George reprimiu o impulso de pedir a Emma que repetisse o que acabara de dizer. Não havia de fato necessidade, visto que cada palavra que saíra da boca dela agora flutuava em sua mente, livremente, entretendo-se com o desequilíbrio que causavam nele. Mas talvez, apenas para castigar a si mesmo mais um pouco, ele precisaria ouvi-la uma outra vez.
— Co-co-como dis-sse? — indagou George, sem importar-se com o rubor que a pergunta provocou na pela macia e delicada de Emma.
Até aquele momento, todas suas atitudes haviam sido controladas por uma mistura equilibrada de ousadia e desespero, por isso, ainda que mortificada com a situação, Emma Stonne tinha ido longe demais, abandonado há muito qualquer senso de decoro, para desistir justo quando finalmente se aproximara ao ponto de revelar os anseios de seu coração.
— Eu disse... — começou hesitante — Que lorde Stirling não era o cavalheiro que tinha em mente. — então, como se não tivesse o surpreendido o suficiente, Emma retirou do bolso de sua capa um pedaço de papel amassado e entregou a George. — Eu tomei a liberdade de fazer algumas alterações. Espero que não se importe, Sr. Bridgerton.
Antes que tivesse a chance de medir seus atos, ele tomou entre os dedos o papel e o desdobrou rapidamente, embora mais tarde naquele mesmo dia George provavelmente se recriminaria por demostrar tamanho descontrole. Por ora, no entanto, o que realmente importava era entender claramente quais eram as verdadeiras intenções de Lady Stonne.
Ali, no meio daquele ambiente familiar, onde passara tantas tardes entretido com sua própria companhia silenciosa e compassiva, George viu o mundo que conhecia mudar por completo, como se virasse do avesso. Com os olhos fixos no papel, reconheceu sua própria caligrafia elegante, e os nomes que ele riscara sobre o papel no ímpeto de ajudar a jovem que invadia seus sonhos a encontrar um marido, todos eles riscados grosseiramente, como se alguém furiosamente quisesse que desaparecessem. Apenas um nome permaneceu intocável. George leu uma, duas, quinze vezes, o que restara de sua lista.
Aquela não era sua caligrafia. Mas era certamente seu nome escrito no papel.— Eu descobri, e alegro-me tê-lo feito, que se devo me casar, não faz sentido ouvir qualquer outro conselho que não venha do meu próprio coração. — Emma baixou o olhar, constrangida. — Quando penso no que realmente desejo, é o seu nome que surge em meus pensamentos.
Silêncio.
Um silêncio assombroso.
— O senhor deve me achar uma tola. — diante de tal nervosismo, Emma despontou a tagarelar. — E certamente deve preocupá-lo o fato de que uma jovem tão propensa a situações escandalosas, deseje tornar-se sua esposa, mas eu posso garantir que não o envergonharei em momento algum e vou obedecê-lo e respeitá-lo como se deve. Bem, pelo menos, vou tentar obedecê-lo sempre que suas ordens não se mostrarem absurdas. E...
— Che-cheg-ga.
Sua voz saiu tão ríspida como desejado. Emma se encolheu em seu lugar, parecendo perder metade do seu tamanho e os seus lábios apertaram-se em uma linha fina e rígida. Cristo, parecer desprotegida e magoada naturalmente, sem que se fosse uma artimanha feminina, era a última coisa que George precisava naquele momento. Mas por que ele deveria imaginar que pela primeira vez na vida algo seria fácil e simples? Nunca havia sido.
Nunca seria.
Entretanto, nada comparava-se àquele instante.
— Vo-vo-voc-cê pre-ci-ci-sa ir emb-b-bora. — declarou, afastando-se aos poucos.
Com um gesto impensado, os dedos dele afrouxaram-se, deixando escorregar o papel até que estivesse flutuando pelo ar. Emma observou-o voar por alguns segundo e, logo em seguida, aterrissar no chão. Um pensamento ridículo passou por sua mente, e ela se perguntou se George agora pisaria em cima com sua bota de couro, para evidenciar apropriadamente o que sentia a respeito dos sentimentos dela. Ele não o fez, é claro, na verdade, assim que deu-se conta do que havia acontecido se inclinou, recolheu a lista, dobrando o papel com delicadeza e guardando eu seu bolso. Uma atitude singela, que encheu o coração de Emma de conforto.
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A linguagem do coração
Historical FictionAlerta: Se você ainda não leu O segredo de Colin Bridgerton da Julia Quinn, ou o segundo epílogo que a autora escreveu, esta história pode conter spoilers. Emma Stonne vive cercada de admiradores desde sua primeira aparição na sociedade. A combinaçã...