Capítulo 3

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Márcio


Depois de acertar tudo sobre os consertos dos carros e de posse do endereço da daltônica maluca, eu estava indo pra lá. Só espero que não seja um hospício. Se bem que não imagino ela morando em outro lugar.

Para minha total surpresa o prédio a minha frente parecia normal. Verifiquei umas três vezes, mesmo assim, para ver se estava no local certo e pedindo proteção ao meu anjo da guarda apertei o interfone. Logo a voz da maluca saiu preenchendo o espaço.

Márcio: Sou eu, o Márcio. - me identifiquei - Vim tratar com você sobre o conserto do seu carro.

Pérola: Sobe! - ouvi o click do portão se abrindo e senti que era como as portas do inferno me chamando.

A cada mudança no painel do elevador eu sentia minha alma ser tragada. Se na rua ela me bateu com flores, imagina na cova do leão? Deus me proteja! Parei de frente para a porta com o número 502 na minha cara e antes que colocasse o dedo na campainha a louca abriu a porta. Olhando assim ela até parecia normal. Seus cabelos estavam molhados e ela parecia até um anjo, mas como Lúcifer também foi um, resolvi não baixar a guarda.

Márcio: Desculpa vir tão cedo. - fui logo me justificando antes que apanhasse - É que deduzi que você esteja querendo logo resolver isso e além do mais só teria essa hora livre. Já que por conta de ontem vou ter correr atrás hoje,

Pérola: Nem todo mundo dorme até tarde sabia? - o mau humor da megera falou por ela. - Vai entrar ou ficar aí parado feito poste?

Márcio: Achei que devesse ser convidado para isso - falei e ela me deu passagem. A primeira vista parecia tudo normal. Não vi nenhum animal empalhado na parede e respirei aliviado.

Pérola: Senta! - passou por mim sentando a minha frente. - Já tomou café?

Márcio: Já, obrigado. - menti porque nem sobre tortura eu colocaria nada na boca feito por aquela louca. Tenho amor a vida!

Pérola: Eu estava me segurando para não ligar pra você. Meu trabalho depende muito daquele carro.

Márcio: No máximo até quinta você estará com ele. - falei - Também atrapalhou minha vida ficar sem o meu, mas ficar lamentando não vai mudar, né? - ela já ia retrucar quando vi uma criatura nefasta pular no sofá. - Jesus! Que bicho é esse?

Pérola: Esse é o Débito. - falou pegando o bicho no colo e fazendo um carinho.

Márcio: Presumo que tenha esse nome porque ficou em débito com a beleza, né? Que diabo de bicho feio.

Pérola: Olha aqui! - pronto! Passou o efeito do calmante. - Não admito que ofenda meu filho sob o meu teto.

Márcio: Filho? Você chama essa coisa horrível de filho? 

Pérola: Ele não é horrível! É só um pouco diferente.

Márcio: Diferente para você e completamente medonho pra mim. Cadê os pelos do corpo desse bicho? Ele deve ser cheio de doenças.

Pérola: Doença tem você e na cabeça. - berrou apertando o gato nos braços. - Ele pode ficar traumatizado com isso sabia?

Márcio: Traumatizado estou eu. - nunca nem em mil anos eu deixaria de ter pesadelos com aquele bicho 

Pérola: Olha, você já falou o que queria? Então vai embora.

Márcio: Com todo prazer. - falei indo em direção a porta. - Qualquer coisa eu ligo, porque voltar aqui e dar de cara com essa criatura não está em meus planos.

Pérola: Vai logo! - veio em minha direção e eu quase corri saindo.


Pérola


Tinha acabado de falar com Michael. Ele ficou de me ajudar com as entregas daquele dia disponibilizando o carro. Isso pareceu tirar o peso do mundo de cima de mim. Já ia sentar para tomar café quando ouvi o interfone e estranhei. Os únicos que vinham aqui eram Jade, Michael e Hugo e os três tinham livre acesso.

Quase caí para trás quando ouvi a voz rouca se identificando. Ontem naquela loucura não tinha reparado em seu timbre rouco. Aquieta o facho Pérola!  Dei acesso a sua entrada e fiquei esperando. De repente me vi de frente ao espelho checando a minha aparência. Eu só posso mesmo está ficando louca. Pérola ele é o troglodita que quase te matou e não o teu salvador, criatura.

Assim que abri a porta me deparei com uma visão perfeita na minha frente. O homem estava de causar um incêndio na piriquita de qualquer uma. Minha Nossa Senhora da Carência me ajuda!  O que eram aqueles braços ? E aquele corpinho? Me controlei e ele entrou falando sobre o conserto do meu carro.

Até que a conversa estava fluindo normalmente. Eu até lhe ofereci café, mas ele recusou dizendo que já havia tomado o seu. Mas foi só Débito pular no sofá para ele ter um ataque de pelancas. Eu admitiria tudo, menos que ele xingasse meu gato daquela maneira. Pronto! O momento civilizado acabou. Praticamente o expulsei do meu apartamento.


(...)

Michael: Mas amiga - ele falava rindo depois que eu contei o ocorrido mais cedo - Vamos combinar que Débito é estranho mesmo.

Pérola: Até você, Michael? - eu não estava ouvindo aquilo

Michael: Você sabe o quanto eu amo aquele danado, mas a primeira vista ele não causa uma boa impressão.

Pérola: A questão é que não quero nunca mais ver aquele imbecil.

Michael: E o seu carro?

Pérola: Uma coisa não tem nada a ver com a outra. - expliquei - Ele vai ligar quando estiver pronto e não precisarei mais olhar para aquela cara linda dele.

Michael: Oi? Linda? - falei de mais - Sua bandida você disse que ele não era gato! - me acusou e eu senti meu corpo desaparecer naquela poltrona - Escondendo o jogo por que , hein Pérola? Tá querendo o gato só pra você?

Pérola: Ele nem é tão bonito assim. - me defendi - É bonitinho no diminutivo.

Michael: Sonsa! Conta logo tudo. Quero saber cada detalhe do corpo dele. - já sentia a corda no pescoço tirando o meu ar, quando Hugo, o santo Hugo, chegou.

Hugo: Bom dia, meninas lindas do meu coração.

Michael: Bom dia, meu deus do Olimpo. - Michael tinha uma quedinha por Hugo mesmo sabendo que jamais aconteceria.

Hugo: Vim fazer um convite irrecusável para Vossas Majestades. 

Michael: Casar com você? Topo! - falou fazendo Hugo gargalhar

Hugo: Não pirilampo. É que o meu tio André chega de viagem no sábado e a família da esposa dele vai recebê-los com um almoço. Então pensei em levar meus escudeiros para essa boca livre.

Michael: Almoçar com velharia, Hugo? Sinceramente - Michael desanimou na hora.

Hugo: Claro que não! - negou - A família da Suzana é bem grande. Com isso eu quero dizer que ela tem muitos sobrinhos e sobrinhas. Antes do almoço vai rolar uma piscininha, porque é de lei ver as gatinhas de biquíni.

Michael: Agora eu vi vantagem. - pulou batendo palmas - Boys molhadinhos eu amo!

Hugo: E você, Pérola? Topa? - realmente não estava nos meus planos sair, mas como no sábado não tinha agendado nenhuma entrega e não vi problema. 

Espero que realmente seja uma boa ideia. Estou mesmo precisando conhecer novas pessoas e me divertir. Depois que terminei com Daniel virei quase uma freira.

Meu Vício (PEROMAR)Onde histórias criam vida. Descubra agora