Capítulo 45

2.1K 124 26
                                    




Márcio


A cada palavra que parecia entrar em mim como veneno, eu me sentia um nada. Ouvir tudo aquilo me atordoou. Parecia um pesadelo pensar que alguém tinha sido capaz de infligir tanta dor a outro ser humano, ainda sendo o pai desse ser. Olhava para ela abrindo sua vida para mim a pior fase de sua vida e nem conseguia imaginar o tamanho da dor que tudo aquilo causou. Quando ela me deu o golpe final, eu quase desabei. Ela tinha perdido um filho. Aquele filho de um puta era o pai do filho dela. Aquele animal não foi capaz de zelar por ela.

Sem saber o que fazer. Sentindo o ar fugir dos pulmões. Levantei perdido. Destruído por não ter o poder de tirar aquela dor dela. Sentia-me um lixo de homem. Incapaz de acalentar sua dor. Fazer tudo aquilo sumir. Trazer luz em meio àquela escuridão.

Pérola: Não me deixa... - ouvi sua voz suplicante e me amaldiçoei por ter trazido aquele medo a ela.

Márcio: Eu estou aqui, meu amor. - falei voltando a sentar ao seu lado. - E não pretendo sair. Eu só não sei como posso tirar essa dor de você e isso está me matando.

Pérola: Só fica comigo. - chorou mais ainda e eu a abracei. - A cada dia eu espero que doa menos, mas um pedaço de mim foi arrancado e isso eu não consigo superar.

Márcio: Eu nem sei o que seria capaz de fazer se seu pai aparecesse agora na minha frente. - meu corpo tremia e não tinha como controlar. 

Pérola: Naquele dia eu perdi tudo. - falou com a cabeça em meu peito. - Vi que a minha vida era uma mentira. Tudo o que eu achava que me pertencia, era uma grande farsa. Um noivado arranjado. Um noivo amoroso que só estava cumprindo um contrato. Um pai que me tinha como moeda de troca e um filho que eu nunca chegaria a ter nos braços.

Márcio: O Pedro sabia que você estava grávida? - por mais que isso doesse, eu precisava saber.

Pérola: Não. Nem eu mesma tinha certeza. Os enjoos matinais e o sono excessivo estavam me deixando com suspeitas, mas na verdade eu tinha medo de uma confirmação. Não por rejeitar aquela criança, mas por já ter em mente que Pedro me traía e que não era quem me mostrava ser.

Márcio: E como foi que tudo se resolveu?

Pérola: Naquela noite eu fui levada às pressas para o hospital. - continuou - Mesmo sobre os protestos do meu pai, que queria chamar o médico da família ao invés de correr o risco de ter sua reputação manchada, minha mãe foi firme e não abriu mão que eu fosse atendida corretamente. Quando dei entrada já era tarde demais para o bebê. A hemorragia tinha acabado com qualquer chance dele. Fui encaminhada ao centro cirúrgico e só acordei na manhã seguinte, rodeada por meus dois carrascos. Pedro trazia no rosto uma indiferença que me assustou. Eu já sabia que não me amava, mas aquele bebê não tinha culpa de suas mentiras. Meu pai tentou a todo custo contornar a situação. Para ele uma viagem para a Europa seria uma terapia e o casal voltaria a se acertar.

Márcio: E sua mãe?

Pérola: Ela só queria que eu aceitasse o ocorrido como uma segunda chance para ser feliz. Disse que não era a hora de uma criança entrar em meu relacionamento. Futuramente, casada, eu teria os filhos que quisesse e ninguém me apontaria o dedo.

Márcio: Canalhas! - me exaltei sentindo o sangue ferver nas veias.

Pérola: Eu perdi meu filho, mas acabei me libertando de qualquer culpa que eventualmente pudesse sentir pela decisão que havia tomado. Assim que Michael chegou eu não perdi tempo. Mesmo sob ameaças eu já tinha resolvido que seria a dona absoluta de minhas vontades e decisões. Saí daquela casa com a certeza que qualquer erro dali em diante, seria uma escolha minha e de mais ninguém. Nunca mais eu deixaria que me dissessem o que fazer. No começo não foi fácil. Eu estaria perdida sem Michael. De repente eu tinha um mundo para enfrentar e nem sabia por onde começar. Foi aí que vi que a vida me devia um recomeço. Eu não tinha concordado com aquela sujeira. Precisava encontrar meu caminho.

Meu Vício (PEROMAR)Onde histórias criam vida. Descubra agora