— Minha querida, com essa expressão carrancuda você irá afugentar seus pretendentes e não atraí-los, como desejado.
O baile oferecido pelo duque de Hastings revelara-se, desde o início, um evento promissor para o cortejo e possíveis conexões de valor. A crème de la crème reunida em um único espaço. Era esperado das moças com esperanças casadouras que mostrassem em ocasiões assim o que de melhor possuíam no que se referia a educação exemplar, aparência angelical e personalidade moldável.
Emma, contudo, não podia ser rotulada como a dama mais encantadora no salão naquele instante.
— Oh, não, não, Emma. — tia Dothe continuou seu monólogo, felizmente em um tom de voz bem reservado. — Controle suas feições! Está mostrando seus dentes de maneira nada agradável. Nós precisamos que você sorria com graça e de maneira comedida; uma linha tênue, devo dizer. Mas para agarrar um bom marido, com um título respeitável, é necessário encontrar um equilíbrio. Nada de sorrisos exagerados, para que o homem não pense que está lidando com uma cabeça-de-vento coquete. Por outro lado, mostrar-se uma dama muito introspectiva pode sugerir um estado de amargura de espírito nada desejável.
Se havia alguma sabedoria ou lição de considerável relevância nas palavras da tia, Emma nunca chegaria a saber. A mulher podia muito bem estar falando o dialeto de alguma tribo indígena de um canto qualquer do mundo incivilizado ao invés do sofisticado inglês, que não faria a ínfima diferença. Seus ouvidos perderam substancialmente a funcionalidade. A fúria, que gelava seu sangue ao mesmo tempo que acendia em chamas seu rosto, a mantinha absorta a tudo que acontecia ao seu derredor.
Exceto por um ponto específico.
Em todo aquele imenso e deslumbrante salão de baile, que pertencia ao duque de Hastings, apenas o lugar onde George se encontrava parado, numa postura relaxada e satisfeita, capturava a sua atenção absoluta. Mas não era ele quem provocava nela raiva, a garota ao lado do Sr. Bridgerton era quem o fazia. Nathalia-desprovida-de-um-sobrenome-meramente-importante chegara ao baile com a mão possessivamente (ao menos na visão de Emma) grudada no braço de George, que certamente por ser um cavalheiro se viu obrigado a oferecer-se para conduzi-la pelo salão. E agora, passados mais de uma hora, a garota continuava estancada ao lado dele, como se fosse uma sentinela de guarda. Por Deus, era uma proximidade indecorosa, em se tratando de duas pessoas que não eram irmãos. Onde estavam os pais daquela criatura para incutir-lhe um pouco de juízo e noção de respeitabilidade?!
Uma vozinha dentro de Emma até tentou contra-argumentar, lembrando-a que ela própria não era muito obediente às normas restritivas que impunham as jovens, no entanto, quem pode ser lógica e racional durante um surto ciumento?
Ah, o coração doía dentro do peito. Aquela posição de expectadora, a qual se via subjugada, fez Emma desejar dar meia-volta e ir embora. Ainda era cedo, provavelmente ao chegar em casa encontraria seu pai bem e disposto para uma partida de xadrez antes dos dois se recolherem aos seus aposentos. Eles podiam pedir uma bandeja de chá com muitos sanduíches e passar uma hora, ou duas, juntos. As vezes ela se perguntava se tudo aquilo não era um desperdício de tempo. Ao invés de estar desfrutando ao máximo a companhia acalentadora do seu pai enquanto podia, estava ali, apostando seu futuro em um homem, cuja a presença dela sequer notara, por mais que Emma estivesse estrategicamente dentro de seu campo de visão a maior parte da noite.
— Você está me ouvindo, querida? — Emma desviou o olhar de George e voltou-se para a tia. — Eu a aborreci, estou certa? Acredite que não era minha intenção, apenas sinto-me no dever de orientá-la em assuntos que você é inocente demais para compreender. Sua mãe faria o mesmo, se estivesse aqui hoje. Desejo apenas cuidar de você como minha irmã faria.
Emma forçou um sorriso.
— Você não me aborrece, tia. Eu aprecio muito sua opinião. — ela fez uma pausa, precisava de algum tempo para inventar uma desculpa aceitável, que persuadisse sua tia a deixá-la voltar para casa. — Eu estou um pouco indisposta, acho que comi algo que me fez mal. Creio que o aconchego da minha cama e uma boa noite de sono farão com que eu me sinta melhor. Talvez seja melhor ir para casa...
