Capítulo 54

1K 81 32
                                    



Pérola


Depois de saber que a tortura permaneceria durante o jantar, com a vinda dos pais de Pedro, aproveitei para ligar para Michael e com a desculpa de resolver umas coisas pendentes para que pudesse fechar a floricultura, saí do inferno que minha mãe chama carinhosamente de lar.

Michael: Estava a ponto de invadir o Castelo de Bran  ( conhecido como o Castelo do Drácula) para te resgatar. - falou vindo ao meu encontro e me abraçando forte. 

Pérola: Não foi fácil sair de lá com a mente sã. - por alguns segundos respirei aliviada.

Michael: Você vai me contar tudo o que está acontecendo. - foi taxativo - Nem adianta vir com as merdas que falou pro Márcio.

Pérola: E ele, como está? - só de ouvir seu nome meu coração bateu descompassado.

Michael: Perdido e no momento com raiva de você. - falou me olhando sério - Tinha que ser assim?

Pérola: Infelizmente, sim. - a dor dentro de mim era quase mortal. - Eu não posso carregar a culpa de ter destruído a vida dele.

Michael: Mas pode carregar a de fazer sofrer quem te ama?

Pérola: Agora ele pode até está me odiando, mas tenho certeza que me odiaria ainda mais se soubesse do que meu pai foi capaz. 

Michael: Vamos sentar e com calma e sem esconder nada você vai me dizer tudo. - procuramos um banco mais afastado para conversar. Naquele horário, a pequena praça estava quase vazia.  Depois de nos sentamos eu procurei as palavras para dar início a história de terror que estava vivendo. Contei o que estava acontecendo e as consequências que tudo  traria para a vida de Márcio. Michael me olhava perplexo e ao final ficou quase sem reação. - Seu pai não tem limites, Pérola. É um horror atrás do outro. Meu Deus!

Pérola: O Márcio nem pode desconfiar disso, ouviu Michael? - senti um arrepio só de pensar no desastre que seria se ele descobrisse.

Michael: Ele não é idiota, meu amor. Agora as coisas estão confusas e recentes.  A dor da perda não está deixando que ele pense com clareza, mas esse momento vai chegar e será somente uma questão de tempo até que ele junte cada peça e saiba que seu pai está por trás disso.

Pérola: Eu queria tanto ouvir pelo menos a voz dele... - a saudade já me matava pouco a pouco.

Michael: Então respira fundo. - falou tirando o celular do bolso. Assim que ouvi o toque da chamada, todos os momentos de felicidade que passei ao lado do meu amor vieram sem aviso. Forte. Saudoso. Inquietante. 

Márcio: Michael! Notícias dela? - sua voz invadiu como um feixe de luz naquela escuridão.

Michael: Ainda não. - mentiu vendo minhas lágrimas caírem feito uma tempestade. - Liguei para saber dos meus dois amigos. - nesse momento imaginei como Márcio estaria lidando com o Débito e sorri.

Márcio: Tentando juntar os pedaços. - senti sua voz falhar. - Mas sinceramente não está sendo fácil. Nem sei te dizer o que dói mais. Se é a saudade, a mágoa ou a possibilidade de ter sido mesmo o fim.

Michael: Não posso nem imaginar... - me olhou como numa súplica. Seus olhos pediam para que eu acabasse com aquela agonia, mas eu não podia. Mesmo que a minha vontade fosse gritar que eu o amava e que tudo não tinha passado de um engano, eu não podia. - Você se incomodaria se eu fosse hoje a noite em seu apartamento? - o que ele estava pretendendo?

Márcio: Te espero.

Michael: Fica bem e até a noite. - ele não respondeu e ouvir a chamada sendo encerrada foi mais um golpe difícil de aguentar.

Meu amigo me abraçou vendo  eu deixar o choro sair como uma forma de permanecer e me sentir um pouco humana. Já que tudo estava me levando para um caminho sem volta e principalmente sem vida.

