8

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George sabia que se tratava de um sonho mesmo antes do seu subconsciente despertá-lo. Havia plausíveis evidências de que nada daquilo era real. O mistério impregnado no ar, a leveza incomum na forma como o vento tocava seu rosto. Até o sol estava mais brilhante no horizonte. E, claro, a maior indicação de que tudo não passava de uma criação de sua imaginação era a mão suave e cálida que segurava a sua.
— George... George... George...
Ela sussurrava seu nome como se fosse uma espécie de segredo. O modo como o chamava dava a impressão de que desejava conquistar algo além de sua simples atenção.
Ele ansiou responde-la com o mesmo encanto na voz. Ansiou pronunciar o nome dela em troca, mas temeu profanar a perfeição do momento com suas falhas grotescas de comunicação. George queria que ela o ouvisse da mesma forma que era ouvida. Com exatidão e livre de empecilhos, porém, alguns sonhos já nasciam impossíveis.
— Fale comigo, George... — o fruto de sua imaginação murmurou, aproximando-se de seu ouvido.
Ele não podia falar. Se abrisse a boca estava certo que a afugentaria. E precisava dela ali, ainda que por somente mais uns poucos minutos de fantasia. Mas a mulher tinha cheiro madressilva e de terra molhada pela chuva. E tinha o perigoso poder de desarmá-lo até que não restasse uma única ponderação racional em sua mente enfeitiçada.
— Você é a mulher mais linda que meus olhos já viram, Emma Stonne. — as palavras abandonaram seus lábios por vontade própria.
Ela sorriu.
— Que grande adulador você é, Sr. Bridgerton! — acusou-o, divertida. — Não que eu me incomode com essa falha no seu caráter, de todo modo. Para meu inteiro deleite, vou fingir que você não disse a mesma coisa para pelo menos cinco mulheres durante sua existência galante.
— Nunca! — George ergueu uma sobrancelha, simulando estar ofendido. — A palavra de um homem não deve ser questionada, Lady Stonne. Você jamais segue as convenções, não é mesmo?
— Não se eu puder evitar.
George gargalhou alto da ousadia com que ela se expunha para ele. Emma era franca, não temia mostrar sua verdadeira personalidade e tinha a capacidade de fazê-lo esquecer do restante do mundo.
Ela ergueu a cabeça, apoiando-a sobre a mão e só então ele percebeu que ambos estavam deitados na grama. George ergueu a cabeça. À sua volta se estendia um verdejante campo ermo que parecia não ter fim. Para onde se olhava não se via sinal de casas ou civilização. Esse fato deveria ter causado preocupação em um homem comumente centrado e sistemático como George, porém, ele se viu feliz com a sensação. Sozinhos, ele, Emma e a aquele campo. Um paraíso só deles. Admirando o rosto delicado da mulher ao seu lado, ele pensou que havia ganhado um anjo.
— Em que você está pensando, George?
— Em como eu gostaria que tudo isso fosse real.
Emma teve a tão brilhante ideia de beliscá-lo o braço.
— Aiii! Por que fez isso?
Dando de ombros, ela sentou sobre as próprias pernas e o encarou.
— Para lhe infringir dor, obviamente.
— Creio que eu tenha chegado a essa conclusão sozinho. O que eu quero saber são seus motivos ocultos, milady.
— Bem, meu senhor, eu acabo de apresentar uma prova científica de que não estamos em um sonho. Não há como experimentar dor física durante um sonho.
— Quão científico um beliscão pode ser? — George indagou, esforçando-se para não rir.
— Extremamente científico. — Emma retrucou com ar sério.
Os dois se olharam pelo o que pareceu uma eternidade até Emma quebrar o silêncio.
— Agora é sua vez.
— Perdão?
— Mostre-me um uma prova científica.
— Eu não vou beliscá-la, Emma!
— É claro, — ela fez uma pausa, e as suas maças do rosto assumiram um tom carmesim — Você pode... tentar algo diferente.
Antes que ele acordasse, antes que a imagem se dissolve bem diante dos seus olhos, George a beijo como uma paixão da qual desconhecia a existência. Os seus lábios tomaram o dela com um desejo primitivo. Emma não resistiu às investidas dele. Também o queria. Ele usou a língua para estimulá-la a entreabrir os lábios e quando a língua de ambos se tocou aquele momento ficou suspenso no tempo. Os segundos, minutos e horas deixaram de existir. Era o beijo dele que comandava a duração da vida. Aos lábios de Emma, George daria o nome de eternidade. Poderia perder-se neles por milênios sem sentir-se esgotado ou fatigado.
— George... — ela gemeu contra sua boca.
— E-e-e-e-em-m-m-m...
Mais que diabos estava acontecendo?
— E-e-e-e-e-e-em-m-m...
Ele foi severamente lançado de volta à prisão do seu próprio corpo, acorrentando a uma língua inútil. A figura de Emma foi perdendo a tonalidade, até verter-se em uma miragem transparente. Ele tentou toucá-la, mas o corpo dela não era mais feito de matéria humana. Ela era uma fumaça diante dos seus olhos confusos, desaparecendo pouco a pouco.
George queria gritar.
GRITAAAAAAAAAR.
Mas nada saía.
Emma evaporou.
O grito dele ficou preso na maldita garganta.
Então ele acordou. Não ficou surpreso ao dar-se conta que ofegava como se acabasse de participar de uma corrida de cabrioles. O sonho tinha sido tão real e insano. Era como se ele pudesse sentir na boca o gosto dos lábios de Lady Stonne.
Cristo, mas que diabos!
George parou um segundo para pensar na impropriedade de usar seres inimigos na mesma frase, no entanto, tinha problemas maiores naquele instante. Como o fato de ter que encontrar Lady Stonne no baile daquela noite.

✨ Ladies, me desculpe pelo atraso e pelo capítulo curtinho. Estou tendo um problemas no trabalho e não nem fim de semana existe mais da minha vida. Então tô escrevendo na hora do almoço e quando dá. Conto com a compreensão de vocês, depois do final do mês, tudo vai voltar ao normal na minha vida (mil vezes, amém rs)

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