Capítulo 27

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— Emma! — cumprimentou Nathalia, alegremente, ao entrar na sala. — George! — o amigo foi a segunda pessoa que avistou, despertando-lhe um sorriso no rosto. — Thomas.... — Nathalia estancou no lugar. — Thomas? — repetiu, como se seus olhos estivessem lhe pregando uma peça — O que faz aqui?
O cavalheiro, que havia levantado quando Nathalia passou pela porta, poderia muito bem lhe fazer a mesma pergunta. Estava surpresa em vê-la ali. Pelo o que tinha se inteirado, a senhorita Durbshire passaria o dia no escritório do pai auxiliando-o em um processo.
— Esta residência pertence ao meu irmão, senhorita Durbshire. — ressaltou Thomas, áspero. Se ela pretendia demostrar o desagrado que a presença dele lhe causava, bem, ele faria o mesmo. — Suponho que seja normal que tenha sido convidado para uma visita.
No mesmo dia e horário que ela havia recebido um convite fugia claramente da normalidade, concluiu ela para si mesma, e, em seguida, foi incapaz de evitar lançar um olhar acusador na direção de Emma.
Emma, por sua vez, não via aquela animosidade quase tangível como um obstáculo para os seus planos. Ainda não entendia a reação da amiga. Perguntava-se o que teria acontecido entres eles para que chegassem a esse estado inflamado de convivência. A contragosto, Nathalia sentou no sofá oposto onde Thomas se encontrava. Ele tampouco mostrou-se decepcionado com  a distância. Emma tranquilamente serviu o chá e tentou manter uma conversa agradável sobre qualquer que fosse o assuntou que lhe surgisse à mente.
—  Soube que falta poucos dias para o Parlamente entrar em recesso. — comentou para ninguém em específico. — Creio que a cidade em breve se esvaziará e todos irão para o campo. Oh, deve estar tão agradável o tempo no campo a esta altura do ano.
— Julgue-me, mas sou uma pessoa totalmente avessa a monotonia e quietude dos pequenos vilarejos e condados. — disse Nathalia, quando o silêncio tornou-se insuportável. — Talvez o fato de minha família não possuir uma casa de campo tenha contribuído para forma minha opinião, mas acredito que me sinto mais confortável com o barulho e movimento de Londres.
— J-j-já eu, apre-pre-precio em d-demasia o a-a-ar límpi-pi-do e o-o aroma agrad-dável do campo.
A sala caiu novamente em um silêncio incomodo.
— E quanto a você, Thomas? Prefere o campo ou a cidade?
— Sempre me encantou mais a vida agitada na cidade. — respondeu por educação. E então encarou fixamente a senhorita Durbshire. — Entretanto, ultimamente, eu venho achando esta cidade terrivelmente aborrecida.
— Talvez devesse passar uma temporada no campo. — sugeriu a cunhada. — George e eu temos pensando em visitar Kent assim que seu livro estiver concluído.
Thomas meneou a cabeça.
— Vou pensar no assunto.

Os descontentamento de seus convidados era tamanho que aos poucos Emma começou a lançar olhares preocupados na direção do marido. George lhe deu um sorriso de cumplicidade, embora, no fundo, os dois estivessem ruminando o mesmo pensamento: aquele plano fora um fiasco. Emma olhou desesperadamente para o relógio, como se cada segundo se alastrasse por horas. Thomas e Nathalia não abriam a boca, exceto quando estimulados a fazê-lo, ou para experimentar alguns dos bolos e sanduíches servidos. O chá, àquela altura, já tinha ficado morno e temia que recusariam se ela oferecesse uma segunda bandeja de chá, o que alongaria a visita além do desejado. 
Toda apreensão de Emma aliviou, contudo, quando o mordomo se aproximou e entregou a George um cartão. Finalmente! Se por dentro vibrava efusivamente, em seu exterior, Emma manteve contida e aparentemente despreocupada. Não demorou muito até que o novo convidado fosse trazido até eles.