Depois de minutos que não sei precisar, as lágrimas e o pranto cessaram. Não que eu não sentisse mais a dor da perda de um amor, mas porque minhas forças me abandonaram em cada lágrima derramada em seu ombro.

Pérola: Eu preciso voltar. - não queria levantar suspeitas. 

Michael: Eu vou te tirar dessa lama. - me garantiu e eu sabia que faria até o impossível para cumprir. - Confia em mim.

Pérola: Confio.

Michael: Ah! Já ia esquecendo - falou agitado tirando uma sacola da mochila que carregava. - De agora em diante falaremos por esse celular. Mafioso como seu pai é, não irá demorar a vasculhar suas mensagens e ligações. Esconde aonde nem o gênio da lâmpada será capaz de achar. Qualquer coisa, por mais boba que possa parecer, você me informa. Tenho uma pessoa de total confiança trabalhando naquele hospital. Ele está fazendo uma pequena investigação sobre o ocorrido e assim que tiver notícias eu entro em contato com você.

Pérola: Isso é muito perigoso, Michael - temi por meu amigo - O Pedro também está metido nisso.

Michael: Claro que aquele desalmado está. Não duvidei nem por um segundo que ele não compactuaria nessa sujeira. 

Pérola: Cuida deles? - pedi

Michael: Cuido e prometo que logo vocês três estarão juntos novamente. - beijou meu rosto e nos despedimos.


A noite...


Cheguei a sala pronta para mais um ato da tragédia grega. Envolvidos em uma conversa que nem me interesse em saber do que se tratava, estavam meus pais, Pedro e seus pais. Minha mente me transportou para anos atrás, quando esses momentos eram rotineiros e senti meu estômago embrulhar com as lembranças.

Pérola: Boa noite. - saudei seca e ouvi a retribuição falsa mascarada por sorrisos ensaiados.

Eduardo: Olha como nossa menina continua linda, Rosana. - falou com a mãe de Pedro. 

Rosana: Me atrevo a dizer que ainda mais linda. - veio ao meu encontro e me envolveu em abraço que não consegui retribuir. - Como você está, minha querida?

Pérola: Respirando. - falei e ouvi a tosse falsa de meu pai me advertindo.

Isadora: Minha princesa sempre gostou de fazer piadas. - ela tentou contornar a situação, pois a tosse de meu pai era o seu comando para agir. - Esses jovens não perdem o humor.

Pedro: Nem parece que estávamos juntos há poucas horas. - o grilo falante deu o ar da graça. - Estava morrendo de saudade.

Eduardo: Veja, Alfredo - tocou o ombro do boneco de Olinda que Rosana chamava de marido. - Já fomos românticos assim.

Alfredo: Bons tempos. Nossa única preocupação era agradar a mulher amada.

Eduardo: Não vai dizer nada para o seu noivo, Pérola? -  tudo girou ao meu redor.

Pérola: Quê? - que pesadelo cruel era aquele?

Pedro: Quis falar com você mais cedo - tomou a palavra como se estivesse em um palanque discursando em sua posse. - Mas seu pai quis fazer um encontro com nossas famílias, assim como na primeira vez.

Pérola: Isso é uma piada, né? - olhei para meu pai que continuava com sua calma disfarçada. 

Eduardo: Tem certeza que irá por esse caminho? - sua ameaça estava lá por trás de seu sorriso de pai amoroso e compreensivo. 

Pedro: Meu amor... - ficou parado a minha frente e só naquele momento vi a caixinha preta em sua mão. - Assim como quando tínhamos dezenove anos, eu te prometo amor. Prometo ser seu, como você sempre será minha. - tudo era por isso. Esse era o real motivo de ter sido trazida de volta. A minha gaiola estava a minha espera. Minhas asas estavam sendo cortadas e eu não podia fazer nada. - Construiremos nossa família tendo como exemplo nossos pais. - pegou minha mão e sem que pudesse impedir, senti minha sentença de infelicidade deslizar em meu dedo anelar. E assim eu vi tudo diante de meus olhos se transformarem em dor e tristeza.

Meu Vício (PEROMAR)Onde histórias criam vida. Descubra agora