Márcio
Saí daquele apartamento consumido pela raiva, mágoa, decepção... mas o que mais gritava em minha era a desconfiança de que algo não estava certo nessa história. Pérola era maluca, atrevida, mas seus olhos não eram capazes de camuflar um sentimento. E o que eu vi neles me dava a certeza que alguma coisa a estava levando para o caminho que tinha seguido.
Dirigi feito um inconsequente e só me dei conta de que não estava sozinho quando senti Débito se aninhar em meu colo em busca do mesmo consolo que eu. Ele também parecia sentir essa desconfiança e isso me foi provado naquele momento.
Cheguei a casa de Michael no exato instante em que ele estava saindo. Pela forma como me olhou ainda não devia saber o que havia acontecido. Seu sorriso caiu por terra quando se deparou com o triste estado em que eu me encontrava.
Michael: O que aconteceu? - pareceu nervoso pela forma como me avaliava. - A Pérola está bem? Por que o Débito veio com você?
Márcio: Calma. - pedi mesmo sendo irônico vindo de mim, pois me sentia o desespero em pessoa. - Podemos conversar?
Michael: Primeiro me diz se Pérola está bem. - foi como uma condição imposta e eu entendia sua posição. Afinal eles eram como irmãos.
Márcio: Isso eu não posso te assegurar. - ele pareceu ficar ainda mais nervoso. - Vim aqui exatamente para entender o que está se passando.
Michael: Vem. - deu meia volta, retornando a sua casa. - Só espero não ter que acabar com você no final dessa conversa.
Márcio: Impossível, já se encarregaram dessa tarefa.
Entramos e ele foi logo me convidando para sentar. Minhas pernas tremiam e eu nem sabia por onde começar. Era um misto de questionamentos que eu esperava ter as respostas com aquela conversa.
Michael: Vocês brigaram? - falou pegando Débito e o colocando em seu colo. - fala logo de uma vez antes que eu comece a ovular aqui.
Márcio: A Pérola me chutou da vida dela. - fui logo para o final. As partes em que eu explicaria como isso chegou a esse fim deixaria para depois.
Michael: O que você fez pra ela? - sua acusação me ofendeu, mas eu de certa forma também me perguntava se não havia feito algo mesmo sem perceber.
Márcio: Tirando a parte em que a amei feito um louco? Não sei!
Michael: Ela não terminaria assim do nada. - sua voz ficava cada vez mais tensa.
Márcio: Pois foi exatamente assim. Certo que usou uns argumentos que até agora não assimilei, mas resumindo tudo esse é o principal ponto da história.
Michael: Me conta tudo para que possa entender. - pediu acho que mais por pena quando notou que meus olhos marejaram. - Estou mais perdido do que índio em festa de gala.
Respirei fundo e comecei a relatar tudo o que eu me lembrava desde o momento em que acordei naquela manhã até a hora em que fechei a porta atrás de mim, saindo de sua vida completamente desnorteado.
Michael parecia não acreditar e algumas vezes me interrompeu duvidando que aquela fosse a verdade. Ao final da última palavra ele pareceu convencido que realmente eu não estava mentindo e nem querendo tirar o meu da reta.
Márcio: Eu precisava ouvir de você alguma coisa que me desse um rumo. Estou perdido. = confidenciei
Michael: O que eu preciso saber primeiro é essa história dos medicamentos. - me olhou meio sem jeito - Não estou duvidando do seu caráter, mas sabemos que pessoas fazem coisas sem sentido e que muitas vezes acabam caindo em armadilhas perigosas.
Márcio: Não sei como minha assinatura foi parar naquele prontuário, mas posso te garantir que nunca faria uma merda dessa.
Michael: Graças a Deus! - falou de forma dramática e aliviada. - Eu acredito em você.
Márcio: E porque a Pérola não? - saber que outro acreditava na minha inocência e a mulher que eu amo não, me feriu mais ainda.
Michael: Acrescente aí uma mulher que viveu uma mentira por muitos anos. Pior ainda, acrescente se essa mentira era a cada dia mais convincente e arquitetada pelo próprio pai dessa mulher. Não estou justificando a Pérola, mas confiar nas pessoas é uma tarefa difícil depois do que ela passou. O medo de ser enganada novamente pode ter deixado minha amiga cega em seus julgamentos. Eu sei que ela te ama.
Márcio: Que porra de amor é esse que na primeira curva abandona o estrada? - as coisas tomavam um caminho sem volta dentro de mim.
Michael: Posso te fazer uma pergunta? - ele parecia estar intrigado com algo. Assenti e ele não foi com rodeios - Tem alguma possibilidade do Pedro ter tido acesso a esse prontuário?
Márcio: Pensando rápido - puxei pela memória. - Não. Ele pediu uns dias para resolver uns assuntos de família. Ou seja, não esteve no hospital desde terça passada.
Michael: Você não acha estranho isso? - não estava conseguindo ligar os pontos - Exatamente na semana que ele se ausenta você é o principal suspeito de estar desviando medicamentos? Um álibi perfeito para quem seria o nosso primeiro suspeito, não acha?
Márcio: Vamos supor que você esteja certo... - tentei raciocinar com essa hipótese levantada por ele. - Mas onde a Pérola se encaixa nessa história?
Michael: Para um médico você é bem lento. - ficou impaciente - Faz todo o sentido! Nunca viu filme onde o antagonista chantageia a mocinha?
Márcio: Michael, o fato é que mesmo que você esteja certo, pensando de maneira maluca, terminar comigo não iria me livrar desse processo. Você acha que o Pedro assumiria a armação depois de nos separar? Que lógica tem isso? Ele iria preso e de nada adiantaria toda essa loucura.
Michael: Pensando por esse lado... Mas eu te digo que tem algo muito sujo nisso e eu vou descobrir.
Márcio: Quando cheguei aqui estava com esse pensamento, mas agora já nem sei . Talvez eu estivesse somente querendo achar uma desculpa para tudo que aconteceu. A verdade é mais fria e cruel do que isso. Ela se cansou e resolveu sair dessa relação.
Michael: Duvido!
Márcio: Pedir a namorada, mas ganhei um feioso. - falei pegando Débito nos braços. - Só espero que também não me acusei de sequestro de animal.
Michael: Vou te pedir para confiar em mim.
Márcio: Se não confiasse não estaria aqui. - falei vendo Michael sorrir
Michael: Por enquanto eu te peço que respeite a decisão dela. Vou lá e assim que souber de algo te aviso.
Márcio: Nem sei mais se quero saber. - passado o calor do momento eu tentava aceitar que a única razão para o término era realmente a sua falta de amor por mim. Talvez eu tenha sido por alguns dias um bom brinquedo para sua diversão. O encantamento logo se foi.
Michael: Quer saber? - levantou de uma vez - Vou saber disso agora! Você vai para seu apartamento e me espera lá. Nem que esteja pegando fogo aquele prédio, você não vai arredar o pé de lá.
Márcio: No momento só estou mesmo querendo minha cama. Quem sabe isso tudo não seja somente a minha mente cansada me traindo. Logo eu acordo e tudo não passou de um pesadelo?
Acreditar nessa hipótese doía menos do que ter a realidade diante de mim. Minha diaba não me queria mais.
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Meu Vício (PEROMAR)
Fiksi PenggemarMais uma ilusão que quero compartilhar com vocês