Capítulo 14

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— Recuso-me a acreditar que ele fez isso! — vociferou Nathalia, em um tom de voz elevado, o que atraiu alguns olhares curiosos.
Emma deu de ombros, na defensiva, tentando não se sentir ofendida. Felizmente sua acompanhante estava a bons metros de distância, aproveitando sozinha o passeio.
—  O beijo?
— Não, não. Eu já previa o beijo. —  esclareceu Nathalia, dando o braço a amiga enquanto atravessavam a Regent Street. — Eu me referia ao fato de George arquitetar para que outro homem a corteje em seu lugar.
— Infelizmente. — Emma fez uma pausa e deixou escapar um suspiro lamurioso. — Sua descrença não altera os acontecimentos desta manhã. O Sr. Bridgerton fez exatamente o que lhe contei.
— Essa atitude é tão atípica para alguém como George. Eu podia apostar todos os fios de cabelo da minha cabeça que assim que a beijasse, ele iria fazer o certo e pedi-la em casamento. Ele sempre age corretamente!
De fato, pensou Emma, um lastimável momento para o Sr. Bridgerton optar por uma mudança de comportamento. Até mesmo ela, que o conhecia tão pouco, foi pega de surpresa com o motivo da visita dele aquela amanhã. O homem não só não mostrou nenhuma intenção de propor que os dois se casassem, como deu a impressão de estar desesperado que qualquer outro assumisse a posição de seu marido no lugar dele.
— Ora, nunca mais faça apostas tolas! — brincou Emma, soltando um risinho depreciativo. — Você não arranjará um marido se estiver careca. E pelo menos uma de nós duas deve conseguir se casar com um belo cavalheiro, que faça seu sangue borbulhar apenas com o calor de sua presença.
As últimas palavras de Emma fizeram a jovem ao seu lado parar abruptamente. Aquela era uma das ruas mais movimentadas em Londres. As lojas mais elegantes e variadas abriam suas portas para os mais bastados de um lado a outro da Regent Street, atraindo principalmente as esposas e filhas dos homens mais ricos da Inglaterra. Àquela hora, havia um grande fluxo de damas admirando vitrines repletas de itens luxuosos, em contraponto, Emma e Nathalia pareciam estátuas  no meio de todo aquela movimentação.
— O que foi? —  perguntou Emma, uma expressão preocupada tomando posse do seu belo rosto.
— É assim que George a deixa?
—  Perdão?
—  Ele faz seu sangue borbulhar? — indagou Nathalia, genuinamente curiosa.
Emma de repente ficou desconcertada com o destino que aquela conversa estava tomando. Estava certa, horas antes, que tudo se assentaria dentro dela depois que compartilhassem com alguém todos os sentimentos que apertavam seu peito. Agora já não tinha tanta certeza. Era doloroso pensar em George, porque lhe assustava a perspectiva daquele cavalheiro habitar continuamente em seus pensamentos. Exalando fundo, ela tentou não tomar nota da própria resposta quando abriu os lábios.
—  Nas primeiras vezes que eu o vi, me senti assim. —  confessou baixinho. —   No entanto, quando meus olhos recaíram sobre ele esta manhã foi diferente. Era como se eu sequer necessitasse de uma gota de sangue para sobreviver, pois George tinha ido até ali por mim. Eu não senti o sangue correr em minhas veias, não escutava meu coração bater dentro do meu peito, tampouco era consciente se havia ou não ar nos meus pulmões, tudo que existia era George. E por um milésimo de segundo, pareceu suficiente.
Nathalia arfou como se estivesse diante do próprio Lord Byron recitando apaixonadamente o mais famoso de seus poemas. Não era a beleza das palavras em si. Mas a força do significado que tinham quando se desprendiam dos lábios de Emma. A jovem se perguntou se seu amigo estivesse bem ali atrás de Lady Stonne naquele instante, ouvindo-a, teria se arrependido do que fizera, se a tomaria em seus braços e chocaria toda a cidade beijando-a com ardor.
Não havia ninguém atrás de Emma, no entanto. Apenas o murmúrio do vento correspondeu a sua declaração de amor.