— Mas você estava há dias ansiosa por este baile! — recrutou Dothe — Eu nunca a tinha visto tão empolgada para participar de um evento da temporada como ao baile de lady Hastings. Até insistiu para comprar esse vestido especial para a ocasião.
As mãos de Emma deslizaram inconsciente sobre a seda bordô de seu vestido. Era um modelo que acentuava bem a sua cintura fina e a destacava pela cor viva e peculiar. Ela escolhera a roupa pensando em agradar a George, ainda que não soubesse nada a respeito das preferências e gostos do homem.
— Esse baile é bem comum, na verdade. Já estive em melhores. — opinou Emma, com um toque proposital de desdenho. — Eu prefiro conservar minha energia para nossa ida ao teatro amanhã. Nós receberemos convidados no camarote do meu pai, esqueceu? A senhora não desejará que eu pareça doente e apática diante de Thompson e de sua mãe. A duquesa nunca deixará que o filho se case com uma jovem que aparente possuir uma saúde frágil e debilitada.
— Eu não tinha pensando nisso...
— Mulheres enfermas podem levantar suspeita de infertilidade...
— Não profira essa palavra! — Dothe estava perplexa, queria naquele mesmo instante ir a procura de um médico que examinasse sua sobrinha — Sequer pense nessa palavra! Você nem precisa considerar a existência dessa palavra. Você vem de uma linhagem de mulheres fortes e férteis. Eu mesma tive quatro belos filhos. Todos os bebês varões, o que sempre foi motivo de muita inveja; — fez uma pausa, tentando recuperar a calma — Seguramente você teria muitos irmãos, se aquele infeliz acidente não tivesse ceifado a vida de sua mãe ainda tão jovem.
— Eu estava apenas pensando alto, tia. Podemos ficar no baile, se é o que deseja. — A expressão de Emma era pura inocência enquanto falava, mas então ela acrescentou algumas tosses no meio das frases e simulou um calafrio. — Deus há de se compadecer.. Cof, cof... de mim, e eu não desmaiarei no meio do salão... cof, cof... enquanto estiver dançando com Thompson está noite.
Meio segundo depois:
— Eu irei buscar seu tio imediatamente e nós iremos embora. — decretou a tia, levantando-se da cadeira. — Trate de ficar aqui sentada e não ouse se levantar enquanto eu não estiver aqui para ampará-la. Apenas este mês, é o segundo baile em que você é acometida de um mal-estar. Isso é terrível! Longe de minha natureza ser cruel, mas não consigo deixar de pensar que propensão a enfermidades foi herdada do seu lado paterno. As mulheres da minha família costumam ser tão sadias...
Cof...Cof..
Cof..
— Emma, tussa sem fazer barulho, pelo amor de Deus! As pessoas podem ouvi-la. Se espalharem rumores que você tem algo contagioso, acabará tendo que se conformar em terminar como uma mera baronesa. Duques não arriscam suas vidas em troca de esposas, minha querida.
— Oh, eu espero mesmo que não se trate de nada contagioso, titia. Nós temos passado tanto tempo na companhia uma da outra, eu odiaria saber que a infectei. Bem, consola meu coração saber que a senhora pertence a uma descendência de mulheres saudáveis.
Antes que Emma terminasse de falar, sua tia já havia se afastado a passos largos, ziguezagueando entre os grupos de aristocratas formados por todo salão.
Ela reprimiu um risinho. Talvez tivesse agido mal com a tia Dothe, mas lhe aborreceu o modo como a tia centrava a sua preocupação na possibilidade da suposta doença de Emma diminuir drasticamente as suas chances de um bom casamento, em vez de mostrar-se zelosa simplesmente com qualquer mal que ameaçasse a vida de um ente querido.
Enquanto esperava o retorno de Dothe, Emma recusou-se a olhar para a direção em que sabia que George estava. Ele não olhara para ela. Bom, iria devolver-lhe o favor. Era bem possível que o Sr. Bridgerton ficasse decepcionado por ela descumprir o trato deles, mas não existia nenhuma força no mundo capaz de fazê-la aproximar-se voluntariamente de Nathalia-não-faço-questão-de-recordar-seu-sobrenome. Aliás, a jovem não pareceu em momento algum necessitar de companhia. Como precisaria? Monopolizando a atenção do Sr. Bridgerton como fizera a noite toda, não devia sobrar muito tempo na vida garota para interação social.
Esqueça seu tolo plano, Emma ordenou a si mesma, e aproveite para esquecer o Sr. Bridgerton. Deixe que ele fique com aquela ruiva desprovida de qualquer atrativo.
