Pérola
Depois da conversa que tive com Igor foi muito difícil dormir. Eu não fui de correr de nada. Sempre encarei meus medos e fiz de cada um, desafios a serem vencidos. Sei que essa pedrada no meio da cabeça era inusitado, mas estava na hora de pagar pra ver. Márcio realmente foi muito sincero. Não tinha como eu estar enganada em relação a isso. Tinha?
Lógico que não iria ser fácil admitir para ele que também estava sentindo algo, mesmo que não fosse essa minha intenção, mas eu não iria me esconder e fingir que nada havia acontecido.
Passei o dia seguinte todo tentando achar uma melhor forma de ter uma conversa com ele. Sem rodeios e nem provocações. Uma conversa adulta e que me trouxesse a certeza do que faria dali em diante.
A noite me vesti de coragem e decidida cheguei a conclusão que iria procura-lo e expor tudo. A verdade sempre foi o melhor caminho para encontrar solução. Então era com essa verdade que eu iria até seu apartamento e encararia os fatos e sentimentos.
Pérola: Me deseja sorte e juízo, Débito. - acariciei meu amigo - Com aquele cretino preciso de juízo dobrado. -É isso aí, garota! Encara a fera. Afinal um chicote você sabe usar muito bem.
E com essa determinação segui ao encontro do meliante gostoso. Quando já estava de frente ao seu prédio tive a ideia de ligar para Maria Alice. Depois do nosso último encontro, duvidava que Márcio quisesse me ver e não estava a fim de ser barrada na portaria. Ela poderia me ajudar nisso. Agora estava a espera de seu retorno. Ela ficou de ligar para Márcio e pedir que ele liberasse a entrada de uma amiga que queria falar com ele sobre um estágio. No caso a amiga era eu e o estágio a mentira da conversa.
Não demorou para que ela ligasse dizendo que estava tudo certo. Eu só teria que falar que ele estava a minha espera. E foi o que fiz. O porteiro me olhou e tenho certeza que deve ter me reconhecido. Já estive aqui antes, mas cara de pau é mais uma de minhas qualidades. Corri para o elevador vendo que as portas estavam prestes a serem abertas. Esse foi o meu erro ou o meu melhor acerto. Não sei dizer ao certo como deveria classificar ainda.
Senti como se estivesse diante das portas do inferno. O próprio capeta me olhou e não estava só. A seu lado a noiva cadáver sorria feito uma hiena e não pude deixar de notar o braço dela em volta do corpo do cretino. Sou uma burra por ter pensado que esse bastardo tinha jeito.
Márcio: Pérola? - ele não escondeu o espanto ao me ver.
Pérola: Isso é piada, né? - uma fúria me tomou e fiquei cega. - É assim que você se diz apaixonado por mim?
Márcio: Não é nada disso que está passando pela sua cabeça. - o desgraçado ainda tentou mentir.
Catarina: Quem disse que ele está apaixonado por você? - a filhote de cruz credo com dor renal falou toda altiva.
Pérola: Cala a boca, ariranha no cio. - falei trincando os dentes. - A conversa é com o cretino aqui.
Márcio: E você vai me deixar falar, ou vai me bater de novo? - veio querendo chegar perto.
Pérola: Não! Quem tem que levar uma surra por ser burra, sou eu - realmente eu merecia isso e muito mais. - Tão apaixonado que já estava com o sr. Pinto Pequeno já enterrado no lixo.
Márcio: A Catarina é somente minha amiga. - amiga de foda eu não duvidava. - Ela veio... - a puta de salto agulha interrompeu
Catarina: Você não tem que se justificar pra ela, Márcio.
Márcio: Não se mete, caralho! - berrou e a sonsa olhou ofendida. - Aqui não é lugar para termos essa conversa. Vamos subir e conversamos. - tentou pegar em minha mão, mas o nojo que eu estava sentindo não tinha tamanho. - Por favor, Catarina. Vai pra casa que eu preciso conversar com a Pérola.
Pérola: Não vai conversar comigo, porra nenhuma. - essa era boa! Ele pensa que sou otária?
Márcio: Vou sim! Não age como uma criança mimada que sei que não é. Escuta pelo menos o que tenho pra te dizer.
Catarina: É patético te ver implorando atenção. - a puta de salto agulha ainda cacarejou.
Márcio: Catarina, pela última vez - o cretino parecia possesso. - Vai embora, porra! - agora até eu tremi. Sabe cachorro amedrontado que coloca o rabinho entre as pernas quando sabe que fez merda? A ariranha estava igual. - Agora somos só nós dois.
Pérola: Errado, cretino! Nunca mais caberemos na mesma frase. Essa palhaçada acaba agora. Não me procura mais. Esquece que eu existo, porque eu já esqueci que um dia tive a infelicidade de te encon... - não tive tempo de terminar. Senti meu corpo sendo praticamente arremessado contra a parede fria. Minha boca foi saqueada pela fúria da sua. Juro que tentei lembrar do que tinha visto aqui, mas minha língua estava jogando no time adversário e me traiu.
Márcio: Tá mais calma? - falou assim que soltou meu lábio.
Pérola: Você acha que estou nervosa? - tentei falar sem que ele percebesse o quanto aquele beijo tinha me afetado.
Márcio: Por favor, vamos conversar? Se não quiser subir podemos ir para um lugar a sua escolha. Só me deixar falar o que a Catarina veio fazer aqui. Por favor!
Pérola: Podemos subir. - Era bom mesmo saber até onde esse cretino era capaz de ir com suas mentiras.
Assim que entramos no apartamento eu fiz uma varredura digna de um agente do FBI. Aparentemente na sala eles não tinha acasalado. O que restava o quarto e só em pensar nisso, meu estômago embrulhou.
Márcio: Quer beber alguma coisa? - falou assim que fechou a porta.
Pérola: Não! Quero que fale logo.
Márcio: Posso pelo menos sentar?
Pérola: A casa é sua e não minha. - eu já estava sentada mesmo. Nem esperei que fosse educado e oferecesse.
Márcio: A Catarina está com uns problemas familiares. - começou a falar. - E como sou amigo de seus pais ela achou que eu pudesse ajudar.
Pérola: Virou terapeuta familiar, cretino?
Márcio: Essa é a verdade, Pérola. Não tem o porquê de eu mentir.
Pérola: Mentir não é problema pra você, lembra?
Márcio: Meus sentimentos por você são verdadeiros. Não sei mais como fazer para que acredite.
Pérola: Você queria falar e eu aceitei escutar. - falei me levantando - Já falou e já escutei. Boa noite!
Márcio: Você só vai sair daqui quando me disser o que te fez vir. - Fodeu!