Capítulo 51

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Pérola



Após receber a ligação do hospital, Márcio saiu preocupado. Segundo o que ele havia entendido, alguns medicamentos de uso controlado haviam sido prescritos em seu último plantão sem a necessidade de uso de nenhum paciente que estava sobre sua responsabilidade. Era algo preocupante, porque ele disse que não tinha prescrito nenhum. Isso acabou me deixando apreensiva. Não sabia explicar o motivo, mas eu sentia que havia algo por trás disso e nem foi preciso pensar muito. A resposta ao meu questionamento estava parada diante da minha porta.

Pérola: O que você fez? - eu precisava saber mesmo que tivesse a certeza que não iria gostar.

Eduardo: Não vai convidar seu pai para entrar? - seu sorriso cínico meu deu calafrios. - Mostre que pelo menos a educação que lhe dei não foi perdida quando resolveu se misturar. - dei passagem e ele entrou com sua imponência que me dava nojo. - Temos um acordo para fazer.

Pérola: Eu não faço parte da corja que faz acordos com você. - disse sentindo minhas pernas perderem o controle. 

Eduardo: Nem se esse acordo for para salvar seu namorado? - esse era o ponto e eu sabia. No momento em que Márcio me contou o que estava acontecendo eu soube. - Parece que traficar medicamentos é a real vocação dele.

Pérola: Você não pode ter sido tão baixo. - senti meu sangue gelar

Eduardo: Eu? - sua fisionomia inabalável era de pura arrogância e crueldade. - Pelo que andei sabendo, o doutorzinho está em apuros e não vai demorar para encerrar a carreira que mal começou. Uma pena! Eu soube por amigos que os pais dele têm muito orgulho do filho, Mas é assim que os filhos nos agradecem. Veja você, tinha um futuro brilhante pela frente e simplesmente jogou fora.

Pérola: Eu vou provar que você está envolvido nisso! - tentei parecer segura, mas sua gargalhada me mostrou que o pavor que eu estava sentindo era visível.

Eduardo; A assinatura naqueles prontuários não é a minha. - sentou no sofá numa pose que demonstrava sua prepotência. - Um rapaz que vem de uma família tradicional, que teve tudo, cair desse jeito é até tocante. Uma prova de que caráter não vem com o brasão da família. Vou pensar muito nisso quando esse caso vier parar na minha mão. Um juiz honrado não pode deixar um traficante sair impune.

Pérola: O que eu tenho que fazer? - eu sabia que não tinha mais como fugir. Ele tinha descoberto a maneira de me ter nas mãos e usou.

Eduardo: Eu que pergunto. O que você faria para tirá-lo disso? Quero que tenha certeza de sua decisão.

Pérola: Tudo. - por ele seria capaz de qualquer coisa. - Só faz isso parar, por favor.

Eduardo: Pedro me contou que parece que tem um enfermeiro que está metido com coisas pesadas. Acho que no final irão descobrir que seu namorado caiu numa armadilha. Olha como as coisas são, médicos estão sujeitos a essas armadilhas.

Pérola: Eu te odeio! - falei sentindo o choro me tomar

Eduardo: Veja só... - levantou e se aproximou - Não me importo com tais sentimentos como amor e ódio. Tenho poder e isso é o suficiente para mim. Agora vou indo. Acho que você tem uma conversa importante para ter e não quero atrapalhar. A propósito... - se virou e me encarou antes de abrir a porta - Sua mãe está muito feliz com seu retorno. Ela mal pode acreditar que sua filhinha está de volta e segura do futuro que lhe aguarda. - não me contive e praticamente o empurrei para fora de meu apartamento. Mesmo com a porta fechada pude ouvir suas gargalhadas vencedoras. Eu estava prestes a me destruir e destruir o amor da minha vida e para meu pai era apenas um jogo de poder.


Mais tarde...


Passei o restante do dia tentado me preparar para o que eu tinha que fazer, mas foi só ver aquele rosto em minha frente que todas as minhas forças se foram junto com meus sonhos. Eu sabia que era o fim, mesmo que o tempo passasse, ele nunca mais seria o meu cretino. Aquele que fazia meu corpo queimar com seu toque. Aquele que me fazia sorrir mesmo sem motivos. Aquele que se tornou tudo estava prestes a sair da minha vida e levar com ele toda a cor.


Pérola: O que você tinha de tão urgente para me dizer? - falei tentando não olhá-lo nos olhos. - Parecia aflito.

Márcio: Aconteceram umas coisas no hospital e aparentemente eu assinei requisições de medicamentos que não foram administrados nos pacientes que estavam sobre minha responsabilidade. Deve ter havido um erro. Eu nunca requisitei. Só não entendo como minha assinatura foi parar naqueles papéis. Tem algo muito errado e eu tenho que descobrir.

Pérola: Se sua assinatura estava lá então não entendo qual a dúvida. - falei vendo ele me olhar quase que ofendido.

Márcio: Você não pode tá falando sério. Eu não assinei aquela porra! - praticamente berrou - Eu enfrento o inferno que vier, mas você não pode tá falando sério quando insinua uma merda dessa. Não você.

Pérola: Por que não? - sentia meu coração se partir. - Parece muito claro para mim. Que tipo de coisa você tá fazendo?

Márcio: Quê? Você só pode tá louca! - começou a andar de um lado pro outro com as mãos na cabeça. - Todo mundo enlouqueceu, é um pesadelo!

Pérola: Eu sei que isso acontece. - continuei ferindo a pessoa que mais amo nessa vida. - Já ouvi histórias de pessoas que vendem esse tipo de medicamento.

Márcio: Eu sou um traficante, é isso? - gritou e vi quando Débito se pôs a seu lado. - Você tá dizendo que eu intencionalmente peguei aqueles medicamentos  e vendi?

Pérola: Eu não... - não consegui continuar. Era cruel demais.

Márcio: Olha nos meus olhos e diz isso! - me puxou e eu quase caí em seus braços. - Fala porra!

Pérola: Não precisa mentir pra mim.

Márcio: Olha pra mim! Olha e diz!

Pérola: Gritar comigo não vai tirar sua culpa.

Márcio: Que culpa, caralho? - me sacudiu quase em desespero - Não eu fiz nada! Nada! Todos podem duvidar, mas você não. Não vou aguentar isso.

Pérola: Acho melhor você ir embora.

Márcio: Se eu sair por aquela porta é o fim. - já era o fim e ele não sabia. O fim do sonho. O fim de mim mesma. - Você acabou sendo a minha maior fraqueza. Os olhares de acusação que recebi hoje não me abalaram em nada. Nada que que fizeram teve o poder que suas palavras estão tendo. - suas lágrimas já rolavam. 

Pérola: A verdade é cruel pra você? Cometi um erro quando deixei você entrar, mas acabou. Sai da minha vida e me esquece. Você acabou sendo o meu pior erro. - dei o golpe final vendo meu amor me dar as costas e sair sendo acompanhado por Débito.

Meu Vício (PEROMAR)Onde histórias criam vida. Descubra agora