Roubo

Capítulo XIII

Era tudo culpa de Bofur.

Thorin teria sido capaz de se concentrar em seus deveres se não fosse pelo anão que continuava aparecendo em todos os cantos. Uma vez ele estava visitando Bifur na enfermaria, e também  nos portões - o fato de que neste caso ele estava exatamente onde deveria estar, não confortou Thorin; depois, no refeitório e em algum corredor anônimo no terceiro nível da Montanha. Dwalin não pareceu se importar, não realmente, talvez porque Bofur não tivesse tentado levar mais longe seu desacordo. Na verdade, Bofur não havia falado nada além das saudações habituais e alguma comunicação sobre o estado do trabalho em relação ao seu projeto de lavanderia.

No entanto, a mera visão do fabricante de brinquedos deixou Thorin inquieto.

Não foi sua consciência sacudindo a reprovação que recebera naquela mesma manhã. Era uma sensação de aborrecimento com a ideia da quantidade de tempo que Bofur passava na sala do tesouro. Ele sabia há algum tempo da simpatia entre Bofur e o ladrão, desde aquela noite nas Montanhas da Névoa, quando o halfling pretendia deixar a companhia e Bofur estivera de vigia.

Não importava, obviamente. Deixe o halfling manter seus amigos .

Mas as aparições de Bofur acabaram lembrando-o do ladrão aprisionado no grande salão. Os esforços de Thorin para evitar pensamentos sobre o halfling foram conseqüentemente desapontados. Depois do jantar, o rei fechou-se em seus aposentos, sem sequer parar para falar com Balin como costumava fazer à noite.

O som de flautas e risos morreu atrás das portas fechadas do seu quarto. Ele andava de um lado para o outro em passos largos, como um selvagem em uma armadilha, murmurando xingamentos em Khuzdul em voz baixa.

Ele recorreu ao Arkenstone: ele levantou-o contra a luz de uma vela e se perdeu no flare sempre em mudança que floresceu das profundezas da pedra. Não sabia quanto tempo passara simplesmente admirando a beleza do Arkenstone, mas, quando virou a cabeça, seu sangue roncava em suas veias e apressou-se a empurrar a gema no compartimento secreto.

Então Thorin estava saindo de seus aposentos

Os guardas na porta do tesouro não se abalaram com a visão do Rei sob a Montanha. Eles tinham sido escolhidos por sua lealdade e discrição e foi preciso apenas um gesto de Thorin para mandá-los embora. Eles não discutiram sobre suas ordens - ambos eram descendentes de famílias que haviam servido a Thrain e Thror antes dele e se juntaram aos anões das Colinas de Ferro somente após a chegada de Smaug: eles foram criados para obedecer ao rei legítimo e eles não o expunham .

Embora parte do grande tesouro tivesse sido entregue aos elfos e aos homens, sua vastidão parecia pouco solapada: colinas de ouro puro e uma flor de joias intrincadas acolhem o Rei sob a Montanha. Uma profunda emoção queimava em seu corpo ao ver o precioso tesouro, que era seu para olhar, tocar, e até desperdiçar. Thorin fechou os olhos, saboreando o poderoso sentimento vindo da propriedade - não era apenas sobre o que o ouro poderia comprá-lo, pois era importante da mesma forma que seus olhos e mãos: parte dele, sinal de seu status e de seu direito ao trono - ele tinha sido forçado a reconquistá-lo para se sentir inteiro novamente. A Pedra Arken era o coração da Montanha Solitária, e não havia diferença entre o rei e a montanha, o governante e seu reino; então o Arkenstone era o coração de Thorin e ele não queria se separar mais do que ele queria perder uma mão ou um olho. E o tesouro, oh, o tesouro era o sangue cantando em suas veias.

Thorin suspirou baixinho, contemplando o tesouro com a ternura de um amante, e parou várias vezes para examinar uma joia requintada ou um punhado de diamantes rosa.

Mais tarde, ele disse a si mesmo que fora o trabalho de Bofur e o ladrão - ele teria se contentado em andar entre seus tesouros, se o halfling não aparecesse atrás de uma pilha de ouro.