Márcio
Quando decidi ir àquele baile, tinha em mente apenas provar para Pérola o quanto ela havia sido injusta comigo, mas foi só ver o galã da polaroid com as patas em seu corpo para o Márcio primitivo tomar conta de mim. Não sei a dimensão do poder que a diaba tem sobre mim, mas desconfio que ela me tem por inteiro. Sem restrições ou qualquer rachadura de um eu que nem conheço por completo.
Quando dei por mim já estava prestes a cometer um desatino e quebrar a cara do escroto na frente de todas aquelas pessoas. Não seria uma atitude inteligente, sabendo que boa parte da plateia conhecia minha família e que aquilo seria um escândalo aos olhos de meus pais. Foi preciso um controle para não deixar minha raiva fazer o serviço, mas consegui e quando a levei para aquele banheiro, essa raiva se transformou em tesão.
Nem tinha noção do quanto senti a sua falta até que a preenchi e me senti vivo e inteiro como só conseguia estar se fosse com ela. Pérola era a minha cura e desgraça ao mesmo tempo. Se parte de mim era mais livre e feliz com ela, a outra metade era total confusão e perdição.
Márcio: Precisamos conversar. - falei enquanto a vi tentar disfarçar a cara de quem tinha acabado de ser bem fodida.
Pérola: Agora você acha necessário uma conversa? Podia ter sugerido antes de praticamente ter me fodido no meio daquele salão.
Márcio: Sem provocações. - alertei - Já chega de jogos. Não funcionou desse jeito e nos levou para um caminho quase sem volta.
Pérola: A culpa é minha agora? - era difícil fazer a maluca enxergar que tinha errado, mas eu não iria desistir tão fácil.
Márcio: A culpa é da falta de confiança. - decretei e vi mesmo em silêncio ela concordar. - Vamos sair daqui. - peguei em sua mão e dessa vez ela não resistiu.
(...)
Ainda travamos uma pequena discussão na escolha do local para a conversa. Pérola quase explodiu quando sugeri ir ao meu apartamento. Provavelmente mesmo sabendo a verdade,ainda ligava o local ao acontecido e confesso que até para mim viver ali estava difícil. Então acabamos indo parar em seu apartamento e para coroar a noite, fui recebido pelo medonho que insistiu em ficar se enroscando na minha perna.
Pérola: Fica a vontade. - falou pegando nos braços a pequena aberração pelada. - Vou acomodar o Débito lá dentro antes que ele queira fazer filhotes em você.
Márcio: Pedacinhos do demo, você quer dizer, né? - saiu sem que eu pudesse conter.
Pérola: Crias sua não poderiam ser diferentes. - não tinha jeito, a última espetada tinha que vir do tridente dela. Diaba atrevida!
Aproveitei para olhar o local com mais calma. Quando estive aqui estava com a cabeça em outro objetivo e só agora me dava conta de como Pérola gostava de fotos. Haviam muitas espalhadas pela sala. Até quando era uma pequena diabinha, ela era linda. Aquele sorriso podia fazer o mundo parar de girar. Me peguei sorrindo só de imaginar o que ela tinha aprontado na infância.
Pérola: Bisbilhotando, Márcio Porto? - falou chamando a minha atenção. - Coisa feia!
Márcio: Você até parecia um anjinho. - disse me virando para ela.
Pérola: Não se engane.Anjos podem ser diabinhos disfarçados.
Márcio: No seu caso não duvido.
Pérola: Eu queria te pedir desculpas pela forma como reagi naquele dia. - ela falou e vi sinceridade e vergonha em seu olhar. - Sei que devia ter escutado o que tinha para me dizer, mesmo que não fosse acreditar.
Márcio: Sabe por que não ouviu? - sentei no sofá e ela fez o mesmo negando a minha pergunta. - Porque não há confiança entre nós. Sei que começamos de uma maneira louca, mas mesmo sem querermos um sentimento nasceu. Devíamos ter deixado as coisas claras, sem margem para enganos e pré- julgamentos.
Pérola: Sinceramente não vejo como poderíamos ter feito isso.
Márcio: Primeiro assumindo uma relação de verdade. - falei firme - Somos adultos e temos bagagem , Pérola. Sabemos o que queremos e não devíamos ter deixado o medo ser o cursor de tudo. Pra mim também foi assustador me descobrir apaixonado por você, mas não vejo como poderia ter sido diferente. Estava na cara que era o que iria acontecer. Ninguém nunca mexeu comigo como você. É uma mistura de frustração e paixão que me deixa zonzo, mas eu não quero deixar de sentir isso. Você me frustra com seu temperamento louco, mas ao mesmo tempo é isso que me instiga a querer te surpreender e nessa quebra de braço eu sempre fico de joelhos. Sempre aos seus pés. E por mais louco que possa parecer, isso me faz bem.
Pérola: Ouvindo você falar até parece que está descrevendo o que eu sinto. - me surpreendeu com essa afirmação; - Por mais que eu queira, não consigo te tirar dos meus pensamentos. Tenho vontade de me socar, mas também não quero deixar de sentir.
Márcio: E esse é o nosso ponto fraco. A necessidade que temos de ver as coisas entre nós sempre como algo que não vai dar certo e isso foi a brecha que Catarina encontrou para fazer o que fez. Ela sabia que você não acreditaria em mim.
Pérola: Nem fala dessa puta que tenho vontade de fazer uma loucura. - falou se remexendo, mostrando seu desconforto.
Márcio: Catarina vai encontrar sua própria punição. Disso eu tenho certeza.
Pérola: Ela podia ter te causado um mal maior, Márcio. - se alterou - A dosagem poderia ter acarretado danos à sua saúde.
Márcio: Eu sei e pode ter certeza que pensei em fazê-la pagar por isso, mas vi que isso só faria com que ela ocupasse um lugar na minha vida e dela só quero distância. Não quero lembrar da existência dela e isso foi o que fiz. Agora eu quero acertar os ponteiros com quem realmente me interessa: você.
Pérola: Pretende fazer isso como? - me olhou com um sorriso tímido no rosto. É uma diaba mesmo!
Márcio: Pedindo para que você seja minha namorada. - vi seus olhos quase saltarem. - Quero rótulos e tudo que vem junto com eles. Se ser seu namorado é viver nessa montanha-russa de emoções. Levar tapas como uma criança. Aguentar sua boca atrevida. Me perder no seu corpo. Eu quero isso pra mim. E você?
Pérola: E... eu? - levantou mostrando todo o seu nervosismo.
Márcio: Sim. E você?
Pérola: Eu... eu quero ser sua namorada, cretino. - agora era só esperar para o inferno arder em chamas, porque a diaba era minha namorada.
