— Deve ser doloroso para os pais. — emendou tia Dothe.— Ele me pareceu um sujeito notável nas poucas vezes em que tivemos a oportunidade de conversar. — interveio tio Mafred, que apesar de seus muitos defeitos, era de fato um homem justo. — Um homem que supera os obstáculos que a vida lhe impõe só pode ser considerado digno nota.
— Na mais indulgentes das avaliações — começou Thompson e os pelos da nuca de Emma se eriçaram com medo de sua opinião — George Bridgerton é um homem, ainda que incompleto, bom e merece nossa consideração. Minha querida Emma é uma grande admiradora do seu trabalho, não é mesmo?
Havia algo na forma como ele lançou a pergunta que a incomodara. Um toque de acusação velado, como se ele estivesse ocultando deliberadamente o real sentido da frase. Emma sentiu uma pontada de decepção. Era com esse homem que iria se casar na manhã seguinte. Que Deus lhe ajudasse!
— O que quer dizer quando se refere ao Sr. Bridgerton como incompleto, milorde? — ela ergueu a mão, solicitando que o criado retirasse seu prato, e voltou-se para seu noivo com olhar de inocência. — O homem em questão sempre portou-se, ao meu ver, com bons modos, vem de uma família respeitável e de excelente nome, além disso, é um brilhante escrito.
— Refiro-me a sua debilidade da fala. — rebateu Thompson sem acovardar-se.
— É enervante ter que ouvi-lo. — murmurou Cressida. — Soube de fonte segura que Penelope Bridgerton deixou o menino cair ainda criança e sua cabeça fora atingida, o que desencadeou uma série de enfermidades.
— Eu acredito ter ouvido que o homem nascera assim. — opinou Lady Dickson, que até o momento mantivera-se concentrada em seu próprio prato. — E não falara até alcançar a idade adulta. E mesmo agora, quando o faz, só lhe dá ânimo falar com sua própria família. Um ser bem insociável, devo dizer.
A conversa continuou. Nenhuma das especulações continham o menor cabimento, mas isso não parecia desestimular o grupo. A verdade era menos desejável que o grande divertimento que ocupar-se com a vida alheia causava. Emma estava farta. Aquilo era ridículo.
— O relato que recebi sobre a história do Sr. Bridgerton é outro. — declarou Emma em tom de confidência. — Chega a ser escandaloso revelar e quem em contou me alertou que nunca o fizesse, por isso mantenho silêncio sobre o assunto.
O mistério que envolvia sua voz tentou a todos. Até mesmo sua tia insistiu que ela contasse o que sabia. Peter Thompson observava a noiva com os olhos semicerrados e cautelosos enquanto a jovem parecia se decidir se devia contar ou não o que sabia.
— Conte, lady Stonne, não nos deixe curiosos. — disparou lady Filcoth.
Ela fez sua melhor expressão de inocência antes de começar.
— Alguém, cujo nome não estou autorizada a divulgar, mas posso apenas afirmar que trata-se de alguém bem próxima a família. — fez uma pausa premeditada e seus lábios tremeram — confidenciou-me que uma mulher envolvida com feitiçaria lançou uma maldição sobre o menino ainda com poucos dias de vida. A feiticeira fora contratada por alguma dama enfurecida com as colunas infames de lady Whistledown, que depois todos vieram saber que trava-se de ninguém menos do que Penelope Bridgerton.
— Mas isto é um disparate! — disse tio Mafred.
— Provavelmente, titio. Mas de todo modo, apenas estou contando o que me disseram. Uma vez lançada uma maldição ela não pode ser desfeita, a menos que a mesma feiticeira o faça, e infelizmente a mulher era uma senhora de cabelos grisalhos que residia em uma cabana nos arredores de Cornuália.
— Quem poderia ter contratado um mulher assim? É horrível. — exclamou lady Filcoth, que se mostrava bastante impressionada.
Emma reprimiu o riso.
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A linguagem do coração
Historical FictionAlerta: Se você ainda não leu O segredo de Colin Bridgerton da Julia Quinn, ou o segundo epílogo que a autora escreveu, esta história pode conter spoilers. Emma Stonne vive cercada de admiradores desde sua primeira aparição na sociedade. A combinaçã...