— Boa noite, lady Stonne.
O corpo de Emma ficou rígido sob o vestido. Ela atribuiu a um castigo divino o fato de Nathalia-pretendo-esquecer-também-seu-primeiro-nome-em-um-futuro-próximo estar parada a sua frente. Devia ser uma justa retribuição de toda aflição que causou em sua tia minutos antes. Não existia conclusão mais lógica que essa.
— Boa noite, senhorita...
— Durbshire. Nathalia Durbshire. A senhorita lembra de mim?
— Vagamente. — Emma lhe lançou um olhar gélido.
— Ah... sim. É compreensível. Nós mal nos conhecemos... — Emma continuou com uma expressão de animosidade no rosto. — Eu sou a garota que caiu deselegantemente em cima da senhorita no baile de lorde Bridgerton. — Nethalia riu de si mesma, ao lembrar da cena, então continuou: — Thomas e George juram que eu me desiquilibrei com graça e charme, porém eu sei que é apenas para que eu não me sinta mal pelo acontecido.
"George", quanta intimidade descarada! E a jovem nem enrubesceu ante o deslize. Qualquer ser humano de bom senso se escandalizaria com o atrevimento de Nathalia-não-importa-quantas-vezes-me-diga-seu-sobrenome-não-irei-lembrar e interpretaria aquela familiaridade como um indício que o Sr. Bridgerton e ela eram amantes. Oh céus, será que era esse o caso? E ela fez questão de ir até Emma e comunicá-la do arranjo que existia entre eles? Será que garota suspeitava das verdadeiras intenções de Emma ao se aproximar do Sr. Bridgerton e pedir-lhe ajuda?
— Agora me recordo. — Emma alisou uma dobra invisível de seu vestido, para evitar olhar para Nathalia. — A senhorita era pesada. Em retrospecto, isso é algo difícil de esquecer.
— Meus ossos são mais resistentes e, consequentemente, pesam o dobro se comparado com as demais jovens. — A moça respondeu, dando de ombros, sem demonstrar estar ofendida. — Pelo menos, é o que eu tento me convencer quando chego perto da mesa de sobremesas. Tenho uma teoria de que a culpa pesa tanto quanto qualquer volume nas coxas ou protuberância na barriga, então procuro evitá-la e comer com a consciência livre.
Emma achou a teoria interessante, mas jamais reconheceria.
— Que pensamento excêntrico, senhorita... — como Nathalia não completou o silêncio, ela continuou — Eu havia presumido que todo aquele peso que tive que suportar devia-se ao fato que seus seios são gigantes. — Se a garota podia falar tão abertamente sobre coxas e barriga, não seria Emma a preocupar-se a manter o nível de elegância da conversa em padrões dignos. — Os maiores seios que eu já vi.
Nathalia abriu um sorriso sarcástico e sentou em uma cadeira vazia ao lado de Emma.
— Obrigada!
— Não foi um elogio.
— Então lhe aconselho a repensar em suas estratégias para ofender alguém, lady Stonne. Porque eu, de fato, tenho um belo par de seios.
— Quem lhe enganou desta forma? — Emma indagou, a voz inflexiva.
Onde estava sua tia, que demorava tanto para buscá-la? Jesus, era bem capaz que tia Dothe a tivesse largado ali, por temer qualquer contagio, o que poderia mandá-la prematuramente à sepultura. O que era um absurdo. Evidentemente, Emma não tinha nenhuma enfermidade que pudesse transmitir a outros seres vivos, do contrário, estaria feliz em estar na companhia da senhorita Nahalia-espero-que-você-nunca-partilhe-o-sobrenome-Bridgerton.
— Oh, perdoe-me, mas não posso contar.
— Foi um homem que lhe disse isso? — a contragosto, Emma aproximou-se um pouco mais da intrusa de cabelos vermelhos, para que pudesse sussurrar. — Um homem disse que você tem belos seios?
Não responda "Sr. Bridgerton".
Não responda "Sr. Bridgerton".
Não responda "Sr. Bridgerton".
— Humpf! Não! — o suspiro de alívio que escapou dos lábios de Emma pôde ser ouvido do outro lado do salão. — Que tipo de garota acha que eu sou?
Dessa vez, Emma tinha ido longe demais. Uma coisa era alimentar secretamente uma aversão a garota que conquistara a atenção de George. No entanto, ser deliberadamente cruel com uma completa desconhecida quando, na verdade, havia prometido que serviria de companhia e ofereceria sua amizade a ela, tornava Emma alguém perversa e invejosa. Das duas damas sentadas naquela mesa, seguramente, ela era quem menos merecia George. Ele era um bom homem, gentil e atencioso, jamais se interessaria por uma megera que fazia suposições vulgares.
