Capítulo 12

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— Agradeço o convite milady. — disse Emma, olhando para a viscondessa como se fosse uma espécie de anjo da guarda.

— É um prazer, Emma. —  Kate sorriu-lhe com uma expressão sincera. —  E agora pare de me agradecer, você já fez muito isto esta noite e ainda nem chegamos ao portão da propriedade do duque.

  Daquela posição, Emma ainda podia ver a figura encurvada de seu pai entre as espessas cortinas que impediam que a luz atravessasse a janela do seu escritório. Ela percebeu com espanto que tudo saíra conforma almejado naquele dia. A princípio, temeu que a sua ousadia em ir participar do chá a expusesse terrivelmente, de modo que os Bridgertons a desconsiderassem no futuro como uma boa escolha – "se" ou "quando" ele a escolhesse —  para ser esposa de George.

Mas agora, ali estava ela, na carruagem oficial do visconde, a caminho do camarote da família Bridgerton, onde desfrutaria da companhia do Sr. Bridgerton pelas próximas horas. Poderia haver algo mais maravilhoso? Em seu estado de arroubo apaixonado, Emma acreditava que não. Quando o trotar da parelha de cavalos foi perdendo o ritmo, o coração dela deu um salto, que a fez institivamente abraçar o próprio corpo com medo que seu coração saísse saltitando mundo afora. Oh, estar apaixonada, refletiu ela, era expor-se ao ridículo diante de si mesmo e dos outros. Mas com um riso divertido, ela, que até aquele estágio de sua vida nunca imaginara que experimentaria esse sentimento, considerou que valia imensamente a pena ser ridícula.

Cerca de uma hora mais tarde, porém, Emma ponderou que talvez estar apaixonada não valia tão a pena assim. Era um inconveniente na verdade. Terrível. Trágico. Tentando não bater o leque impacientemente contra os dedos, ela se manteve pétrea em seu lugar, os olhos fixos – ou pela menos era o que pretendia aparentar – na orquestra que se apresentava no palco. No entanto, seu próprio corpo a traía com frequência,  inclinando-se levemente para frente a fim de que conseguisse ter um vislumbre do perfil de George, que deliberadamente, supunha, sentara no lado oposto ao dela do camarote.

Emma pensou amargurada que o homem sequer dera sinal de ter notado sua presença, como, aliás, acontecera todas as outras vezes em que se encontraram. Sua distância fria e desinteressada fazia seu rosto aquecer de vergonhada. Ela olhou mais a frente, um pouco acima estava o camarote do duque de Grandfield, a melhor localização de todo o lugar, e onde ela se encontraria tranquila em seu próprio espaço, sem sentir-se indesejada. Mas não, ela tinha que acreditar nas falsas esperanças que as palavras de Natalia plantaram em sua mente. Oh, por Deus, que tola! A quem ela podia culpar além de si própria? Tudo começou e terminou sendo apenas uma fantasia pueril de uma jovem com inclinações para sonhos impossíveis chamada Emma Stonne.

— Não está se divertindo, milady?

Ela virou em direção a voz e encontrou o rosto de Penelope bem perto ao seu.

— Oh, sim. Muitíssimo. Eu... adoro esta música.

— Claro. Esta sinfonia de Bath que estão tocando é magnifica.

— Concordo, senhora Brridgerton. É a minha música predileta do compositor.

Penelope deu um risinho, inclinando-se até que só Emma fosse capaz de ouvi-la.

— Eles estão tocando uma peça de Mozart, Lady Stonne.

Ah.

Emma estava envergonhada demais para inventar qualquer desculpa.

— Eu devo estar um pouco distraída esta noite.

— Eu te entendo, querida. Às vezes temos dificuldade de manter nossos pensamentos próximos ao nosso corpo, ao nosso mundo. Eles simplesmente voam.

Ela ficou admirada em como a mulher ao seu lado tinha um dom formidável para usar as palavras não apenas de forma escrita. Em retrospecto, Emma notara que todas as vezes que Penelope abria a boca o que estavam ao seu entorno se calavam, como se desejosos de ouvi-la. Isso em uma mulher era uma qualidade quase inexistente. Não, ela corrigiu-se rapidamente, era uma qualidade,  embora frequente, raramente revelada em público.

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