Sir Nicholas Stuart, um baronete jovem e de aspecto impressionante, cumprimentou a todos com inegável bom modo, típico de sua posição. Emma havia cruzado com o homem em duas, ou três ocasiões, e lembrava-se de ter dançado com ele certa feita. Sabia de fonte segura que Sir Nicholas estava à procura de uma esposa e que não dispensava nunca um convite social, seja qual fosse a natureza. E o fato de George ter estudado com ele na juventude e conhecer a informação privilegiada de que o dito cavalheiro tinha uma predileção por moças ruivas, com curvas ostensivas e uma língua afiada, fez com que Emma o considerasse ideal para seus intentos.
Minutos mais tarde, já era possível testificar que Sir Stuart agia de modo esplendoroso para empenhar um papel que ele mesmo desconhecia que era esperado dele. Com atitudes descaradamente galantes, centrava-se sua total atenção em Nathalia.
— É imperdoável que ainda não tivéssemos nos encontrado antes de hoje, senhorita Durbshire. — disse, sorrindo como um autêntico Don Juan. — Se não estivesse na presença de graciosa dama seria capaz de amaldiçoar o destino por tão pronunciado lapso.
Um som inarticulado, e muito estridente, irrompeu de Thomas ao ouvir Stuart referindo-se a Nathalia como uma graciosa dama, atraindo a atenção da pequena plateia para si.
— Algum problema, Sr. Bridgerton? — inqueriu Nathalia, com uma expressão que revelava que havia compreendido a situação  dele.
— Em absoluto.  — disfarçou ele. — Somente me engasguei com  um pedaço de bolo.
— Comer com menos afoitamente talvez o ajudasse a evitar tal percalço. — ironizou Nathalia.
— A experiência me fez precavido, senhorita. — retrucou enigmaticamente. Em seguida, virou-se para Sir Nicholas e esclareceu: — Sempre que estou no mesmo cômodo que a senhorita Durbshire e há comida envolvida, tendo a comer de modo mais apressado a fim de que sobre algo para mim, levando-se em consideração que apetite dela iguala-se a dez homens em desenvolvimento. Antes mesmo do senhor chegar, ela já havia comido cinco sanduíches.
— É mentira! — retorquiu Nathalia, tons de rubro tingindo-lhe o rosto. — Foram apenas três, seu patife!
— Th-thomas. — alertou George, temendo o pior.
— Disse algo de errado? — perguntou o irmão inocentemente.
— Foi um comentário indelicado, Bridgerton. — repreendeu Sir Nicholas.
— Ora, estamos todos entre amigos e velhos conhecidos. Além disso, alimentar-se é um hábito saudável e deve ser apreciado. — fez uma pausa e sorriu para Nathalia. — Eu não quis de maneira nenhuma ofendê-la.
— Sendo assim, suponho que um pedido de desculpa seria o que a senhorita Durbshire deseja. — argumentou Nicholas, olhando afetuosamente para a jovem. — A senhorita não merece nada menos do que consideração e cortesia.
Algo de íntimo na forma como Nicholas Stuart observava Nathalia fez o sangue ebulir sob as veias. Que tivesse que suportar os galanteios baratos de um canalha como ele, já remoía as vísceras, agora quem aquele pavão arrogante julgava ser para sair em defesa dela? Francamente, mal se conheciam.
— Não sabia que conhecia a senhorita Durbshire tão intimamente, ao ponto de desvendar até mesmo seus desejos ocultos. — observou Thomas. — E quem lhe nomeou seu guardião? Se Nathalia tem algo a me dizer que use os próprios lábios.
— Thomas. — desta vez foi Emma a tentar alertá-lo.
— O que foi?
— Por favor... — Emma insistiu.
— Céus!  — explodiu ele, pondo-se em pé. — Duas semanas atrás Nathalia teria rido do que eu disse e revidaria com um comentário igualmente mordaz. — ele pensou um segundo no que disse. — Não. Na verdade, o comentário dela teria em muito superado o meu em inteligência e acidez. E ninguém aqui estaria se sentindo compelido a protegê-la de qualquer forma, pois não há mulher na Grã-Bretanha que precise menos de proteção do que ela. Nathalia é destemida, forte e não permite que a ofendam em silêncio. Uma jovem tão extraordinária não carece da defesa de um pavão engomado como Stuar!

Durante seu discurso eloquente, ele ocupou-se de não encará-la, todavia, Nathalia não conseguia desviar os olhos deles. Tinha certeza que sua boca havia se aberto deselegantemente em algum momento enquanto ele dizia aquelas palavras, mas não sentia que podia se mexer naquele instante.

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