— Eu não quis ofendê-la, Srta. Durbshire. — bem, passara da hora de Emma reconhecer que escolhera conscientemente esquecer o sobrenome da moça. — Peço desculpas. Por favor, esqueça o que eu perguntei. Será que podemos recomeçar? O meu humor não tem sido um dos melhores essa noite. Mas se a senhorita me der outra oportunidade, gostaria de provar que posso ser uma companhia mais agradável.
As duas jovens se entreolharam por um breve momento. Eram claramente moças de personalidades e vidas diferentes. Emma, a filha de um duque, nunca se viu estimulada a interagir com garotas que não faziam parte do seu círculo de convívio. E agora, na primeira chance que tivera, comportava-se da exata maneira que era esperada de alguém da posição dela, como a filha presunçosa e frívola de um aristocrata.
— Peço sinceras desculpas. — Emma insistiu, e agora, não pelo o que o Sr. Bridgerton podia pensar a seu respeito, e sim pelo o julgamento que ela mesma fazia sobre seu caráter.
— Está certo, já pode parar implorar. Eu a perdoo. — Nathalia colocou sua mão sobre a de Emma. — Mas espero que a senhorita nunca mais insinue algo do tipo. Me deixa irritada que as pessoas sugiram que eu preciso de um homem para ter compreensão sobre o valor da minha aparência.
Ah.
Depois que a tempestade se acalmou dentro de Emma e os trovões de ciúmes foram todos descarregados, não restando nenhuma faísca de energia incontrolável, ela foi capaz de apreciar a companhia da senhorita Nathalia. Aparentemente, sua tia estava em algum canto, tentando evitá-la, o que lhe deu oportunidade de aproveitar verdadeiramente seu primeiro baile. Ela já estivera em outros eventos como aquele, mas nunca comparecera a um baile sem ser constantemente lembrada pela tia do objetivo por trás da música, das danças e de todos aqueles vestidos de bailes extravagantes. Nunca estivera sentada a mesa com qualquer outra moça em idade para casar em que o assunto não orbitasse essencialmente em pretendentes e o que estava em voga em festas de casamento.
Elas conversavam sobre nada relevante.
E aquilo era uma benção!
— Agora que sei que você não é uma bruxa ordenada, Emma, quer que eu lhe conte sobre como eu sei que ter seios grandes e não um defeito, como as velhas do Almack's tentam nos convencer do contrário.
— Adoraria. Eu sempre suspeitei daquelas velhinhas, na verdade. Pessoas de sabedoria não gastam suas noites de quarta-feira criticando efusivamente tudo e todos, por simples prazer.
Os minutos pareciam segundos naquela noite para Emma.
— Não acredito! Lady Eloise fugiu para conhecer seu pretendente? — as duas conversavam aos risos, pouco se importando com o fato de não estarem dançando. Emma até mentiu aos seus cavalheiros que a convidavam para dançar que havia machucado o tornozelo. — Ah, como gostaria de estar para ver a comitiva de irmãos enfurecidos marchando casa adentro.
— Eloise é uma mulher pouco convencional. E é isso que eu mais adoro nela. Ela nos contou a história de que existia uma taverna nos arredores do condado da propriedade de seu marido onde trabalhava uma atendente um tanto quanto avantajada você sabe onde. E essa circunstância não passou despercebida os homens da família Bridgerton.
— Eu posso imaginar. Pobre mulher, que fardo deve ser receber tanta atenção masculina. — Emma suspirou com ironia. — Eu gostaria de ter seios maiores, de fato. Talvez assim meu dote não precisaria ser tão valioso e eu poderia usar uma parte do dinheiro para viajar.
— É o que sempre digo. — Nathalia proclamou, como se estivesse prestes a declarar algo solene. — O que me falta de dote, sobra de busto!
As duas caíram na gargalhada, como velhas amigas.
— Quando éramos crianças, Thomas costumava dizer que seria um grande escritor igual aos pais quando crescesse. Ele assustava a todos dizendo que escreveria livros sobre seus tios, cada uma das histórias seria sobre um irmão Bridgerton diferente e contaria a história de amor deles. Ele só desistiu quando vovó Violet ameaçou ter um mal súbito e morrer se ele revelasse todos os segredos da família em uma coletânea de livros.
