Pérola
Quando saí daquele apartamento parecia carregar a vergonha do mundo nas costas. Vergonha por ter sido tão idiota ao ponto de permitir que aquele cretino ultrapassasse as minhas barreiras e pudesse me ferir daquele jeito e com aquela intensidade. A raiva maior era de mim mesma. Estava tudo na minha cara e eu ignorei, me deixando levar por sentimentos tolos. E o pior foi constatar que o tempo estava intensificando ainda mais tudo. Nos primeiros dias fui dominada pela raiva. Queria que isso tivesse um fim, mas quando foi substituída pela tristeza, a saudade e a desilusão, só me machucou mais.
Tentei não pensar e só o trabalho poderia me ajudar com isso. Então foi mergulhando de olhos fechados nele que esperava me recuperar desse tombo chamado Márcio Cretino Porto. Disse para mim mesma que o resultado era esperado. Afinal não tínhamos um compromisso e se tratando dele nem isso seria empecilho para nada. Não era porque eu tinha sido idiota de me apaixonar de verdade que ele faria o mesmo. Maldito cretino!
Pérola: Sinceramente não estou com cabeça para festa Michael. - era a terceira vez que tentava fazer aquele teimoso aceitar minha recusa. - A mãe do Hugo foi muito delicada em nos convidar, mas pelo que sei a noite servirá para arrecadar doações e nós no momento não estamos doando nem conselhos.
Michael: Para de ser chata, Pérola - esse quando queria uma coisa era pior que dor de dente. - Só a nossa linda presença lá já é uma doação de bom gosto e glamour.
Pérola: Sério, Michael. No momento estou querendo doar meu copro cansado para minha cama. Não vai rolar! Pensei que tivesse entendido isso ontem.
Michael: Isso foi ontem. - falou taxativo - Nada como uma noite inspiradora para mudar os planos.
Pérola: Tem testosterona no meio dessa noite, não tem? - realmente estranhei a alegria com que apareceu aqui minutos atrás.
Michael: Um vulcão de testosterona. - falou dando pulinhos.
Pérola: Mais um motivo para não ir. Aproveita sua noite. Não serei uma boa companhia e além do mais, nem sei se tenho um vestido a altura da ocasião.
Michael: Nem vem bancar a desvalida comigo, princesa. Você esqueceu que conheço seu armário melhor que você? Sei que quando saiu de casa dispensou qualquer ajuda dos seus pais, mas não foi tão abnegada ao ponto de deixar para trás aquelas maravilhas que ganhava de sua mãe.
Pérola: Nem sei mais se combino com aquilo. - comecei a repensar minhas prioridades. - Todas aquelas roupas fazem parte de uma Pérola que ficou para trás, esqueceu?
Michael: Aquela Pérola ainda está aí. - se aproximou e me abraçou - Você só tenta escondê-la atrás dessa marra.
Pérola: Não vou te convencer, né? - esse era um jogo perdido
Michael: Sabe que não.
Talvez fosse realmente uma boa ideia ir a esse baile. Quem sabe pudesse esquecer por algumas horas o que estava acontecendo e me divertir um pouco?
(...)
Fazia pouco tempo que tinha chegado e circulava pelo salão entre as pessoas importantíssimas. Sei que deveria estar me divertindo, mas tudo aquilo era entediante demais para suportar. Michael mal chegou e já estava todo sorridente com um rapaz. Belo amigo eu fui arranjar!
A taça de champagne que tinha em minhas mãos estava intocada. Tudo aquilo me fazia lembrar daquele cretino. Esse era um ambiente que ele com certeza fazia parte. Estava absorta quando senti uma mão em meu ombro. Virei rapidamente e dei de cara com Igor.
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