— Sinto muito, Emma.
Instintivamente uma buscou a mão da outra, e os dedos uniram-se em um aperto solidário. Ela deu um sorriso forçado a Srta Durbshire.
— Não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. — fez uma pausa, então se corrigiu. — Na verdade, eu estou bem. Se o Sr. Bridgerton não corresponde aos...
— Mas ele corresponde!
— Nathalia, sejamos francas, o homem deve estar neste exato momento ajudando Lorde Ridwoof a me comprar um anel de noivado.
A amiga bufou.
— Rumpf! Me lembre de chutar o traseiro de George a próxima que vez que eu o ver.
Emma não conseguir evitar o riso.
— Você fica engraçada quando fala dessa maneira.
Arqueando a sobrancelha, Nathalia se aproximou ainda mais da amiga enquanto ainda caminhavam de vitrine em vitrine.
— Não entendi. O que é tão engraçado?
Um tom rosado cobriu as maças do rosto de Emma.
— Bom, não é muito comum uma moça usando essa palavra.
Nathalia ainda parecia pura inocência, mantendo um semblante falsamente confusa. Ela prendeu uma gargalhada quando Emma engoliu em seco, claramente desconfortável.
— Que palavra?
— Aquela palavra. — Emma tossiu, sem um real motivo, então acrescentou, — a que se refere à anatomia humana.
— Seja mais específica, por favor, Emma. Não possuo uma boa memória.
Ela negou veementemente com a cabeça.
— Você não vai me fazer repetir!
Cedendo ao desejo, Nathalia pôs-se a rir.
— Por que não? Tem medo que a sua língua caia? Garanto que não acontecerá. — ela deu um sorriso zombeteiro a amiga. Inspirou fundo, enchendo seus pulmões e então: — Traseiro, traseiro, traseiro, tras...
Numa fração de segundo Emma se jogou em direção a ela, tampando a boca atrevida da amiga antes que alguém a ouvisse. Fazia tempo em que ser queimada em uma fogueira deixou de ser um castigo aceitável para mulheres, mas elas não deviam abusar da sorte.
— Shiii... Você enlouqueceu!
Mesmo de luvas, a crise de riso da jovem parecia fazer cócegas em suas mãos. Oh Deus, ela não devia rir também, seria um péssimo sinal de encorajamento, e Emma não duvidava que a última coisa que a Srta Durbshire precisava agora era incentivo. Já podia imaginar a amiga gritando "traseiro" a plenos pulmões pelas ruas de Londres, assinando sua sentença de ostracismo eterno na sociedade.
Infelizmente entre o senso de dever e o ânimo necessário para respeitar os ditames existia uma longa distância, quase continental no caso de Emma.  No segundo seguinte, ela estava acompanhando a amiga nas gargalhas, a despeito de encontrarem-se a vista de todos. Oh céus, como aquilo aconteceu? Ela começou um diálogo sensato, totalmente voltado para o coração de George, e de repente sua mente deu um giro completo, e se via no instante centrada no traseiro dele.
Motivo suficiente para Deus enviar sua alma para o inferno.
Considerando que aquele era o fim muito propício para uma conversa que estava beirando a melancolia, as duas decidiram conservar o silêncio agradável depois que as risadas cessaram e entraram em uma loja. Emma praticamente arrastou Nathalia pelo braço até uma loja de antiguidades a algumas ruas de distância. Nunca havia entrado naquele lugar antes, mas parecia ser... interessante. Se fosse sincera consigo mesmo, reconheceria que era apenas um amontoado de quinquilharias que não despertariam seu interesse em dias normais. Mas aquele não era um dia normal. O seu coração estava acometido de uma desagradável dor constante, como se estivesse apresentando falhas de fabricação. Além disso, sua nova amiga não era a filha de um duque e, sendo prática, possivelmente não se sentiria a vontade em lojas que arrancavam fortunas de alguém por um simples chapéu para passeios diurnos.
— Senhor. — Emma chamou o dono da loja. — Nos mostre tudo o que é possível comprar com um xelim. E eu já lhe aviso que minha amiga é uma ótima negociadora!
