Ao que tudo indicava, a arte do cortejo era um dom natural em George Bridgerton. Emma jamais se apegaria ao pensamento de que seu adorável pretendente — Cristo, ela amava essa palavra! — tenha adquirido tal habilidade devido a anos de prática. Surpreendeu-a, sim, de fato, que ele demonstrasse verdadeiro interesse nos passeios mais insípidos que Londres podia oferecer. Sempre o imaginou como um homem culto e um estudioso voraz, que gastava seu tempo com atividades mais substancias de que um mero passeio de carruagem pelo Hyde Park. Mas ele a levava quase todas as manhãs para desfrutar os primeiros raios de sol no parque. Também a levara ao museu, ao teatro e convidara para dançar em todos os bailes que tivera oportunidade.
Depois de longos meses de reclusão, e cumpridos todos os protocolos de luto, estar valsando nos braços dele, usando um belo vestido em um tom claro de azul era a melhor definição de felicidade que alguém podia ter. Nem mesmo um dicionário seria tão preciso.
— V-v-v-você t-t-tem um be-belo sorriso.
Felicidade. Pura felicidade.
— Vou dividir a metade dos meus méritos com você quanto a isso — disse ela, alargando mais o sorriso. — Já que nas últimas semanas tenho sorrido mais do que lembro de ter feito a vida inteira.
Agora George era quem sorria.
— E-e-eu costumo ca-ca-causar esse efe-fe-feito na vi-vi-vida dos que m-m-me cercam. — gracejou, então a rodopiou pelo salão.
— Ora, não seja presunçoso, está tão fora de moda! Basta olhar a sua volta.
O conde Delinwood, não muito longe dali, vestia uma casaca inteiramente dourada, adornada com fios de ouro, e alisava o tecido com a mão uma quantidade escandalosa de vezes por minuto.
— Clar-ro. Esta ci-ci-cidade est-tá repleta d-d-de pessoas humild-des e disc-c-cretas.
Ela deu um risinho.
— Só gostaria de ressaltar que essa casaca preta e sóbria cai muito bem em você. E espero que sua preferência continue seguindo esse padrão no futuro.
George ficou em silêncio por um instante, dando a impressão de estar pensando seriamente na questão.
— T-t-tarde dem-m-mais — revelou, em tom sério. — E-e-e-eu já p-p-pedi o no-no-nome do alfaiate a-a-ao cond-de.
A música teve fim e como já haviam dançado duas vezes naquela noite, Emma se conformou, reprimindo uma reclamação, quando George a acompanhou de volta para a mesa onde tia Dothe a esperava, sem esconder seu descontentamento com o fato de sua sobrinha desperdiçar a noite dirigindo sua atenção a um dos poucos cavalheiros ali que não possuíam um título.
— Nós iremos passear amanhã? — perguntou Emma enquanto estava a uma distância considerável de sua tia. Ele não havia lhe feito o convite, mas como na última semana eles se encontraram todas as manhãs no Hyde Park, aquilo virou uma espécie de hábito para ela. — Eu pensei em cavalgarmos ao invés de um passeio de carruagem. Faz tempo que não cavalgo.
Ele estava com um semblante menos alegre quando disse:
— Am-m-manhã n-n-não se-será possível. S-s-s-sinto muito. Pre-ci-ci-ciso termin-nar algumas alt-t-t-terações no meu li-li-livro se quiser qu-que sej-j-ja publica-ca-cado aind-da esse ano.
Perceber que ele estava igualmente aborrecido de não passear com ela fez com que seu coração aquecesse, e desejou estar em qualquer lugar em que se inclinar sobre ele e beijá-lo não gerasse um escândalo.
Na tarde seguinte, enquanto Emma e Nathalia estavam no jardim de sua propriedade, ela ainda sentia-se bem, imaginando que onde George estivesse, era provável que seus pensamentos se concentrasse nela, assim como os pensamentos dela pertenciam inteiramente a ele desde a hora em que acordara.
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A linguagem do coração
Historical FictionAlerta: Se você ainda não leu O segredo de Colin Bridgerton da Julia Quinn, ou o segundo epílogo que a autora escreveu, esta história pode conter spoilers. Emma Stonne vive cercada de admiradores desde sua primeira aparição na sociedade. A combinaçã...