— Oh, eu iria querer comprar todos os exemplares de livros sobre a família Bridgerton.
— Até hoje eu tento convencê-lo, porém, Thomas não tem talento para a escrita. E George, o irmão que herdou a aptidão literária dos pais, prefere comer as próprias vísceras do que escrever um romance meloso. Palavras deles, não minhas.
A alusão a George fez o sorriso de Emma perder um pouco brilho. Ela doutrinou os próprios olhos até que parassem de buscar a figura alta do Sr. Bridgerton pelo salão durante aquela noite, mas sabia que ele estava ali em algum lugar. Talvez até estivesse olhando em sua direção naquele exato momento, mas se o fizesse, seria Nathalia quem os olhos dele buscariam.
Que grande confusão. Ora, o que ninguém jamais havia advertido a Emma, era que paixão consistia em uma força indomável e desgovernada, que apontava ao mesmo tempo mil direções distintas, todas as opções marcadas por um caminho acidentado e cheio de curvas. E, ainda que diante de intempéries, o sentimento tinha o poder de um impulsionar um coração apaixonado até à beira de um precipício. Às vezes, era persuasivo ao ponto de convencê-lo a pular.
Outra circunstância que costumavam omitir: Depois que você pula, não há nenhuma garantia de que haja alguém lá embaixo para protegê-lo da queda.
No fim da noite, antes de Nathalia se despedir, ela abriu sua bolsa de mão e entregou a Emma um papel assimetricamente dobrado.
— George pediu para que eu lhe entregasse isso. — justificou Nathalia quando viu a expressão confusa de sua mais nova amiga. — Quando ele me sugeriu que viesse até aqui para lhe fazer companhia e me entregou este papel para a senhorita, eu finalmente compreendia porque a senhorita passou boa parte do seu tempo encarando-me como se eu tivesse atirado no seu gatinho e o cortado em pedacinhos para fazer um ensopado.
Um Emma muito envergonhada começou a segurar o papel com tanta força que Nathalia pensou que mais alguns minutos e lady Stonne seria incapaz de ler o que estava escrito no bilhete.
— Então, minha percepção aguçada da vida reparou em mais um detalhe. — um sorriso triunfante brotou nos lábios de Nathalia. — George não olhou para a senhorita em nenhum momento durante todo o tempo em que você tentava ser notada por ele.
— Humm... Agradeço muito por você me lembrar do fato, senhorita-peitos-que-um-dia-ficarão-murchos-e-enrugados.
Nathalia riu histericamente.
— Eu gosto de você, Emma. Por isso, permita que eu compartilhe com você um pouco da minha sabedoria mundana. George é um homem da ciência, um observador nato. Se ele a ignorou essa noite, foi uma decisão premeditada. Eu o conheço há anos e nunca vi o bondoso George ignorar uma criatura na vida. Acredite em mim, se ele escuta um pássaro cantando, ele para e assiste o canto, como se fosse uma sinfonia mundialmente ovacionada.
— Eu realmente não estou apreciando o rumo desta conversa.
— Pense, Emma. Por que George mudaria ser jeito de ser justo agora?
— Extrema aversão? — Sugeriu Emma, com voz de desânimo e uma pitada de ironia.
— O meu palpite é algo completamente diferente.
— Qual seu palpite?
— Eu só lhe conto se você me contar o que tem escrito nesse bilhete.
Emma desamassou o papel em sua mão e leu o que estava escrito.
— É uma lista de pretendentes. — revelou.
— Perdão?
— Ele preparou uma lista de cavalheiros que podem ser bons maridos para mim. E certamente decidiu escrever ao invés de me dizer pessoalmente porque não quer ter que aguentar minha companhia por mais tempo que o necessário. — Emma tentou manter uma postura serena e composta. — E agora, qual é o seu palpite? Fique à vontade para mudar de sugestão depois de saber o conteúdo do bilhete.
— Oh, não. O bilhete só reafirmar o que já imaginava. Meu palpite é que ele não é tão indiferente a senhorita, como quer que aparente.
Será que o mundo podia ouvir as batidas do coração de Emma?
Suas batidas aceleradas e vivazes eram capazes de causar surdez?
Pois Emma achou impossível ser a única a estar ouvindo aquele som retumbante.
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A linguagem do coração
Historical FictionAlerta: Se você ainda não leu O segredo de Colin Bridgerton da Julia Quinn, ou o segundo epílogo que a autora escreveu, esta história pode conter spoilers. Emma Stonne vive cercada de admiradores desde sua primeira aparição na sociedade. A combinaçã...