Duas horas depois, Nathalia carregava um candelabro horrendo que o dono da loja deu sua palavra de que pertencia ao rei Jaime I, e Emma agora era proprietária de um quadro cujo a pintura ela tinha certeza que lhe causaria pesadelos.
— Eu preciso ir agora. — anunciou Nathalia, quase desculpando-se com o olhar. — Havia prometido ao meu pai que o ajudaria com a correspondência. Minha mãe acordou indisposta e eu me comprometi a assumir a tarefa. — hesitou por um breve momento, antes de perguntar: —  Você vai ficar bem?
—  Não pense bobagens. — disse Emma. —  Quem em sã consciência pode render-se à tristeza quando tem em sua posse uma obra de arte como esta?
Ela fez um movimento que indicava que descobriria a tela que segurava nos braços, mas foi interceptada a tempo pela amiga.
—  Não se atreva, espertinha.  — Nathalia fez um sinal da cruz rápido. — Esse quadro me dá medo.
— Ótimo! Cuidarei para que a pintura seja entregue amanhã mesmo na casa do Sr. Bridgerton. É o mínimo que posso fazer depois da gentileza dele em planejar uma armadilha casamenteira como se fosse minha tia Dothe.
Nathalia riu.
— Ele vai odiar esse quadro.
— O que me deixa satisfeita com o bom uso que fiz do dinheiro que meu pai me deu.
— Sabe o que mais ele odiaria?
Um sorriso malicioso e um pouco vingativo surgiu no rosto de Emma.
— Estou ouvindo... — incitou.
— Que você entregasse o quadro pessoalmente. Talvez possamos armar mais um encontro "ao acaso".
Dizer que odiou a ideia seria um eufemismo. Emma não queria ver George nunca mais! Não depois de praticamente atirá-la nos braços de outro.
— Eu não quero vê-lo, Nathalia. Chega de planos inúteis para me fazer ser notada. Ele é um... cretino! Um libertino enrustido! Toda aquela postura de bom moço serve apenas como disfarce, no entanto, sai por aí beijando moças inexperientes, para depois passá-las para o próximo. E-e-u, e-e-eu, eu o odeio!
Aquele não era o momento nem o local adequado para falar sobre um tema tão delicado. Todo o progresso que algumas horas de risadas e conversas triviais sobre objetos de séculos de existência, desapareceu num piscar de olhos, e agora um ar sombrio voltara a tornar um rosto angelical como o de Emma em uma máscara severa e amarga.
Nathalia tentou compreender sua amiga. Devia realmente ser difícil ser beijada e criar um mundo de expectativas e sonhos, apenas para ver tudo desabar em seguida. Contudo, por mais que tentasse ser solidária, era do seu melhor amigo Goerge que Emma se referia tão rudemente. Ela o conhecia melhor do que ninguém. Sabia que nenhuma daquelas palavras condiziam com a verdadeira natureza honrada dele.
—  Não fale assim dele! — retrucou ela, ríspida. — George é um bom homem. Possui um caráter esculpido em honra e daria todas as posses que tem por aqueles a quem ama. Ele é sempre gentil e doce. E tenho certeza que se ele tem consciência de quanto sofrimento lhe causou hoje, certamente isso deve estar doendo mais nele, do que jamais doerá em você. Porque ele nunca magoa. Nunca, se puder evitar.
Emma permaneceu sabiamente em silêncio.
— Se você duvida que ele é um homem de qualidades, então em que se baseia o que você diz sentir? Que motivos sinceros há para se apaixonar por alguém, se este cavalheiro não é um exemplo de gentileza? Se  não coloca o seu bem-estar acima de tudo, e faz da sua felicidade o objetivo da vida dele? — Nathalia hesitou por um segundo, mas então foi incapaz de controlar suas palavras duras — Se você transforma seu príncipe encantado em um dragão cruel baseada em apenas um ato, isso faz de você uma princesa que não merece ser salva. Inferno, você merece envelhecer sozinha no alto de uma torre! Porque pessoas que se contentam apenas com a perfeição devem viver na solidão.
Ah.
