Perdão

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O choro é livre.

Se acalmem, peguem seus lenços e se preparem...

Vamos ler?



Meus olhos voltam a doer. Merda! Será que eu não tinha feito certo? Pisco rapidamente e a iluminação faz meus olhos se acostumarem rápido com a nova imagem que prende minha respiração.

Estou em um campo.

Crianças correm por entre as árvores carregadas de frutas. Flores coloridas rastejam até seus pés como se implorassem por seus toques, o céu, do mais azul infinito, é a coloração perfeita para o começo de verão.

Suas vozes me sobressaltam. Elas cantam. Músicas alegres, músicas de ninar, enquanto correm pela grama. O perfume de fruta madura com o cheiro doce das flores enche meus pulmões trazendo um alívio que há muito tempo não sentia.

-Olá visitante. – Olho sobre os ombros para visualizar uma garotinha. Seus olhos brilham em reconhecimento, diferente de mim. Sinto minha testa franzida mesmo que um sorriso atinja meus lábios. Uma brisa fresca atinge seus cabelos castanhos antes que eu responda:

-Olá.

-Você veio nos visitar? – Questiona mostrando seus dentinhos. Respondo antes que pense sobre aquelas palavras:

-Vim para ficar.

-Não veio não. – Aquela voz. Travo ainda sobre os olhos doces da garotinha. Ela me observa atônica, passando por cada parte do meu corpo. Poderia me sentir envergonhado, se minha atenção não estivesse naquele som.

-Olha para mim, papai. – Meu queixo começa a tremer. Tenho medo de me virar e a desolação me consumir, de perdê-las. De nada daquilo ser real.

-Somos reais. – Diz outra voz. Tão parecida.

Lentamente desvio os olhos dos cabelos castanhos e sigo minha atenção para frente.

Vestidos azuis, cabelos loiros cacheados, mãos dadas. Elas me olham. Me olham do mesmo jeito que há anos atrás, do mesmo jeito daquela manhã sobre a casa na árvore. Elas estão ali. Elas estão comigo de novo.

Meus joelhos falham na missão de me aguentar meu corpo, e me derrubam sobre a grama verde. Sou arrebatado por seus braços e sinto minhas lágrimas antes mesmo de conseguir identificar alguma emoção. Elas estão comigo. Afasto-as, passando a mãos sem seus rostos, seus olhos sorridentes, felizes, alegres me fitando. Meu peito borbulha. Sinto tudo de novo, aquele amor, aquela esperança.

A paz.

-Vocês estão aqui. – Digo finalmente sorrindo. Sinto seu toque em minha bochecha e fecho meus olhos. A sensação de seus dedos. Grudo sua mão em minha face e deposito um beijo nela, abrindo meus olhos novamente e me afogando em seus olhos claros.

Meu Deus, como eu senti falta das minhas meninas.

Uma nova sombra se apresenta ao meu lado. Viro-me e encontro os olhos escuros. Olhos cinzas. Sua testa está frisada, algo a preocupa e fico com medo de acordar. Seria um sonho? Será que seria expulso? Se tivesse que escolher, queria ficar ali. Será que poderia?

-Não está na hora. – Meu peito começa a se agitar, mas é por preocupação.

-Não. – Puxo-as para os meus braços e as agarro. Ninguém tiraria elas de mim, não de novo. O medo, aquele mesmo medo estava de volta. – Não, por favor. Eu imploro! – Exclamo com o perfume dos cabelos dourados de minhas filhas sobre mim.

Just one more nightOnde histórias criam vida. Descubra agora