Capítulo 22

3.3K 395 44
                                    

Depois de sofrer durante longos minutos até finalmente alcançar a janela de Emma, a única que ficava na direção do jardim da propriedade, era esperado que George encontrasse sua amada ansiosa para cair nos braços dele. No entanto,  a jovem aparentemente desconhecia o protocolo estabelecido para encontros clandestinos de amantes apaixonados.  Ele esperou junto da janela, oculto pelas espessas cortinas, por um minuto inteiro, imitando — de modo deplorável — o canto de uma ave cuja espécie George não podia afirmar que existia. Quando ela não se mexeu, decidiu apelar para o miado de um gatinho, um animal mais estimado no ponto de vista feminino, o que também não surtira efeito sobre Emma, que continuava confortavelmente espalhada sobre a cama.

George examinou o quarto em silêncio, certificando-se que estavam sozinhos e então saiu de seu esconderijo e se aproximou. O ruído inconfundível de um ronronar escapava dos lábios dela e, ainda que encontrá-la dormindo fosse o oposto do planejado, não pôde evitar o sorriso que tomou conta do seu rosto ao examinar a cena. Emma vestia o mesmo vestido que usara pela manhã, porém, o penteado havia sido desfeito, deixando os fios soltos por toda a extensão do travesseiro. 
Incapaz de resistir ao impulso, ele a tocou, os fios macios e perfumados deslizando entre seus dedos. Cada vez que George a olhava parecia surgir uma nova evidência da perfeição de Emma. Era a criatura mais bela que a mão criativa e hábil do Senhor foi capaz de criar.

Pela hora seguinte, limitou-se a observá-la dormir profundamente.  Estava sentado à beira da cama, a poucos centímetros dos pés dela, mas, exceto pela carícia suave e breve em seu cabelo, não ousou tocá-la.  Acordá-la tampouco. Embora o desespero de beijá-la estivesse ao ponto de corroer seus ossos, aquela acabou sendo uma das melhores tarde de sua vida, pelo singelo fato de saber que Emma agora estava a um braço de distância.

O sol já se ocultava por detrás do horizonte, quando Emma abriu os olhos.  Com um bocejo sonolento, ela espreguiçou-se enquanto incitava seu corpo adormecido a se levantar. Então, sua mente, agora suficientemente consciente, tomou nota dos fatos. Deitara em algum momento daquele dia sob o pretexto que desejava tirar uma sesta e em seguida... Em seguida, ela devia esperar George aparecer...

— V-v-você parece revi-vi-vigorada, milady.
Emma saltou da cama, surpresa, e quase tropeçou sobre as pernas de alguém, mas um par de mãos forte garantiu seu equilíbrio. O movimento brusco fez seu longo cabeço cair sobre seu rosto, turvando sua visão.

— George? — perguntou enquanto lutava para livrar o rosto de um número considerável de fios.

— V-v-v-você por acaso esta-tava a esper-r-ra de mais alg-g-gum cavalheiro?

— NÃO! — gritou. Então se deu conta de sua falha e diminuiu o tom de voz. — Não. Claro que não.  Eu apenas estou surpresa.

A mão dele tocou o rosto dela e no interlúdio de poucos segundos afastou todo o cabelo que recaia sobre o rosto de Emma. Ele a encarou e sorriu.

— Fi-fi-co feliz em s-s-saber.

Emma bufou e sentou ereta ao lado dele. Em seguida, perscrutou toda a parede a sua frente até seus olhos localizarem o grande relógio ali disposto.  Maldição, ela pensou, ao pelo menos julgou tratar-se de um pensamento, entretanto, pela risada que George soltara, provavelmente havia praguejado em voz alta, e diante do homem a quem tentava impressionar. 

— Desculpe-me. — pediu, envergonhada. — Cristo, não acredito que adormeci, você deve me considerar uma jovem e frívola...

George tentou interrompê-la, mas Emma ainda não estava pronta para se calar.

—  E eu compreendo se o senhor estiver arrependido de ter escalado tão grande altura quando eu não demonstrei a mínima consideração de esperá-lo acordada. Você arriscando quebrar o pescoço a essa altura e eu não pude sequer manter os olhos abertos! Falo seriamente quando digo que o senhor tem a minha aprovação para me odiar...

A linguagem do coração Onde histórias criam vida. Descubra agora