Um baque profundo interrompeu o momento, e só então Emma deu-se conta que deixara o quadro se espatifar no chão. Baixou o olhar, fitando a tela desmantelada aos seus pés, mas não fez nenhum movimento para recupera-la. Todo seu corpo estava petrificado, um misto de vergonha e necessidade de reflexão. Ela podia simplesmente dar meia-volta e deixar para trás o olhar enfurecido de Nathalia. Mas fugir não mudaria nada. Aquelas palavras já haviam sido absorvidas por cada célula de seu corpo e agora faziam parte dela.
A verdade dói.
Não era essa a máxima milenar que até as civilizações mais remotas conheciam? Ah sim, e como dói! Foi dilacerante remoer seguidamente cada letrinha que a jovem a sua frente dissera. Ela engoliu o choro quando suas lágrimas ameaçaram reduzi-las a uma massa chorona e infantil.
— Você está certa. — reconheceu Emma, surpreendendo sua amiga. — Você tem toda a razão.
Um longo minuto de silêncio se instaurou enquanto Nathalia tentava entender a expressão no rosto dela. Emma por fora parecia tranquila e conformada com a opinião que recebera. Por dentro, uma tempestade de emoções e autocensuras a deixavam à deriva no mar revolto que era sua alma naquele instante.
— Talvez eu tenha exagerado um pouco nessa coisa toda de analogia de princesa. — aliviou Nathalia, agora que a raiva havia amenizado ela não estava tão convicta que devia ter ido tão longe. - Eu só...
— Não se explique, por favor. Eu procurei encher minhas mãos de pedras e atacá-lo antes de tentar entender os motivos dele. Isso não me parece algo que alguém apaixonado faria. — Emma encarou as próprias mãos, piscando com força para espantar as lágrimas. — Se o que sinto é tão irregular e frágil, talvez não passe de uma mentira. Talvez... eu tenha me enganado. Cristo, eu me sinto uma idiota... Que confusão.
— Ei, não fique assim. — Nathalia encurtou o espaço entre elas e encarou a amiga. — Todo amor é regado por um grau considerado de insultos. Você só está com raiva, Emma. E eu a entendo. Eu também senti raiva e a despejei sobre você. Não devia ter sito tão dura, me desculpa.
— Você disse a verdade. Não deve se desculpar por isso.
Nathalia abriu um sorriso triste.
— O ano era 1842 e George tinha acabado de arremessar minha boneca preferida em um lago e quando eu comecei a chorar, o verme odioso apenas deu de ombros e disse que os peixes também precisavam se alimentar. Eu tinha apenas 8 anos na época, e garanto que ainda hoje não tenho coragem de repetir as coisas que disse para ele naquele dia. Sério, algumas expressões chocariam até marinheiros grosseirões.
Algo dentro do peito de Emma se aliviou.
— George sabia que eu disse tudo aquilo porque estava com raiva. Ele não ficou bravo comigo, me perdoou antes mesmo que eu fosse capaz de admitir que estava arrependida.
Então ela se abaixou e pegou o quadro (o que sobrou dele) e entregou a Emma.
— E eu também o perdoei. Ele era meu melhor amigo e eu gostava dele mais do que daquela boneca, mas se você contar isso para o George um dia, eu nego até a morte. — soltou um riso nostálgico e acrescentou. — Você apenas disse palavras duras a respeito dele. Você não acredita nelas.
O bom da verdade é que invariavelmente ela é libertadora.
Emma bebeu daquela afirmação como se fosse a primeira gota que experimentava depois de dias vagando no deserto. Era verdade. Ela não acreditava por nem um único segundo que George era um libertino desalmado que se aproveitava de moças indefesas e depois as descartava. Ele não era assim. E ela jurou naquele momento que cortaria sua própria língua antes de falar dele novamente com tanta crueldade.
— Não, eu desaprovo cada uma das ofensas que disse sobre ele. — ponderou Emma. — George é um bom homem. O segundo melhor que conheci, na verdade. E eu dei-me conta disso no momento que ouvi sua voz se elevando em minha defesa, quando ele não tinha obrigação de fazê-lo.
