Pérola
Acordei sentindo a respiração de Márcio em meu pescoço. Depois de uma noite intensa acabamos adormecendo. Flashs do que havia acontecido me vieram a cabeça e sorri lembrando de como ele acabou sendo afetado ao invés de afetar. Perto dele eu criava mais coragem para fazer o que antes nunca me atrevi. Parecia que o desafio nos movia e era uma constante batalha de quem daria a palavra final.
Lembrei também da forma como ele pareceu venerar meu corpo. Do olhar intenso nas vezes que encontrou seu prazer. Do arrepio na pele que senti quando ouvi de sua boca que eu era dele. Algo não era mais o mesmo entre nós e eu estava com medo de descobrir do que se tratava. Um vício. Uma vontade de provar quem podia mais. Uma entrega total. Ou apenas sexo. Tudo se misturava na minha cabeça e mesmo assim eu não queria estar perto da verdade.
Márcio: Bom dia... - sussurrou me apertando mais em seus braços e de repente eu me senti completamente sufocada pelo medo e por não querer acreditar que não se tratava apenas de um jogo. Como não percebi no que aquilo estava me levando? Não podia ser! Não comigo! Não com ele!
Pérola: Eu... eu preciso ir embora! - praticamente pulei da cama e isso o assustou
Márcio: Calma! - ele parecia atordoado com a situação. - Ainda é cedo.
Pérola: Não! É tarde demais. - saí apanhando as peças jogadas pelo chão. Eu precisava sair dali antes que não tivesse mais jeito.
Márcio: Claro que não! - ficou de pé revelando sua nudez e eu estremeci. - Mal amanheceu. Vamos tomar café e te prometo que iremos em seguida.
Pérola: Eu quero ir agora! - não se tratava das horas e sim da minha loucura. Eu não podia ter me apaixonado por esse cretino. Isso não estava acontecendo. Eu iria embora e essa loucura passaria.
Márcio: Diz o que foi? - tentou se aproximar - Estou ficando assustado.
Pérola: Não ouviu, seu cretino! - gritei - EU QUERO IR EMBORA AGORA! - ele tinha que ficar distante de mim. Não ia cair nessa cilada que era me apaixonar por um cafajeste que tem o sexo como religião. Eu nunca fui capacho de homem e não seria agora. Sempre fui dona de mim e do que sentia.
Márcio: Calma, sua maluca! - ele pareceu irritado e isso era o que eu queria. Podia lidar com qualquer coisa, menos com uma paixão por ele. - Eu só posso ser um idiota mesmo! - começou a se vestir mais rápido do que eu - Quando que uma diaba como você seria normal? O palhaço aqui disposto a ser verdadeiro. Querendo te mostrar que não sou o demônio que fiz parecer e você devia era estar se divertindo com tudo isso. Mas eu mereço! Mereço até mais por ser otário e ter me apaixonado por você. Sou um babaca!
Pérola: Repete... - fiquei zonza e o ar me faltou - Repete o que você falou!
Márcio: Não preciso repetir. - ele estava possesso e nem deve ter se dado conta do que acabou que confessar - Você mais do que ninguém me acha um babaca. Quer saber? Devo ser o maior deles.
Pérola: Não isso. - ele andava de um lado pro outro como se fosse explodir a qualquer momento. - O que você disse antes.
Márcio: A parte do palhaço ou a do otário? - riu sem vontade vestindo a camisa. - Para de ficar tirando sarro da minha cara e veste logo a porra dessa roupa. Agora quem quer ir embora sou eu!
Pérola: Márcio! - tentei chamar a sua atenção, mas ele saiu possesso do chalé me deixando ali parada. Será que eu escutei errado? O Márcio estava apaixonado? E por mim? Era por isso que ele estava diferente? Eu precisava saber a verdade e não iria sair daqui sem isso. Nem que fosse preciso torturar aquele cretino, ele iria falar a verdade.
Márcio
Dormi com um anjo nos braços e acordei com a filha do capeta cuspindo fogo. Não tem como isso dá certo. Não adianta tentar fazer aquela maluca enxergar algo verdadeiro em mim se ela já me taxou como um cretino. Não vou mais ficar nessa. Paixão deve passar. Se sofrimento passa, por que caralho paixão não vai passar?
A maldita ainda ficou querendo que eu repetisse que era um babaca. Deve sentir prazer em me atazanar. Usa e depois joga fora. Esse é o jogo dela, mas não será mais o meu. Saindo daqui eu vou esquecer que essa diaba existe. Tanta mulher por aí e eu fui parar logo nesse demônio com tpm permanente? Espero que o capeta aceite devolução. Nesse momento abro mão da sua filha. Porra de mulher louca!
Pérola: Escuta aqui - a maluca ainda acha que vou escutar alguma coisa vindo dela. - Você tá pensando que vai escapar de me explicar o que disse? - ainda colocou as mãos na cintura. parecia até minha mãe antes de me colocar de castigo. Palhaçada!
Márcio: Olha, eu só quero ir embora. - já estava de saco cheio desse poço sem fundo em que tinha caído. - Não foi você que exigiu que eu te levasse embora?
Pérola: Primeiro eu quero saber se é verdade. - danou-se! Dai-me um cavalo Senhor, porque a caroça é pesada demais para o burro aqui puxar. - Anda, cretino!
Márcio: Você é louca e quer me enlouquecer. - passei as mãos pelos cabelos. Vou ficar careca antes dos trinta. - O que você quer saber? Você se drogou enquanto eu dormia? Só isso explica essa noia matinal. Acorda berrando e fica nessa de repete, quero saber a verdade. Sai dessa vida de drogas, maluca! Vai por mim que a sua loucura é o suficiente. Não precisa de ajuda nenhuma.
Pérola: Você disse que está apaixonado por mim. - assim que ela falou a cena passou como um raio por minha cabeça. Na hora da frustração por não entender a loucura dela eu acabei falando o que não queria. Não agora.
Márcio: Vamos embora, por favor! - tentei entrar no carro, mas ela praticamente correu me segurando em seguida. - O que você quer com isso? Rir? Debochar? Ou sentir pena pela minha estupidez?
Pérola: Eu só quero saber a verdade. - ela parecia aflita à espera da minha resposta. Já fiz a merda mesmo, agora assumir não vai ser nada.
Márcio: Sim, eu me apaixonei por você. Não sei se foi entre a sua loucura ou nos intervalos em que você escolhia para mudar os xingamentos. Aconteceu e eu não sei de dizer o porquê ter sido por você. - ela me olhava e não era deboche que via em seus olhos. Estava mais para um medo que não soube naquele momento identificar a razão. Não sei se era pelo o que eu sentia ou se por ser ela a mulher por quem eu tinha me apaixonado. - O momento em que me dei conta também não faz diferença. O fato é que mesmo assustado pra caralho eu quis sentir isso. Respondida a sua pergunta? - ela não me disse nada. apenas me olhava como se eu tivesse chifres dourados. - O que você vai fazer com essa verdade pouco me importa. eu só quero sair daqui!
Chega! Não vou mais ficar correndo atrás dessa maluca. Está na cara que isso nunca dará certo.