Pérola
Fiquei ali ouvindo minha mãe falar como iríamos agir e me perguntando se aquela transformação realmente tinha acontecido. Ver que ela parecia segura de sua decisão me pareceu arriscado. Não tinha certeza se de fato ela teria coragem de prosseguir. Afinal era uma mulher ferida pela traição, mas ainda sim, era alguém que viveu sob o domínio de meu pai por décadas.
Márcio: Pérola? - chamou minha atenção interrompendo a conversa. - Está tudo bem?
Pérola: Sim. - falei sorrindo meio desconfortável.
Isadora: Sei o que deve estar passando na sua cabeça, filha. - me olhou como se há segundo atrás pudesse ter lido minha mente e ouvido meus questionamentos. - Mas pode ter certeza que eu irei até o fim. Não vou negar que parte disso se deve ao fato de estar me sentindo usado por anos, porque é assim que me sinto... porém sei que a mais prejudicada nessa história toda foi você. A minha omissão, ou melhor, submissão tem a maior parcela de culpa nisso.
Pérola: Mãe...
Isadora: É verdade. Só quero fazer o certo. Talvez ao final de tudo você possa me perdoar por não ter sido a mãe que você sempre mereceu.
Pérola: Eu não tenho do que te perdoar, mãe. Fomos apenas peças que ele achou que podia manipular de acordo com suas necessidades. Vamos deixar a culpa e julgamento para trás. O importante é daqui pra frente.
Márcio: Deveríamos pegar esses documentos ainda essa noite. Acho arriscado esperar mais. - ele parecia ansioso
Isadora: Amanhã entregarei tudo a vocês. Peço que compreendam que preciso dessa noite a sós. Preciso de um momento comigo mesma.
Márcio: Acho que ... - assim como eu, ele temia que ela acabasse desistindo.
Isadora: Amanhã. Eu prometo que estarão com tudo em mãos amanhã logo cedo. A parte mais difícil foi abrir meus olhos para tudo, mas agora que fiz não vou mais fingir que nada está acontecendo. Confiem em mim.
Pérola: Tudo bem. - concordei pegando em sua mão. - Melhor irmos.
Isadora: Fique com seu namorado essa noite. - a surpresa me pegou. - Sei que é disso que precisa no momento.
Pérola: Mas meu pai pode ligar e...
Isadora: Deixe que com ele eu sei lidar. A vantagem de ser uma esposa obediente é que sempre estou acima de qualquer suspeita. Vou indo.
Márcio: Muito obrigado, Isadora. - falou ficando de pé junto com minha mãe. - Sei que o agradecimento é pouco, mas é verdadeiro.
Isadora: Quem agradece aqui sou eu. Enquanto os olhos da minha filha tiverem esse brilho, eu estarei agradecida a você.
Acompanhei minha mãe até a porta e me despedi. Sabia que ela estava querendo apenas chorar suas dores sozinha. Testemunhas nesses momentos só nos deixam mais fracas e mais expostas aos nossos erros.
Márcio: Ela vai ficar bem. - falou me abraçando por trás e beijando meu pescoço.
Pérola: Eu torço que sim. Não deve ser fácil depois de tantos anos descobrir que o marido tem outra família.
Márcio: Você não fica curiosa em conhecê-los?
Pérola: Ainda não estou preparada para isso, mas sei que um dia será inevitável. - me virei e enlacei seu pescoço. - Agora quero apenas esquecer tudo isso. Tem alguma ideia como isso pode acontecer?