— Ele também é o segundo melhor homem que conheci. — Nathalia declarou, com emoção na voz. — E dei-me conta disso quando ele se atirou no lago para recuperar minha boneca.
Apenas mais tarde, quando estavam a poucos da carruagem de Emma, foi que Nathalia acrescentou:
— O maluco se jogou no lago sem ao menos saber nadar. Thomas teve que ir salvá-lo e os dois quase morreram naquele dia.
O coração de Emma parou.
E então começou a bater com toda força.

***
Alguém estava batendo em sua porta, o que contrariava todos os planos que George tinha para aquele dia. Depois do fiasco que se revelou a visita a Lady Stonne, ele voltara para casa fervilhando de raiva e deu folga aos três criados que possuía. Queria apenas ficar sozinho e se trancar em seu escritório com uma boa garrafa de uísque. Duas garrafas, na verdade. Bem, ainda havia um terço da segunda garrafa e seu plano foi frustrado por algum desavisado.
Ele esperou algumas batidas, no alento que quem quer que fosse finalmente desistisse e partisse, mas o barulho ritmado era incessante. Levantou-se meio cambaleante, mas conseguiu dignamente se equilibrar sobre os próprios pés. Ainda ficava admirado da resistência que seu corpo demonstrava quando o assunto era álcool. George concluiu que se Deus teve a desfaçatez de fazê-lo defeituoso e lançá-lo em um mundo que o rejeitaria diariamente, pelo menos foi generoso ao ponto de agraciá-lo com uma resistência inumana para a bebida. Ele só não sabia se dizia "obrigado!" ou se murmurava "O Senhor estava em dívida comigo, e nós dois sabemos disso!"
George mal se dera conta, mas foi até a porta e a abriu rapidamente, para saber logo qual dos seus primos resolvera interromper o que seria uma tarde solitária e perfeita. No entanto, depois que sua visita não solicitada surgiu em seu campo de visão, ele continuava sendo o único Bridgerton no recinto. Emma Stonne o olhava com uma expressão que nem sóbrio ele seria capaz de desvendar. Foi ridículo, mas ele não resistiu ao impulso e tocou a testa dela com seu dedo. Não tratou-se de uma carícia, ou algo nesse sentido, era apenas para se certificar que ela era real.
O dedo dele encontrou a barreira da pele macia dela. Sim, ela era de carne e osso e não criada por uma mistura de desejo reprimido e doses excessivas de uísque.
— O q-q-q-que fa-z-z aqu-qui?
— Uma visita?
A resposta saiu meio como uma pergunta, como se ela não estivesse certa do que responder a ele. Mais que inferno. De todas as pessoas que George não desejava ver naquele dia, Emma Stonne ocupava o topo da lista. Mas a garota parecia ter um instinto aguçado para desafiá-lo sempre que ele se encontrava com a baixa guarda.
— Vo-você n-n-não de-devia estar aq-qui.
Emma revirou os olhos.
— Eu sei. — então ela se remexeu no lugar, como se uma onda elétrica tivesse subido pelo corpo dela. — Posso entrar?
— N-n-não.
Ele a viu se encolher no lugar. Mas os dois sabiam que não seria assim tão fácil.
— Posso entrar? — ela repetiu.
— N-n-não.
— Posso entrar? — tentou mais uma vez. Garota insistente.
— Não.
Ela sorriu, como se o fato dele não ter gaguejado momentaneamente fosse uma pequena vitória.
— Se eu atravessar essa porta e seguir para dentro do hall, você vai usar sua força física para me impedir?
George suspirou, irritado.
— N-não.
Com um sorriso mais brilhante que o sol, Emma deu um passo a frente. E depois outro, e mais um. Colocando-se bem em frente dele.
— Se eu fechar sua porta para que seus vizinhos não me descubram aqui, você vai me odiar por isso?
E foi fácil assim. George já estava completamente feliz com a visita dela. Corpo traidor, mente traidora, coração traiçoeiro.
— Não.
Com um gesto deliberadamente devagar, ela empurrou a porta até que fechasse.
— O q-q-que fa-z aqui? — ele perguntou novamente.

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